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COLUNISTAS / O saber acontece

Respostas rápidas ou resultados precisos

26/01/2015

Equipamentos não são mágicos. Fiquei por um bom tempo longe de seriados de TV que se utilizam de ferramentas tecnológicas para desvendar crimes. Ouvia comentários esparsos de alunos que a eles assistiam. Quando da descoberta – primeiro pela internet, depois pela TV por assinatura –, veio um certo desconforto com o imediatismo da resposta que tais equipamentos forneciam. Continua assim, após década e meia de exibição com centenas de episódios. Mas sou fã dessas séries de investigação criminal, que fique claro.
Os acompanhadores assíduos analisam cada detalhe em fóruns de discussão e uma questão fundamentada é que todas as técnicas ali empregadas possibilitam chegar aos resultados que apresentam. O problema é, primeiramente, a velocidade com que isso é conseguido. 
Um dos equipamentos mais versáteis é o cromatógrafo a gás acoplado à espectrometria de massas. Na sigla em inglês, isso é chamado de GC-MS, presente em todos os laboratórios de análises químicas, especialmente quando é necessário identificar um número grande de substâncias em quantidades muito pequenas. A prospecção de fármacos, análise de resíduos de pesticidas em alimentos, identificação dos metabólitos de plantas, são alguns exemplos do uso do GC-MS. Mas, uma análise convencional levaria pelo menos uma hora para ser realizada, sem contar o tempo que os programas levariam para analisar os dados gerados, interpretando-os para dar o resultado de quais substâncias estão ali presentes. Na TV, vemos isso acontecer em poucos minutos ou até de forma automática.
Eu ministrava disciplinas de análise química instrumental quando a série passou a ter seus fãs no Brasil e, é claro, entre os alunos de engenharia. Não raro, perguntavam-me se o que haviam visto na TV era verdadeiro. Após algumas consultas para saber do que se tratava, quase sempre a resposta era sim, era verdadeiro, mas discutíamos a velocidade e – o mais importante – a confiança dos resultados obtidos.
Nessas aulas experimentais, chamava mais atenção os dispositivos eletrônicos automatizados que desenhavam um gráfico que os princípios de funcionamento do equipamento e a base científica de como se chega à resposta almejada. É o mesmo fundamento do seriado de TV, que capta a atenção pela imagem, não necessariamente pelo conteúdo. Insistia com os alunos: mais importante do que o gráfico bonitinho é saber se temos precisão e exatidão nas medidas realizadas. A calibração do equipamento e seus limites de detecção são algumas dessas variáveis, quase inexistente nos seriados. Repetir as análises várias vezes para avaliar o desvio padrão também. Assim, pode-se entender a alternativa do título, pois velocidade e precisão não caminham juntas.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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