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COLUNISTAS / O saber acontece

A ciência é uma criança que brinca

02/04/2015

Duas experiências recentes em sala de aula me frustraram e me motivaram a relatá-las, tentando explicá-las e situá-las dentro de um contexto moderno. Sem muita memória, mas moderno.
Ainda no assunto interação da energia radiante com a matéria, ou seja, a absorção e emissão de luz por substâncias (vejam artigo anterior sobre o vestido que muda de cor – A moda é o vestido colorido, javascript:nicTemp();), fui perguntando sobre as chamadas cores complementares. O azul é complementar do amarelo e vice-versa, da mesma forma que verde e vermelho formam outro par. A explicação se dá pelos máximos de absorção de um material de determinada cor, que também é sentida pela nossa retina. Lembrei aos alunos a brincadeira de olhar um objeto de determinada cor por alguns segundos, sem piscar e rapidamente voltar os olhos para uma superfície branca. A imagem registrada na retina seria formada pelas cores complementares da que estávamos mirando. Pintar uma bandeira do Brasil com o vermelho no lugar do verde, e o amarelo e o azul trocados, resultaria na projeção das cores corretas. Qual não foi a surpresa quando os alunos desconheciam tal processo e nunca tinham feito isso! Alunos universitários, registre-se.
A segunda experiência foi ao falar de tubos de Venturi, um dispositivo usado para medir velocidade de fluidos (do vento, por exemplo) e para criar uma bomba de sucção, de construção simples. Esse tudo pode ser feito por um tudo de caneta cristal (daquela marca famosa de três letras), uma vez que ele já possui um pequeno furo no meio. Ali, ao passar um outro fluido – água ou mesmo um sopro – forma-se um ponto de pressão zero que pode ser usado para sugar o que estiver ao redor. Com um pequeno pedaço de papel pode ser feito o teste.
Tentei refazer o singelo experimento e não consegui nem tirar a tampa traseira da caneta sem quebrá-la. Talvez os furos já não sejam os mesmos ou minha memória me falha, como convém a qualquer cérebro que precisa esquecer para continuar vivo. Outra experiência desconhecida daqueles mesmos alunos. 
Estou velho e o surgimento das lembranças de quando se brincava com a ciência pode ser um indicativo.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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