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COLUNISTAS / É isso

Como em uma aldeia global – A ressignificação da vida

05/08/2020

A pandemia trouxe dificuldades e também novas oportunidades. Todo profissional precisou redefinir os canais de atuação e as formas de prospecção.
O escritor canadense Marshall McLuhan, um dos maiores pensadores da teoria da comunicação, escreveu várias obras. Muitas delas mostram-se atuais mesmo tendo sido concebidas na década de 60. Um dos conceitos difundidos por ele é o de aldeia global, de como as pessoas viriam a se conectar no futuro.

Em “Understanding Media”, de 1964, o autor escreve que “o meio é a mensagem”. Entende-se por “meio” o veículo de comunicação propriamente dito; por “mensagem”, o conteúdo transmitido. Nunca antes o meio foi tão mensagem. Programas de videoconferência se popularizaram e são utilizados para a disseminação de conhecimento. Por eles, passa grande parte das mensagens de que dependerá a captação de novos clientes. Há pelo menos 15 aplicativos para atender as diferentes demandas de mercado e houve escalada de preços de softwares pagos no período.

Somente de janeiro a março, as ações do aplicativo ZOOM valorizaram 100%. E de março a julho, subiram 60%. Estima-se que a ZOOM Vídeo Communications valha cerca de US$ 50 bilhões. No final de março, uma ação da empresa custava US$ 159,07. A mesma ação fechou julho custando US$ 253,91.

Em “A galáxia de Gutemberg”, de 1962, McLuhan avaliou como a tecnologia da informação afetava “a organização cognitiva dos indivíduos e a organização social”. A concepção do livro ocorreu quando a mídia impressa (o jornal físico de antigamente que, em breve, virará peça de museu) ainda era muito consumida. Mas é atual o pensamento de que as tecnologias não são simplesmente invenções, “mas meios pelos quais as pessoas são reinventadas”. Afinal, todos nos reinventamos de alguma forma nesta quarentena. E esta reinvenção passa pela tecnologia.

A ressignificação particular de cada um é tamanha que, hoje em dia, estender a mão para cumprimentar alguém chega a ser quase um ato ofensivo. Afinal, temos um “novo normal”. Este termo é tão recorrente que chega a soar antipático para os tímpanos. Ninguém aguenta mais ouvir falar de “novo normal”.
As várias ferramentas de mídia aumentaram a dificuldade para se alcançar o público-alvo. Porque o consumidor se espalhou pelas redes da grande aldeia nas diversas possibilidades que ela oferece.

O marketing neocontemporâneo teorizou a respeito deste emaranhado de possibilidades para se laçar o comprador e difundiu a expressão “omnichannel”, que significa todos os canais. Há necessidade de se buscar o cliente em todos os canais existentes. Em um mundo sem fronteiras, as perspectivas são inúmeras – quem sabe até infinitas.
O mapeamento de onde anda o interlocutor, portanto, acontece em um processo, novamente, de ressignificação. E a realidade corrobora com a teoria mcluhaniana de que a tecnologia da informação afetaria a organização social.

McLuhan defendeu ainda que os meios de comunicação eram extensões do próprio homem. Você já parou para pensar no quanto a câmera do computador passou a ser importante? O sujeito que não gostava dela passou a falar com a filmadora do computador para gravar uma apresentação ou dar uma aula. A timidez, neste caso, ficou para trás.

As cores de roupa mais cobiçadas são aquelas que melhor se ajustam ao “chroma key” do fundo, que deixou a casa parecendo um estúdio de televisão. “Chroma key” (termo, até pouco tempo, desconhecido por grande parte do público) é o tecido verde que permite diversificar os cenários das reuniões criativamente. Cenários porque cada participante está em um local diferente. Os professores finalmente viraram artistas e ganharam o protagonismo nunca antes alcançado – sociedade redefinida e instituições de ensino dependendo muito da força docente. Haverá a sonhada valorização salarial destes profissionais?

É moda a participação em grupos. O networking nunca foi tão importante. Eu mesmo fui convidado a participar de vários deles, alguns dos quais nunca tinha ouvido falar. Em todos eles, percebi que as emoções dos confinados estão à flor da pele. Falando em emoção, em tempos de pandemia, as pessoas têm exercitado muito o controle de suas próprias reações psicológicas. A solidão nos ajuda a observar que as nossas emoções podem ser exageradamente eufóricas ou demasiadamente depressivas. E tudo captado pelas lentes das câmeras, que registram, aproximam e distanciam. É o mundo das redes sociais, principalmente do WhatsApp. E o programa de celular trava toda hora por causa do acesso excessivo.

Sairemos desta pandemia diferentes pelo bem ou pelo mal. E sairá melhor preparado aquele que está aproveitando este período para refletir e se reestruturar.

É tempo para aprender. Reciclar-se é definitivamente um bom negócio para quem pretende ressignificar a própria trajetória profissional. E a ressignificação é a palavra de ordem no meio e na mensagem, na aldeia e na galáxia que já foi de Gutemberg e agora é de todos nós. É isso.

COLUNISTAS / Jose Aurelio

José Aurélio Pereira é jornalista, professor universitário e mestre em Comunicação. Atua em Lorena como empresário, no setor da Educação.


aurelio@wizardlorena.com.br

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