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COLUNISTAS / O saber acontece

Como nossos pais

12/06/2015

A educação possui vários braços. Questionamos o papel e a eficiência dos órgãos públicos no ordenamento do sistema educacional. Há os teóricos da educação que traçam teses importantes para entender como o processo acontece – ou, ao menos, deveria acontecer. Os profissionais dessa interação – ou dualidade – ensino-aprendizagem se esforçam para dar o melhor de si para fazer o educando “tomar ciência da ciência” e procurar adquirir conhecimentos, por mais nebulosas que sejam as definições do que isso seja. Por fim, a face quase esquecida de toda a educação é o aluno, o ser que está em processo de aprendizagem e é somente ele que pode saber (contradição?) o que realmente aprendeu e apreendeu. 

Qualquer processo de avaliação será falho, pois ainda não é totalmente livre de erros entender o que o cérebro captou e desenvolveu quando submetido à educação. Procuramos aprimorar esses braços todos, acreditando que há uma evolução positiva em curso, mas os ainda precários dados de avaliação revelam um quadro pouco animador. Convém uma ressalva importante antes de continuar: tudo aqui especulado por parte de um leigo opinador.

A pergunta que está em discussão é se os pais estão sendo ausentes e falhando na educação base de seus filhos. 

A escola tem se tornando, com o tempo, um depositório de crianças. Os pais ou nunca têm tempo de estudar em casa junto com os filhos ou, ainda, não possuem nível de entendimento (porque não estudaram) para contribuir com tomada de lições e avaliação do que está sendo aprendido pelo filho. 

Modernidades conjugadas com externalidades podem levar o educando ao desestímulo, tornando a escola apenas um espaço para encontrar amigos ou um período de que não se gostar e contar os minutos para que dele se afaste para ir a outros espaços e convívios mais interessantes. 

A transformação da escola nesse tipo de espaço tem a conivência de administradores e dos pais. Deixamos de cumprir essa tarefa, muitos alegando que é a instituição escolar que deve fornecer todos os elementos para seu filho aprender, o que não é verdade. Crianças sem uma estrutura familiar sólida (o que não pressupõe exclusivamente modelos clássicos de família) terão dificuldades em sistematizar informação, fazer seleção e prioridades, entender e criticar as matérias vistas, pois não têm essa prática em casa. Além disso, o aprendizado começa desde a gestação, pelos estímulos que o feto recebe do exterior, e é um processo contínuo. Ao adentrar o sistema regular de ensino fundamental, o educando já deveria ter cinco ou seis anos de estudo informal em casa, que lhe deu ferramentas mais que suficientes para viver – como andar de pé, controlar suas necessidades fisiológicas, se alimentar. A leitura é uma descoberta que, se não acontece em casa por estímulo familiar, será sempre um obstáculo na vida escolar regular.

Esses dilemas não são novos, remetendo a uma justificativa do título. Estudos recentes fizeram levantamento de opiniões de educadores desde que há registro sobre tais comentários (século e até milênios atrás) e o tom foi muito parecido, realçando-se que o jovem daquele tempo já não aprende como os de antigamente. 

Parece que o aumento notório do acesso à informação não fez com que os jovens conseguissem um correspondente aumento da qualidade do que é aprendido e seus pais ou responsáveis (ou os modelos familiares de exemplos) não conseguem – ou nem tentam – se aproximar da situação e cumprir um papel fundamental nesse processo educacional. Os jovens, especialmente, parecem se perder nessa nuvem de dados e os pais deveriam ser um ponto de referência para saber por onde seguir, como filtrar esse volume todo de informação. Não adianta se conectar com o mundo todo na ponta dos dedos, se não consegue ler e compreender um texto de mais de uma página ou entender o que é uma raiz quadrada ou regra de três. São instrumentos que foram apreendidos pelos pais, talvez até nos antigos papéis de pão, mas hoje não se projetam nos dispositivos touch screen.

Obs.: O assunto deste artigo foi escolhido pelos membros do Grupo Observatório da Ética e da Moralidade (javascript:nicTemp();), após enquete que sugeriu três temas diferentes, na área da educação.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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