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COLUNISTAS / O saber acontece

Trotes e tratos

25/02/2015

O Carnaval termina e o Brasil recomeça. Mais um ano universitário desponta no calendário, com as tradicionais expectativas de cursar aulas para uma formação profissional e, infelizmente, também com as polêmicas de recepção aos calouros – o chamado trote.
Em época na qual denúncias de violência, estupros e mortes pipocam no ambiente universitário, não me parece que haja um engajamento estudantil pela causa. O rito de passagem, histórico, domina sobre a consciência de que já não é tempo de supremacia entre os já iniciados e os calouros que adentram o ambiente universitário. O pedágio única e simplesmente para humilhar o jovem que comprará cerveja para os demais deveria ser um contraponto às inúmeras taxas que os cidadãos pagam para operar uma administração pública longe da eficiência esperada. Isso sim seria uma excelente discussão para imergir os calouros – muitos ainda menores, mas todos eleitores – em conceitos de cidadania. Mas não. Os hormônios e a dependência alcoólica ainda falam mais alto.
Vi as filas de garotos e garotas pintados da cabeça aos pés pedindo uns trocadinhos para comprar o fermentado de cevada com o argumento de que se não conseguissem os valores, teriam as roupas ainda mais estragadas pelos senhores da razão – os veteranos. Veteranos esses que um ou dois anos antes estavam na mesma situação humilhante e não se revoltaram com ela, como seria esperado do impulso jovem. Não, apenas perpetuam e aprimoram as hostilidades. Em época de crise hídrica e falta de água, penso no tempo de banho necessário para remover aquela tinta toda. Depois vão para as ruas e praças protestar contra os desmandos dos governos, mas sequer conseguem ter a consciência ecológica e de cidadania em seu dia-a-dia. Paradoxos que chocam.
A educação patina em todos os níveis. Especialistas renovam as críticas às formas como avaliações são feitas, mas não encontramos fórmulas para estender à grande massa de educandos a qualidade necessária ao que deveriam aprender e apreender. Os tratos pela educação emperram na mesma medida em que os maus tratos aos ingressantes proliferam.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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