Sempre que chego a Lorena meus olhos se deparam com a grande estátua da liberdade que enfeita (ou enfeia?) a loja da Havan de nossa cidade. Confesso que meu pensamento fica triste, seja porque eu gostaria muito de encontrar um símbolo mais nosso, que me lembrasse nossa identidade sertaneja ou nossa memória ancestral, seja também porque reflito sobre um tempo que ainda virá e que trará consigo uma triste realidade.
Não pense você que sou contra a Havan ou contra o comércio, ou ainda, contra o capitalismo. Não sou mesmo e nem é minha intenção falar contra o sistema econômico aqui neste espaço. Minha reflexão é um pouco nostálgica sim. Sou de uma tradição que venera o passado como ponte para o presente. Essa mesma tradição me ensina rituais e diz que eles servem para que eu possa dar sentido ao meu estar no mundo.
E o que a estátua da liberdade tem a ver com isso?
Imagine você, daqui a alguns anos, quando essa nova geração de crianças estiver quase adulta. Pense que a única referência que ela terá como símbolo da cidade é o que ela pode apreender ao longo dos anos que por aqui viveu. Quando ela entra na cidade depara-se com algo que, aos poucos, irá fazer parte do seu cenário e com o passar do tempo será tão dela que não conseguirá desvincular sua cidade natal da estátua que acostumou a ver no seu cotidiano.
É possível que ela ache mesmo que Lorena é um anexo de Nova York ou Manhattan. Aos poucos irá perder sua identidade regional e talvez até sinta vergonha ao descobrir que reside numa região de caipiras.
Pode parecer terrorismo o que escrevo – é moda alguém usar esta palavra para descrever agressões –, mas é também fruto de uma reflexão que tenho feito ao observar que não temos conseguido avançar demais na educação de nossas crianças. Crianças precisam de referências, de modelos que as motivem a olhar para a realidade como passível de transformação. Não existem crianças pacíficas, sem sonhos; existem crianças pacificadas, colocadas numa forma capaz de torná-las indiferentes ao verdadeiro sentido da existência.
Esse é o tipo de pensamento que suscita em mim quando passo em frente da estátua da liberdade que foi colocada ali para enfeiurar a paisagem. Ela me tira do sério, do meu centro, porque fica me lembrando que chegará um tempo que todo meu esforço em educar para a vida será esquecido por causa de um símbolo que não tem nada a ver comigo, com os meus e com a minha cidade.
…”e a pergunta rola, e a cabeça agita. Fico com a pureza da resposta da criança: é a vida, é bonita e é bonita…”
E no final: quem chorará por nós?