• SANTA CASA SECUNDARIO

FOTOS
VÍDEOS
COLUNISTAS / O saber acontece

Palavras ditas, escritas

15/01/2015

Um conjunto de textos trocados virou conversa nas redes sociais e serviços de troca de e-mails. Aquela tradicional interlocução ativa de viva voz tem sido substituída pelas frases curtas, tecladas à velocidade dos movimentos das falanges digitais. Dedo e digital têm a mesma original, guardando a lembrança dos elementos discretos que se contam. Com os dedos, ou na forma digital na transmissão da informação, antigo ou moderno, tudo é de mesma origem. Dedos e dígitos se fundem.
Afirmam que nunca se escreveu tanto quanto agora. A mensagem instantânea substitui a carta laudatória que era sinônima de dedicação e domínio da língua. Sem contar o fim da expectativa temporal para a entrega e retorno da resposta. A produção epistolar é uma das mais importantes fontes da informação histórica e paira a dúvida sobre a modernidade do quanto dessa escrita massiva de hoje permanecerá em arquivos, discos ou em nuvens. É mais fácil resgatar as cartas trocadas de um século atrás que os e-mails do ano passado. Minha eterna limpeza de arquivos – virtuais e físicos – é fiel testemunha.
É pela palavra a melhor forma de nos expressarmos para dar sentido ao que somos. A construção do texto é, assim, base da filosofia. Sem um, não haveria a outra. Elaborar e re-elaborar o texto, expurgar termos, explicitar conceitos. Não é tarefa simples a se construir num rápido digitar sobre um teclado, cada vez menor. Dos escritores antigos, imagino o quanto da “força das palavras” era fruto da pressão necessária sobre as teclas da máquina de escrever para que o registro daquele ato mecânico ficasse devidamente estampado no papel, depois de bater sobre a fita de impressão. Já nada disso usamos mais; no entanto, nas mensagens de e-mail ainda temos a opção de fazer c/c que não significa “com cópia” e sim “carbon copy” ou cópia carbono, lembrando do papel com tinta que se colocava entre duas folhas para se fazer cópia “instantânea” do que estava sendo datilografado, para fins de arquivo do emitente. Nada diferente de um “salvar” hoje, torcendo, é claro, para que o administrador de sua conta não resolva apagar o disco rígido do servidor de e-mail.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

MAIS LIDAS