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O estupro na visão de um jovem criado por seis “mães”

30/05/2016

Eu estava me contentando apenas em compartilhar posts prontos, feitos por páginas específicas a esse tipo de debate, mas percebi que enquanto a opinião não vier das minhas palavras, quem lê NUNCA perceberá a gravidade da situação. Tô tentando me convencer que não devo me expor tanto em relação a isso, afinal não sou mulher, mas me caiu a ficha que fui criado por seis mães na mesma casa. Seis mulheres que me ensinaram o real significado de “ser homem” na sociedade, que não tem nada a ver com sustentar o lar ou não chorar. É mais do que isso.

Vamos ao fato: a maioria esmagadora dos homens não sabe o que é um estupro. Nós nunca precisamos trocar de roupa antes de sair para a rua com medo de sermos assediados. Eu nunca fui prensado contra uma parede para ser obrigado a ficar com uma menina. Jamais me passou pela cabeça a ideia de parecer “mais feio” para tentar evitar comentários indiscretos. Mas eu vi isso acontecendo o tempo todo com as mulheres a minha volta, e não só na minha família. Elas se sentem culpadas por serem bonitas. Tentam o tempo inteiro se comportar como “mocinha” para não serem julgadas. E nós incentivamos esse comportamento nas nossas filhas, netas, sobrinhas. O que é ser mulher?

E o pior de tudo é que homens se sentem ofendidos quando é dito que existe a cultura do estupro. Ficam magoados. Afinal, ser ensinado desde pequeno a chamar uma garota de “gostosa” no meio da rua não é estupro. Vazar fotos de uma menina que confiou em ti, pelada, não é estupro. É tudo vitimismo, não é? A culpa é dela, sempre.

Eu já vi uma pessoa que eu amo mais do que a minha própria vida ser negada por alguns familiares por ter sido vítima de um assédio monstruoso. Disseram, na cara dela, que a culpada de tudo aquilo era ela mesmo. Você já passou por isso? Você sabe como a pessoa se sente? Então não diminua o sofrimento de quem viveu essa situação. Nunca.

E aos que apoiam a castração química como a solução do problema SOCIAL que é o estupro, meus parabéns. Você só confirma o quanto devemos nos preocupar com o ocorrido DEPOIS da mulher ter sido quebrada, fragmentada, machucada, e não em resolver o problema na base, que é sim, a nossa cultura. Sabe o que acontece quando um homem é quimicamente castrado? Bom, eu sei o que não acontece. Os números de estupro não diminuem. As mulheres continuam sendo assediadas gratuitamente. E por ridicularizar o debate, você normaliza esse tipo de atitude.

Só pense bem antes de falar qualquer merda sobre o feminismo e a luta por direitos das mulheres. Se você for homem como eu, ouça. Se for mulher como a minha irmã, participe. Mas não impeça a ação daqueles que tentam tornar o mundo mais seguro para as mulheres. É silenciador dizer para uma garota que ela “vê machismo em tudo”. Ela não vê. Ela sente. E você nunca vai saber o que é isso.

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João Vitor Lopes, 17 anos, estudante do 3º ano Ensino Médio do Colégio São Joaquim

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