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Há mais de meio século atrás…

05/12/2015

Já posso dizer a todos: há mais de meio século atrás, a vida era assim… De fato, o distanciamento no tempo me leva a lembranças que nem todo mundo testemunhou e que constam, quando muito, de alguns documentos. Mas, chega de me vangloriar (!) da minha muita idade – é hora de eu continuar a dar o meu testemunho sobre os outros tempos da Lorena das décadas de 50 e 60 do século passado. Daí, esta crônica.

Hoje eu adianto-lhes, meus prováveis leitores, que não minto quando lhes digo que a Lorena daquele tempo era uma cidade adorável.  E não são olhos benevolentes e uma complacente visão do passado que me levam a dizer isso. Enfim, esta não é uma afirmação gratuita e sentimental: Lorena era realmente um lugar privilegiado para viver.

Pergunto: onde encontrar nos nossos dias um jardim como aquele, com um serviço de som permanente, funcionando debaixo do coreto? Onde ver alguém como o “Vermelhinho”, um funcionário pequeno, ruivo e mal humorado, correndo atrás dos que pisavam na grama? Onde achar, nestes dias, uma linda fonte luminosa arredondada, que tinha cores cambiantes e desenhos geométricos incríveis? Onde encontrar, circulando pelas ruas de hoje, personalidades únicas como o seu Firmino Escada, o seu Zé Leite, o dr. Francisco, o seu Raul Penha Nunes,o seu Clóvis Faria, o seu Alexandre Cobianchi, o seu Lázaro Alvarez, o seu Gomes, os professores Sinésio de Castro, Paulo Pereira dos Reis e tantos outros que deixo de enumerar aqui?  

Onde ver uma cidade na qual o carnaval de rua era uma festa mágica e contagiante, com blocos deliciosamente divertidos, como o “Pé de Cana” e o “Ximbica”?  Onde encontrar, nos nossos dias, aquela gente comportada – moças, rapazes e famílias – passeando sem riscos na já referida praça Dr. Arnolfo Azevedo?  Onde, meu Deus, ver de novo uma lanchonete como aquela do Mauro, na rua da Piedade, com as suas pequenas pizzas de sabor inesquecível?  Ou beber um frapê de coco como aquele que batiam na Leiteria Hepacaré? Ou entrar no Clube Comercial e ver, na sala de estar, a reprodução da tela “O Menino Azul”, de Gainsborough? Ou rever a queima de fogos nos dias 15 de Agosto?

Em nenhum lugar. A Lorena de mais de cinquenta anos atrás já não existe.  Ela perdura apenas num canto da memória, suspensa e etérea, livre da corrosão do tempo e da transitoriedade da matéria. Incólume como as coisas eternas.

COLUNISTAS / Olavo Rubens

Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.


olavo.rubens@hotmail.com

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