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COLUNISTAS / Outros papos

Pai, afasta de nós esse “Cale-se”

31/03/2015

Reedito este texto já publicado no Jornal Guaypacaré e escrito a partir das letras das músicas de resistência à ditadura militar. Dedico a todos os desavisados que defendem a volta da ditadura militar. No final, deixo os links para que possam ler e refletir. Se vivemos numa democracia nos dias de hoje é porque muitos brasileiros foram presos, torturados, exilados e mortos durante essa vergonhosa página da história recente do Brasil que hoje, dia 31 de março, faz 51 anos!
Nessa época que um dia virou vinte e um anos, “Acender as velas” virou profissão, o samba é apenas choro, porque o coração parou de bater, o doutor chegou tarde demais porque no morro não tem automóvel pra subir, não tem telefone pra chamar e não tem beleza pra se ver e a gente morre sem querer morrer. 
O “Carcará”, lá no sertão, é um bicho que “avôa” que nem avião ou é um pássaro malvado, tem o bico volteado que nem gavião, carcará come inté cobra queimada. Nesses dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu! A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a “roda-viva”, e carrega o destino pra lá. Por isso vamos caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento, no sol de quase dezembro, em caras de presidentes, grandes beijos de amor, em dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot! Eu vou por entre fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fome, sem telefone no coração do Brasil. 
Prepare o seu coração “prás” coisas que eu vou contar, eu venho lá do sertão e posso não lhe agradar, aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar e a morte, o destino, tudo, estava fora do lugar, eu vivo prá consertar. Não, não há por que mentir ou esconder a dor que foi maior do que é capaz meu coração. Não, nem há por que seguir cantando só para explicar. Não, não vai nunca entender de amor, quem nunca soube amar. Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão, a minha gente hoje anda, falando de lado e olhando pro chão. Você que inventou esse estado e inventou de inventar toda a escuridão. Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão, mas “Apesar de você”, amanhã há de ser outro dia. Eu pergunto a você, onde vai se esconder da enorme euforia?
 
E “Jorge Maravilha” já dizia, nada como um tempo após um contratempo
pro meu coração. E não vale a pena ficar apenas ficar
chorando, resmungando, até quando, não, não, não!
Vamos seguir caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais braços dados ou não, há soldados armados, amados ou não, quase todos perdidos de armas na mão!  Pelos campos há fome em grandes plantações, pelas ruas marchando indecisos cordões, ainda fazem da flor seu mais forte refrão e acreditam nas flores vencendo o canhão. 
Não dá mais para trazer a vida quem foi torturado e assassinado. Por isso chora a nossa Pátria Mãe gentil, choram Marias e Clarices pela morte dos seus filhos, filhas, maridos e amigos, no solo do Brasil!
 
Meu canto está tão contente, nunca mente o canto meu, olho a vida bem de frente, o meu cantar nunca escondeu. É preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre! E rezo a minha “Ladainha” e valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus Nosso Senhor, já fui homem, fui menino, mas é sempre a mesma dor. E agora que o sonho da “Volta do irmão do Henfil e de tanta gente que partiu num rabo de foguete” se realizou, nunca mais quero esquecer desse triste episódio que ecoou como uma“Canção que na América Ouvi”, quando quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir e quem ficou, no pensamento voou, com seu canto que o outro lembrou!
 
Hoje, decorridos cinquenta e um anos, só queria que o “Brasil mostrasse a sua cara, queria ver quem é que paga pra gente ficar assim”, numa democracia tão criança, que ainda pergunto: “Que País é esse?”
 
Só não quero a tortura de volta e nem que me proíbam de falar, porque tem de ser “Proibido proibir”.
E com lágrimas nos olhos rogo ao Pai pelos que já se foram, não permita que suas lutas tenham sido em vão e que afaste de mim esse “Cálice”, pois como é difícil acordar calado, se na calada da noite eu me dano, quero lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado. Nunca mais quero beber dessa bebida amarga, tragar a dor, engolir a labuta. 
 
Mesmo calada a boca, resta o peito. Pai afasta de mim, do Brasil e do mundo todo e para sempre, esse “Cale-se” de vinho tinto de sangue!
Para mais informações, seguem os links:
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COLUNISTAS / Mafu Vieira

Valdemir Vieira, popularmente conhecido como Mafu, é formado em Enfermagem e Obstetrícia pela Unitau, pós-graduado em Terapia Intensiva e mestre em Enfermagem Psiquiátrica pela Escola de Enfermagem da USP, com trabalhos apresentados no Brasil e exterior, além de responsável técnico de Enfermagem do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) – Lorena. Professor convidado nos cursos de pós-graduação da Fatea e outras universidades das cidades vizinhas, palestrante dos assuntos de políticas públicas e motivacionais, Mafu também é formado em Professional and Self Coaching, potencializando as lideranças profissionais em diversas empresas e em áreas distintas. Lorenense nato e ex-vereador, está sempre envolvido e atento aos assuntos da cidade e vem, com a mesma performance de colunista que foi do Jornal Guaypacaré, diretamente para a coluna, de mesmo nome, no Portal “O Lorenense”. Com ele, são “Outros Papos”…



maphus@gmail.com

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