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O jogo de carteado no Clube Comercial de Lorena

03/12/2015

O Estatuto de 1937 do Clube Comercial de Lorena estabeleceu como um dos fins da Associação a promoção de jogos lícitos.
O jogo sempre foi a distração social de senhores mais velhos, que não mais frequentando bailes ou praticando esportes, nele encontravam uma maneira de preencher o tempo e de encontrar amigos à volta de uma mesa.
Desde a sua fundação, o Clube manteve, no pavimento térreo, duas salas de jogos.  Posteriormente, o jogo instalou-se no pavimento superior, atrás do palco. Os dois funcionários do jogo mais conhecidos na época da antiga sede foram o Brucutu, que morreu cedo, e o Lindolfo, que chegou a trabalhar na nova sede, pedindo as contas depois de trinta anos de casa.
Os participantes do jogo de carteado de outrora foram os senhores Américo Nogueira, Thomas Alves Figueiredo, Avelino Bastos, Sebastião Batista Torres, Antônio Tisséo, Mário Figueiredo, José Miguel, Alberto Peralta, Salim Félix, Silvio Junqueira, Gabriel Ferreira Leite, Eduardo Miguel, Giuseppe Galante, Jorge Salomão, Antônio de Godoy Netto, Balthazar Bueno de Godoy, Fausto Marcondes Almeida, o velho Gurpilhares e muitos outros.
Como em todas as salas de jogo, existiam alguns jogadores compulsivos, frequentadores assíduos que não gostavam de afastar-se das rodadas que avançavam noite adentro.  Um desses jogadores era um médico que relutava em sair da mesa de jogo, mesmo para atender às emergências da profissão.  Sobre ele e sua paixão pelas cartas, corria uma anedota contada no âmbito do Clube.  Alguns associados diziam, com certo exagero, que certa vez foram chamá-lo na sala de jogo para atender a uma doente.  Auscultando-a contrariado, ele teria começado a contar: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, valete, dama, rei…
Em seguida, logo veio o diagnóstico:
– A senhora está com um coringa no estômago!
Outro personagem interessante era o Alberto Peralta, que nem sempre ganhava no jogo, mas dizia invariavelmente:
– Não bati, mas olha o tamanho do meu jogo!
Era comum o pessoal do jogo ficar na praça até as dezenove horas e depois de ir tomar o tradicional cafezinho no bar do Comercial, para logo depois iniciar o jogo da noite.
Em 1958, o jogo no interior do Clube chegou a ser proibido por um juiz de Direito, que entendeu que ele se realizava na proximidade de menores. Assim, foi alugada uma casa para o mesmo, na rua Major Oliveira Borges, ao lado do Clube. Posteriormente, esse imóvel foi comprado e acrescentado ao patrimônio social.
Desde o começo do jogo de carteado na Associação Comercial, houve queixas contra o pessoal que o praticava, principalmente contra o seu palavreado.  No ano de 1977, o presidente do Clube pediu aos seus diretores para que sugerissem uma maneira de se conduzir uma campanha de melhoria do comportamento dos associados na sala de jogo. Queixas também existiam contra os seus funcionários: numa reunião de 10 de outubro de 1979, um diretor solicitou providências quanto ao hábito dos cacifeiros ingerirem bebidas alcoólicas no horário de serviço.
Para terminar, por que não contar um episódio sobre o jogo que passou para a história da sociedade?  Vamos contá-lo sem revelar o nome do personagem que o protagonizou.
Existia no Clube um funcionário muito bronco chamado Joaquim Português, que ao atender ao telefone dizia, malcriado:
– Alô digo eu!  Com quem quer falar?
Pois certa vez, veio jogar um indívíduo com o mesmo nome de um dos jogadores do Clube, um senhor de meia-idade, muito distinto, que gostava de andar de terno e cachecol aos ombros.  Homossexual que escondia a sua condição, ele não tolerava a mais leve insinuação a esse respeito.
Foi quando tocou o telefone. O Joaquim Português foi atender com a grossura de sempre e voltou à mesa de jogo dizendo que queriam falar com um dos homônimos.
– Com qual dos dois? – perguntaram.
– Com o viado! – ele respondeu.
Dizem que foi difícil tirar as mãos daquele distinto senhor do pescoço do funcionário sem sensibilidade e tato…

COLUNISTAS / Olavo Rubens

Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.


olavo.rubens@hotmail.com

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