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COLUNISTAS / O saber acontece

Buscar e nem sempre encontrar

10/09/2015

O mundo é um pouco maior que uma laranja. Corrigindo: é até menor que um caroço de azeitona. Comparações fortuitas originadas nas coincidências e encontros de pessoas em situações inesperadas. Revejo minha professora do 1º Grau (Fundamental de hoje) como voluntária no hospital de tratamento de minha filha, ajudando-a com as tarefas escolares. O médico de minha mãe em Campinas estudou em Lorena e conhece Padre Mário Bonatti. E teria outra lista de pessoas que conheci em Campinas que têm alguma ligação com a Terra das Palmeiras Imperiais.
Enalteço-me quando vejo essas coincidências ou consigo traçar correlações entre fatos aparentemente tão díspares. Foi o caso da Folha de S. Paulo ter noticiado na mesma página o falecimento da atriz Barbara Brecht-Schall e a escolha dos melhores romances de Agatha Christie. “Assassinato no Expresso do Oriente” ficou em segundo lugar e não tiveram o mesmo insight que tive quando correlacionei os fatos. 
Os estatísticos nos alertam para os cuidados com as correlações. Por exemplo, é notório o estudo que correlacionou o aumento da criminalidade em Nova York com o aumento do número de chicletes comprados e mascados. Estatisticamente perfeito, porém nulo na dualidade causa-efeito. Coibir a venda de chicletes não diminuirá a criminalidade.
Mas a correlação que fiz o editor das cartas do jornal não viu ou não se comoveu com ela e não publicou. Disse eu: 
Um improvável diálogo de textos se fez na Ilustrada (2/9). A escolha de “Assassinato no Expresso do Oriente” como o segundo melhor romance de Agatha Christie conversa com a notícia da morte da atriz Barbara Brecht-Schall. O livro tem como tema de fundo a morte do sequestrador do filho de Charles Lindbergh, o primeiro a atravessar o Atlântico em um avião, e que também foi homenageado por Bertolt Brecht no ensaio “Der Flug der Lindberghs”. Mas, depois, com a posição política de Lindbergh em suposto apoio aos nazistas, o dramaturgo alemão fez autocensura e riscou o nome no texto substituindo por “Der Ozeanflug” (O voo pelo oceano). Um aspecto histórico interessante a ser recuperado, ainda mais com o sucesso da refilmagem de “O Pequeno Príncipe”, livro cujo autor Saint-Exupèry, outro aviador, também está envolvido.
A internet propicia busca constante de quase tudo e seriam muito mais comuns essas juntadas dissonantes. Mas meus interlocutores continuam dando atenção para curas milagrosas de cânceres e outros boatos que já há décadas pululam esse espaço cibernético.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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