Por Danilo Passos
Pediram para eu esperar. Esperei. Na verdade, finquei os pés no chão e revirei um pouco o olhar. Esperei. Passaram duas mulheres. Loiras. Fofocas. Passaram dois homens. Belos. Esdrúxulos. Esperei. Virei os dedos. Uma, duas, três, quatro vezes. Ansiedade. Avistei um casal ao longe. Andavam juntos. Trocaram selinhos. Eu esperava. Revirei os olhos. Virei os dedos. Ansiedade. Avistei dois homens. Um alto. Um médio. Brancos. Conversando. Muito juntos. Gays. E eu esperava. Eles passaram por mim. Um deles levou o olho direito para os meus trajes. Sacou o que eu poderia ser. E era. Passaram. Outro casal. Quietos. Sérios. Passaram. Três mulheres. Dois velhos. Uma criança. Passaram. Andavam. Passaram. Cruzei as pernas. Pois pediram para eu esperar. Respirei. Suspirei. Perdi as contas de tantas. Aliás, não contei. Nem tinha vontade de contar. Duas mulheres passaram. Riam de algo que nem tive o interesse em saber. Após alguns minutos, ninguém passou. Continuei aterrando os pés no chão. Os sapatos doíam. Calos. Meus pés tinham calos. O vento ficou um pouco forte. Um homem passou com os pés apressados. Terno e gravata. Li o crachá. Dr. Neto Soares. Há pessoas que se chamam “Neto”. Pensei. Pensei como um sarcasmo. Amo sarcasmos. Vazio. Novamente. Ninguém. Outro homem. Bem vestido. Homem. Cabelo modelado. Homossexual. Elegância. Lançou o olhar ao meu encontro. Engoli o sorriso. Timidez. Tirou o olhar do meu encontro. Fitei-o. Foi embora. Meus pés fincados no chão. Minha espera. Praça vazia. Janelas abertas. Casas curiosas. Depois que passaram os homens, os minutos passaram; após as mulheres, as horas. Cansei. Cansei. Cansei. Do chão, os pés retirei. Parti. Para a minha casa pequena. Pequeno quarto. Grande cama. Enorme leito. Dormi. E ainda esperava. Ainda estava esperando. Esperando, mesmo. Falaram que o amor ia chegar. Ia chegar pelas pessoas. Não disseram quais pessoas. Muitas, por mim, esbarraram. Algumas sorriam. Pediram para eu esperar. O amor ia chegar. Ia chegar. Finquei os pés no chão, cruzei as pernas, virei os dedos. Mas o amor ia chegar. Ia chegar. Esperei. Cansei. Voltei. No grande leito, deitei. Para o sono, demorei. Em um outro dia falaram que o amor é educado. Falaram que o amor ia chegar. Ia chegar. Que o amor ia chegar por uma pessoa. Pediram para eu esperar. Pessoas passaram por mim. Não pararam. Passaram. Se o amor ainda vai chegar como falaram, a ele não educaram.
Sobre o autor:
Danilo Passos é escritor, roteirista e graduando em Letras pela Fatea e pesquisador do PIBIC – CNPq, com pesquisas nas áreas de Estudos Literários e Educação. Algumas de suas pesquisas foram premiadas em congressos, como na Fatea e na Universidade Federal de Itajubá – Unifei. Em 2014 ganhou o X Festival Gato Preto de Lorena com o curta-metragem “Álvares”, inspirado em fragmentos poéticos de Álvares de Azevedo.
Em 2015 relançará o seu romance “O Magnata do Tempo’ (2012 / Perse) e lançará o livro “Sussurros e outros contos”. Em maio, proferiu um curso de “contos e narrativa literária” na Biblioteca Municipal de Pindamonhangaba-SP, cidade onde reside. É ocupante da cadeira de número 12, cujo patrono é o escritor Gabriel Prestes. Para contatos, seu Facebook: facebook.com/odanilopassos.
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário