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COLUNISTAS / O saber acontece

Adoramos espumas

04/12/2015

As “Espumas flutuantes” de Castro Alves se originavam na alma do poeta e nas vagas do mar. Nessas ondas de água salgada, as bolhas que se fazem ver não devem conter outras substâncias que não a água e os gases do ar. Já as espumas que chegam a Pirapora às margens do Rio Tietê são distintas. O rio rebelde, que atravessa o estado de São Paulo, fugindo do mar, padece dessas espumas poluentes agora, mais uma vez, quando já se tinha recomposto tempos antes. Produtos mais fáceis de serem degradados biologicamente predominavam, as espumas retrocederam, mas não adiantou. A sociedade quer as espumas, adoráveis espumas.

Ao avaliar um detergente, a aparência determina se o compraremos ou não. Viscosidade, por exemplo, é propriedade desassociada do poder detergente. As pessoas “sentem” no tato, ao esfregar o produto entre os dedos, que a maior viscosidade dá uma conotação de produto melhor. Engano. Adicionam-se espessantes para aprimorar essa característica. A quantidade de surfactante (o laurildodecilsulfonato de sódio é um dos mais usados) é que é o importante. Além de algum espumante poder ser adicionado, sempre com a intenção de confundir o consumidor (enganar é o verbo mais adequado).

O desengordurante anunciado também é o que produz espuma quando ataca a sujeira. Fôssemos maiores conhecedores da química, teríamos uma abordagem mais crítica dos produtos que nos são oferecidos nas prateleiras dos supermercados. Eu ficaria com receio dessas reações descontroladas dentro de casa!

Mas fazendo espuma, diagnosticamos desde a qualidade do lava-louças até a da loucura de quem possa estar tendo um ataque epilético e soltando saliva pela boca. Aparências são o que importa, ainda mais em uma sociedade que vive de autopostagens e bem-estar virtual.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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