Estávamos no início dos anos 40, uma época de muitas dificuldades políticas no âmbito internacional e nacional.
Na Europa e naquele ano no Pacífico, com o ataque japonês a Pearl Harbor em 1941, a guerra contra a Alemanha tornou-se realmente mundial, enchendo de apreensões os países periféricos como o Brasil, num momento em que expressiva parte do mundo civilizado caiu nas mãos dos totalitarismos – o governo autoritário de Salazar em Portugal, o de Francisco Franco na Espanha, o de Hitler na Alemanha, o de Mussolini na Itália e, aqui no Brasil, o Estado Novo de Getúlio Vargas, que em 1937 aboliu as práticas democráticas entre nós.
Nesse tempo, governadores e prefeitos brasileiros eram denominados interventores, ou seja, eram nomeados antidemocraticamente pela política getulista. Na administração do prefeito Antônio Rosa Júnior, mal eclodiu o golpe estadonovista, alguns políticos lorenenses não tiveram dúvidas: deram um novo nome à Praça Dr. Arnolfo Azevedo em homenagem ao governador da Paraíba, covardemente assassinado, denominando-a Praça João Pessoa.
No dia 14 de janeiro de 1942, um senhor muito magro, de pequena estatura, o rosto esquálido projetando o queixo para frente, aproximou-se do casarão do dr. Arnolfo Azevedo, na Praça da Matriz de Lorena. Ele era o dr. Silvio Junqueira, um dos mais antigos e renomados médicos da cidade, que vinha atender a um chamado de urgência, pois o ilustre lorenense não estava passando bem. Ele estava acompanhado por um colega mais moço, o dr. Wander Ferreira de Andrade.
Adentrando no quarto do enfermo, o dr. Silvio constatou que a sua pressão arterial estava altíssima e que o seu estado inspirava cuidados.
Tendo medicado o paciente, o médico lorenense convidou o seu jovem colega para retirarem-se dali. Então, o dr. Arnolfo pediu a ele para que o “menino” ficasse mais um pouco (o dr. Wander tinha, na época, 29 anos de idade e já clinicava há 4 anos).
Os dois conversaram animadamente. Na oportunidade, o paciente, muito exaltado, comentou com o seu visitante que o mesmo homem, dr. Darcy Leite Pereira, que discursou por ocasião da retirada do seu nome da praça principal em 1937, foi quem o recolocou quando exercia o cargo de prefeito ((julho/dezembro/1941).
Eram onze horas da manhã. O dr. Wander, após a animada conversa que manteve com Arnolfo Azevedo, levantou-se de sua cadeira para despedir-se do ilustre lorenense.
Daí, aconteceu o inesperado – ainda segurando nas mãos do médico, o dr. Arnolfo teve um colapso cardíaco e caiu sem sentidos em seu leito.
Às onze e trinta, talvez tentando retomar a conversa com o jovem dr. Wander, ele repetiu diversas vezes esta frase:
“- Meu Deus! Será que não mereço ter meu nome numa das praças da minha cidade?!”
Foi quando um novo colapso o atingiu e matou de modo fulminante.