Após uma semana aguardando vaga na UTI, internado no Pronto Socorro Municipal, faleceu na noite desta segunda-feira, 1o de dezembro, aos 62 anos, o querido Salvador Vilela. Após um grave infarto e complicações renais, em consequência do problema cardíaco. Quem o conhecia sabe o quanto era realmente querido, um ser humano especial.
Mineiro de Poços de Caldas, maquinista de trem aposentado, contador de causos e histórias, que em Lorena construiu sua família – e à qual dedicou-se a vida toda. Seus olhos brilhavam de orgulho dela. Morador da Vila Passos, da rua Piagui. Marido da Ana; pai do Dino Cezar, do Robson e do Anderson; sogro da Patrícia, da Elisandra e da Janaína; avô mais que especial do Breno, do Gabriel, da Evelyn, do Pedro Lucas, da Maria Júlia e da Maria Clara. Com os netos, virava criança e esquecia do dia ou da noite. Vivia por eles…
Particularidades que vários dos que o atenderam no Pronto Socorro não conheciam. Nem médicos nem enfermeiros. Que não se generalize, mas que também não se ignore, pois o descaso na saúde pública lorenense é notável e inegável. São minoria os que atendem com humanidade e generosidade, quando deveria ser o contrário. Cada pessoa que está ali, precisando de atendimento, tem uma história de vida, uma família, é importante para alguém…
Não se discute aqui as inúmeras benfeitorias que vêm sendo feitas no Pronto Socorro e na Santa Casa de Misericórdia, por pessoas (empresários) que não têm a mínima obrigação de dedicar seu tempo e investir – muitas vezes – o dinheiro do próprio bolso para melhorar o atendimento de saúde à população lorenense. Esta contribuição é inquestionável, imensa, significativa e a sociedade certamente será eternamente grata por toda essa dedicação. Mas os lorenenses precisam de mais…
Faltam mais médicos que atendam com humanidade. Faltam mais enfermeiros que tenham generosidade e boa vontade. Registre-se, mais uma vez, que há exceções. Muitas, mas ainda em número insuficiente. Falta estrutura para que pessoas não morram à espera de uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva. Ou à espera de simples atendimento no Pronto Socorro.
Talvez o lugar na UTI não tivesse sido suficiente para manter o Salvador entre nós, devido à gravidade do seu caso, mas essa é uma resposta que sua família nunca terá. Seria mais digno que ele tivesse se despedido deste mundo ciente de que estava recebendo todo o cuidado que seu estado de saúde demandava. Não era a primeira vez que ia ao Pronto Socorro. Há vários registros anteriores de sua visita ali, quando era medicado e dispensado, muitas vezes destratado. “Aqui é lugar de emergência; se quiser se tratar, vá ao Posto de Saúde perto da sua casa”, disse-lhe na maior grosseria, recentemente, um médico que o atendeu no PS, quando Salvador procurava por ajuda porque não aguentava de dor.
Ele foi embora com a mesma alegria com que viveu. Embora não tenha recebido todo o suporte que precisava, o coração de Salvador era generoso. Disse à esposa que ia pedir à redação de ‘O Lorenense’ que fizesse uma matéria quando ele saísse do hospital, em agradecimento a todos os profissionais de saúde que o trataram bem.
Triste. Muito triste. Agora ainda mais, pela dor da família, por sua despedida. Seu corpo está sendo velado na Capela do Lar São José e o sepultamento marcado para as 12h45. Quem irá contar as histórias para os netos agora? Quem vai passar horas e horas babando na própria cria? Como viver sem a alegria e o bom humor contagiantes do Salvador?
O espaço está aberto para que a Secretaria Municipal da Saúde se pronuncie. Está faltando estrutura, mais humanidade e dignidade para a população que necessita dos serviços de saúde públicos – e paga muito caro por eles.