Voltei neste domingo da Europa, onde participei do Salão do Livro de Paris, do qual o Brasil foi o país de honra. Sem dúvida, foi uma grande festa de celebração do livro e da leitura. Centenas de milhares de pessoas estiveram presentes para visitar dezenas de estandes que expunham a produção literária francesa. O estande brasileiro estava muito bem localizado e enfeitado e foi visitado por milhares de pessoas.
A abertura teve a presença ilustre do Ministro da Cultura, Juca Ferreira, que fez um belo discurso falando da antiga parceria do Brasil com a França e da França com o Brasil. Discursos à parte, a atmosfera do salão era de glamour e bons resultados.
Tive a honra de ser um dos 48 autores brasileiros convidados. Convivi com nomes muito importantes no cenário literário nacional, como Marina Colassanti, Ana Maria Machado, Afonso Romano de Santana, Cristovão Tezza, Daniel Galera, Marcelino Freire, Paulo Lins, Ferréz, entre tantos outros que não será possível citar. Creio que é em momentos assim que se reconhece a riqueza da diversidade que há em nosso país. Me senti revigorado e ao mesmo tempo desafiado em continuar o que já iniciei por aqui.
O movimento da literatura indígena que acabei por criar no Brasil começou a ganhar fôlego nos anos 1990 e hoje já atravessa o oceano para atingir a mente de outros leitores. Nas mesas em que participei – e que não foram poucas – o público esteve presente em grande número. Além dos franceses, sempre muito interessados nas coisas do Brasil, muitos brasileiros faziam fila para receber autógrafos. Muitos falaram de sua saudade de casa; contaram sobre as dificuldades de viver num país diferente. Alguns diziam sobre os preconceitos que sentiam na pele por serem do terceiro mundo. Eu sempre lembrava a eles que sua situação era parecida com a dos indígenas que se sentem estrangeiros na própria terra. A grande parte das pessoas dizia entender, agora, a dor destes povos tradicionais. Me solidarizei com eles e eles comigo. Na dor a gente se irmana um pouco mais.
Na linda cidade de Paris não deixei de pensar em Lorena. Vendo as pessoas nos transportes públicos sempre com um livro na mão, imaginava quanto tempo ainda se levaria para que nossa cidade possa apresentar mudanças a partir da educação para a leitura literária.
Muito se tem que fazer ainda. Toda a sociedade pensante de Lorena precisa se empenhar em mudar a história de nosso município. A transformação não pode e não deve partir apenas dos poderes públicos. A sociedade organizada precisa mostrar sua cara e forçar a mudança. Todos ganham com isso. A cidade cresce, o povo enobrece, o mundo fica mais humano.
Sei que talvez isso seja minha utopia. Vou continuar com ela. Em maio já iremos realizar o primeiro Encontro de Contadores de Histórias do Vale do Paraíba e durante sua realização, vamos convocar a sociedade lorenense para pensar a elaboração do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca; e em setembro, a terceira edição da Jornada Literária do Vale Histórico. Vou continuar teimando. Uns dias em Paris me deram a certeza de que é uma caminho longo, mas os resultados felizes.