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COLUNISTAS / Café sem censura

Novamente as chuvas causando estragos

16/01/2016

Mais uma vez a cidade de Lorena sofre com chuvas de intensidade muito acima do que é esperado para um curto intervalo de tempo, causando sérios transtornos. Com o grande volume de água que caiu nos últimos dias, ruas alagadas foram registradas por toda a cidade e muitas famílias perderam seus pertences, pois tiveram suas casas inundadas.

Pouco mais de um ano atrás, escrevi sobre esse tema (http://olorenense.com.br/2014/12/22/ate-quando-sofreremos-com-as-enchentes-em-lorena/), quando também tivemos problemas de inundação devido à chuva forte. E mais uma vez volto a falar sobre isso, pois fico com a sensação de que nada tem sido feito e até que as desculpas continuam as mesmas: a culpa é da população, que joga lixo nas ruas, e de São Pedro, que fez chover muito.

É claro que algumas pessoas sem nenhuma educação e consciência têm sua parcela de responsabilidade, pois inunda nossas ruas e calçadas com lixos, entulhos de construção, podas de árvores, etc., que acabam acumulando-se nos bueiros, dificultando e até impedindo o escoamento da água. Mas vale registrar também alguns questionamentos ao poder público: A limpeza prévia das bocas de lobo está sendo realizada com frequência, sobretudo nessa temporada de chuvas? O lixo comum tem sido coletado dentro do horário, não ficando acumulado nas calçadas? A fiscalização tem sido atuante para impedir que lixos e entulhos sejam descartados em locais inadequados? As margens de nossos rios estão sendo limpas?

Que uma pequena parte da população tem colaborado para agravar a situação é fato, mas não é justo que todos os demais habitantes da cidade sofram as consequências dos erros cometidos por uma minoria. Além disso, as causas desse problema vão muito mais além da falta de consciência e educação de algumas pessoas.

“Ah! Mas choveu em alguns dias o que era esperado para o mês inteiro”, dirão alguns que querem se eximir de responsabilidade. E quando foi que isso não aconteceu? Todos os anos, essa grande precipitação de água em curto intervalo de tempo acontece. E há tempos os especialistas vêm alertando que, devido às mudanças climáticas que ocorrem em todo o planeta, os fenômenos naturais acontecerão com mais intensidade e frequência.

Citando um comentário que li em um grupo de discussão “Obras não deveriam ser baseadas no volume esperado para o mês e sim nos picos esperados em um dado período. Todo ano tem uma chuva mais complicada em algum dia. As obras deveriam ser capazes de lidar com esse volume. Seria interessante anotar que choveu metade do volume esperado para o mês e quando for fazer alguma obra, se basear nesse volume. Chuva não é uniforme e não adianta pegar o volume esperado para o mês, dividir por 30 e considerar que esse vai ser o volume que o sistema de escoamento precisa comportar”.

Portanto, diante desses alertas e já contando com experiências anteriores, todo o sistema de drenagem do município deveria ser dimensionado para suportar as condições mais extremas.

Estamos sofrendo as consequências de décadas de descaso e falta de planejamento de nossos governantes, que não investiram na criação de uma rede coletora de águas pluviais capaz de minimizar ou evitar esse tipo de problema. A cidade se expandiu e se impermeabilizou, assim como o número de habitantes aumentou e, consequentemente, o número de residências e novos bairros. E nosso sistema de drenagem, construído décadas atrás, tornou-se subdimensionado (na verdade sempre foi). E não vemos nenhuma ação voltada a mudar esse quadro.

Estamos pagando o preço pela intervenção do homem no meio ambiente, pela ocupação desordenada e não planejada de um território. E aqui deixo algumas questões para reflexão:

Qual segmento da sociedade é o responsável por coordenar e orientar o crescimento e desenvolvimento urbano do município?

Qual segmento é o responsável por autorizar e aprovar loteamentos sem a infraestrutura necessária e adequadamente dimensionada para suportar os efeitos dos fenômenos naturais?

Qual segmento é o responsável por planejar, construir e reformar um sistema de drenagem adequadamente dimensionado para suportar as condições naturais mais extremas e que ocorrem com frequência?

E oportunidades para se discutir esse tema e buscar soluções adequadas e definitivas não faltaram. Em dezembro de 2013, esteve disponível – em consulta e audiência pública – o Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico, que entre outras abordagens, apresentou o diagnóstico da situação atual do município e, principalmente, as diretrizes para a elaboração de objetivos, metas e plano de ações a serem desenvolvidos nos próximos anos para as seguintes áreas: abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos e “drenagem e manejo das águas pluviais urbanas”.

Segundo o Plano de Saneamento, que foi realizado por uma empresa de fora (demonstrando desconhecimento da realidade do município), as principais áreas com problemas de drenagem urbana no município estão apresentada em laranja no mapa.

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Imagem: Ilustração 08 do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico.

Como não concordei com o que foi identificado, durante a audiência pública apresentei como sugestão que fosse feito um estudo amplo e detalhado sobre o sistema de drenagem existente e as áreas com problemas de inundação em toda a cidade e não apenas a região demarcada. Recebi a seguinte resposta da Secretaria Municipal de Meio Ambiente:

“Prezado

Inicialmente gostaríamos de agradecer sua preciosa participação e colaboração na Consulta/Audiência Publica do Plano Municipal de Saneamento Básico de Lorena.

Estamos enviando a resposta de sua questão formulada sobre o Plano.

Resposta: No diagnóstico apresentado foram apontados na Ilustração N.8 a localização das principais áreas com problemas de drenagem urbana no município. O Plano prevê ações apenas para as áreas levantadas no diagnóstico (Ilustração N.8), ou seja, não inclui toda a cidade”.

O município perdeu uma excelente oportunidade de buscar soluções para esse grave problema de forma mais ampla, abrangendo toda a cidade. E diante do que aconteceu nos últimos dias, e que certamente irá se repetir, tornou-se claro que não podemos mais adiar a discussão sobre esse tema. Por isso, é de fundamental importância planejar medidas que promovam soluções duradouras. É preciso deixar pra trás aquelas soluções paliativas, que apenas minimizam os transtornos temporariamente e não impedem seu agravamento ou surgimento de novos problemas num futuro não muito distante. Estamos convivendo com esse problema há décadas e precisamos dar o primeiro passo na busca de uma solução definitiva.

COLUNISTAS / Savio de Carvalho

Sávio de Carvalho Pereira, natural de Lorena, é pai da Luane e mestre em Engenharia Química pela Faenquil (hoje EEL-USP). Amigo, leal, bem humorado, teimoso, é realista, mas sem perder o idealismo, sobretudo quando se trata de construir um mundo melhor para se viver, onde haja harmonia entre o ser humano e o meio ambiente.


saviocp@outlook.com

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