Por Camila Loricchio
E sábado tive mais uma experiência negativa em relação à segurança pessoal. Fui pegar um ônibus na Rodoviária de Lorena e fui ameaçada. “Moça, quero apenas voltar pra casa, estou em condicional”, disse o homem, mostrando uma tatuagem de cadeia. Ele estava conversando com o pessoal que fica pedindo dinheiro desde que eu havia chegado lá. Quando negamos tal “ajuda”, a cara de desprezo na face do homem se mostrou e ele chamou outros pra vir nos abordar.
Saímos de lá correndo. Sem ter como reagir. Sem ter a quem recorrer.
Fui lá pelo ônibus. Saí de lá com mais do que fora buscar.
Em que tipo de situação a gente se encontra, se no tal espaço público não conseguimos nos sentir seguros? O público nessa frase deveria querer dizer de nós todos, mas se mostra a cada dia mais o espaço de ninguém. O espaço sem lógica, sem respeito, invasivo e intolerante.
Quem é “público”? Nossa liberdade? Nosso famoso “direito de ir e vir”? Quem realmente tem direito a tudo isso? Pelas minhas experiências, é um público cada vez mais seleto. Que se impõe pela violência e pelas suas próprias liberdades e interesses.
Não digo que é apenas o homem que nos abordou naquele dia. Mas todos que se julgam inseridos nessa possibilidade de invadir o espaço do outro, física ou psicologicamente, ou das mais diversas formas, para fazer o que deseja. Que acham essa invasão perfeitamente normal. Que se impõem de forma medíocre.
A sensação amarga que fica na boca por isso tudo ser considerado normal e aceitável é complementada pela frase: “Ah, mas lá é perigoso mesmo”. Ah… a conformidade. A aceitação. Se tudo está ruim, pra quê melhorar, não é mesmo? Pra quê fazer algo pra mudar? “É normal”. “Está tudo bem”. “É só não pisar mais por lá”.
Nenhuma dessas frases me parece aceitável. E quando não sobrarem mais espaços pra pisar? O tal espaço público, que não é tão público assim, vai se tornando cada vez mais fechado, mais restrito, mais cheio de exigências para ser percorrido. Que faremos então? Vamos nos trancar em nossas casas até que esse espaço também seja invadido? Opa. Já foi também. Vamos entrar então em nossas mentes, até que consigam penetrar essa fronteira com a mídia e violência verbal e psicológica? Opa. Acho que já foi também.
E agora?
O que sobra?
Qual é a última fronteira?
Sobre a autora:
Camila Loricchio é designer, blogueira no Castelo de Cartas, autora da (em progresso) Trilogia das Cartas (Com Castelo de Cartas – Valete e o Dama já publicados) e às vezes vai dar umas bandolas se perdendo nos girassóis de Van Gogh, mas sempre volta a tempo para dar continuidade ao mestrado que faz em Itajubá.
Espaço reservado às produções dos acadêmicos da Academia Jovem de Letras de Lorena. Membros da AJLL: Beatriz Neves, Camila Loricchio, Danilo Passos, Gabriela Costa, Gustavo Alves, Gustavo Diaz, Heron Santiago, Isnaldi Souza, Jéssica Carvalho, João Palhuca, Julia Pinheiro, Lelienne Ferreira, Lucca Ferri, Samira Tito, Thiago Oliveira, Vânia Alves e Wagner Ribeiro.
Por Thiago José de Souza Oliveira É interessante como na grande parcela do tempo, damos valor aos primeiros instantes, aos primeiros passos, às primeiras falas, mas nos esquecemos ou […]
Por Thiago José de Souza Oliveira Recentemente, me veio ao conhecimento uma cena específica do filme ‘Desafiando Gigantes’, lançado em 2006, que ganhou enorme visibilidade nos meios empresariais. A cena […]
Ora, ora… Seja bem vindo caro leitor! Quero esclarecer algo antes que comece a ler o texto: sou do tipo que brinca com a imaginação e tenta transformar os detalhes […]
Este primeiro texto foi redigido com o intuito de apresentar a Academia Jovem de Letras de Lorena a Lorena; porém, não há como citar arte e cultura sem homenagearmos alguns […]