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COLUNISTAS / Maria Luiza

Árvores e suas histórias

09/05/2016

Dia destes me disseram que uma estudante queria conversar comigo sobre o porquê do nome do bairro Cabelinha. Lembrei-me então que escrevi uma poesia sobre a centenária figueira que ainda (graças a Deus) está lá, na qual menciono o porquê do nome Cabelinha. Eis a poesia:

A última figueira sesquicentenária de Lorena, revisitada

Encontrei no teu tronco os sulcos
De mais de um século;
Vi nas tuas grossas raízes expostas
A cor do passado,
As dobras da História,

Da nossa História…

Ouvi o galopar dos cavalos,
O bater das rodas das carroças
E também os ruídos do trem,
Do trenzinho de Piquete…

Escutei as vozes dos ancestrais
E a risada alegre da “Cabelinha”
E vi os seus longos cabelos louros
Entrelaçados nos teus galhos…

Ouvi também o coaxar dos sapos
Nos brejos das lagoas,
E o roncar das águas do Paraíba
Nas cheias dos verões antigos.

E emocionada vi
A vida renascendo como brotos
De uma esperança viva
Nas tuas folhas verdes, bem verdes,
Pendendo dos galhos, dos muitos galhos
inclinados em proteção
Como braços de mãe,

Aconchegando os filhos dos filhos
Daqueles que te plantaram um dia
Na branca terra lorenense…

As lembranças também me trouxeram saudades das palmeiras imperiais para as quais também fiz uma poesia, publicada no livro Chuva Doce, e que agora reproduzo aqui:

Adeus às Palmeiras da Praça

Em lagos de noite azul
não se banharão mais
de luar
as palmeiras da praça…

E, em vão, a lua cheia
procurará onde debruçar-se
para contemplar
as noites de Lorena…

Quanto suspiro de amor,
quanta saudade
levam as palmeiras da praça:
das festas da Padroeira,
das retretas e quermesses,
dos desfiles, dos carnavais,
das crianças brincando,
da saída do cinema,
e do baile começando,

de muito amor nascendo e…
de muito amor se acabando…

De todo o amor
que deu fruto nesta terra
foram elas as verdes alcoviteiras que,
em cochichos de vento
e piscar de luz e sombra

levavam o recado que,
outrora,
olhos tímidos queriam dar…

E viram tanto amor nascer
de olhares que se cruzaram
no “footing” da praça,
tanto amor crescer e frutificar
ao embalo das suas ramagens…

Eram o ponto de encontro,
a referência,
o marco do amor que nascia…

E os novos pares de hoje
para quem contam agora
seus segredinhos de amor?

Quanta história podiam contar
as palmeiras da praça…

Palmeiras da praça,
da praça Dr. Arnolfo, de Lorena,
Ides embora

Porque para vós
o tempo também passa…

Mas, ides embora
para sempre carregadas
de muito amor…

COLUNISTAS / Maria Luiza Reis

Maria Luiza Reis Pereira Baptista é diretora de escola aposentada, membro da Academia de Letras de Lorena, da qual é sócia fundadora. Membro do IEV (Instituto de Estudos Valeparaibanos) e autora do livro de poemas “Chuva Doce”. Foi colunista do Jornal Guaypacaré durante mais de dez anos, tendo escrito mais de 400 crônicas.

 


baptista@demar.eel.usp.br

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