Na vivência universitária, procuraram-me alunos e colegas em situações inusitadas, especialmente à busca não do ‘moto contínuo’, mas da fórmula mágica que, se não salvasse a Humanidade, ao menos salvaria financeiramente seu descobridor.
Um desses alunos, já maduro e de cabelos brancos, fazia questão de ser diferente. Ia às aulas sempre de bicicleta e certa vez me procurou com um material semelhante a cascas (de árvore ou de fruto), bastante poroso, com alto poder de absorção de óleos. Quando perguntei como ele havia chegado a essa conclusão e feito tal descoberta, o tom da empáfia veio na resposta “eu sou observador” e no sorriso irônico, dizendo: “vocês são inferiores, não enxergam o mesmo que eu”. À Dostoiévski, ele poderia matar todos para justificar sua supremacia. Dei trela até onde foi minha paciência e, obviamente, tal estudo ou investigação não prosperou. Nem em meus laboratórios, nem em outros grupos.
Outro se mostrava conhecedor de todos os processos químicos e físicos, sabia como obter energia barata do vácuo, do ar comprimido e do hidrogênio, cujos usos ainda são inviáveis, pois todas essas produções são ilustrativas, mas muito onerosas pensando em aplicações práticas. Afirmava que somente não iam para frente seus projetos porque o governo não queria ou seriam de natureza estratégica e secreta. Esses argumentos lembraram-me a obtenção de eletricidade do ar, realizada por um dos personagens do livro de ficção“A revolta de Atlas”, de Ayn Rand, um libelo ao neo-liberalismo retrógrado e elitista. Princípios básicos da termodinâmica mostram que energia não se cria e em todas as suas transformações ocorrem perdas.
Havia outro elemento desse extravagante conjunto que andava sempre com uma bolsa de viagem cheia de livros porque queria investigar todo o conhecimento desde os princípios mais fundamentais. Não adiantava argumentar com ele que isso seria impraticável e o importante era saber usar as ferramentas, não necessariamente produzir todas elas. Teve muita dificuldade para se adaptar à rotina universitária, mas formou-se, ainda que atrasado em relação aos demais colegas.
Por fim, a correção no uso de termos técnicos é uma das características do cientista. Já discuti em coluna do Jornal Guaypacaré, muito tempo atrás, em “Há algo nas algas” (30/7-5/8/2011), que uma das fontes de biocombustível sendo investigadas são bactérias, erroneamente chamadas de algas. No entanto, o termo que deveria se limitar ao linguajar popular ou a textos de divulgação vai ganhando o espaço da escrita acadêmica entre nossos pares. É preocupante.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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