Por Lucca Ferri N. A. Latrofe
Acontece que, desde ontem, sinto-me inundado por qualquer coisa que não é o que a vida precisa. Amei louca e incontrolavelmente, mergulhei mesmo que tenha saído seco, intacto.
Assisti as honras de um homem que, por capricho ou desapego, grudou num rabo de foguete que insistiu em chamar de sonho – e dele não desistiu até que transformou meninos em homens.
Ouvi de melodias improváveis que na mesmice não se “!maquia!” felicidade e que, inevitavelmente, ouro de tolo maior não há do que aquele que insistimos em pregar.
Antes disso, porém, antes mesmo de me colocar como alguém em meio aos nomes que conheci, já sentia, no fundo da minha alma e no topo oposto aos meus olhos, que as coisas não eram como se apresentavam.
Ter e se reconhecer na notícia, na malícia.
Conhecer e sentir-se completo por uma história que não é minha, nem jamais será nossa.
Deixar-se inundar pela onda de qualquer coisa que possa parecer.
A curvatura da vara e a flexibilidade do ser.
Deixa, que seja. A divisão ou a monogamia não serão capazes de definir o quanto ou o porquê – e adoramos as antiguidades.
Amei louca e incontrolavelmente, mergulhei mesmo que tenha saído seco, intacto.
Fui sujeito. Assisti.
Todos os possíveis limites ficaram marcados, lacrados.
Pudera eu voltar, demarcar ou remarcar aquilo que não começou, mas teve seu fim.
Um fim mequetrefe, mentiroso, finito, mas um fim.
Quedemos quietos, no silêncio do desnecessário e sem guardar grandes histórias, tampouco grandes expectativas; guardemos somente – pedido meu – aquilo que é irremediavelmente concreto, contra o que vento ou tempestade em nada afetará.
Guardemos no lugar mais sagrado, no lugar mais profano – dadas minhas incontáveis falhas – o que do seu próprio erro emanou.
Imperfeito, incompleto, indiscreto e inconveniente – tarado cretino e sedutor barato.
Deixa estar.
Amei louca e incontrolavelmente, mergulhei mesmo que tenha saído seco, intacto.
Me arrependo, me arrepio.
O impulso é o mais grave e doloroso inimigo – é ambíguo – é servo e é general, ele asfixia.
Eu acho que não paguei o que você me cobrou.
Não paguei o que valia e, inversamente, não sei se saí na vantagem.
Lucro é conceito primário, arcaico e bandido.
As coisas valem o que as coisas são. Não há trabalho que se justifique. Erro. Não há trabalho que as justifique. Verdadeiro ou falso? Justifique.
Sobre o autor:
Lucca Ferri N. A. Latrofe é advogado, autor do blog http://cunhoserascunhos.com/ e membro fundador da Academia Jovem de Letras de Lorena. Sua trajetória literária iniciou-se aos 11 anos, ocasião em que fora premiado pelo Colégio Fênix, pela redação denominada “Guapo Guanunbi’. A partir de então, envolveu-se em diversos projetos sociais e culturais. Com 17 anos publicou, em conjunto com dois amigos, um pequeno livro de poesias: “Heterogenia, confusa perfeição”. Fora convidado para compor banca avaliadora de concurso de poesias (promoção pela ONG Sítio do Juca, de Guaratinguetá). Na sequência, integrou a antologia poética do Vale do Paraíba (convite do poeta Tonho França).
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário.