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A bacalhoada do Tofinho

16/12/2015

Algum tempo atrás, fui convidado para tomar um café na casa da Lídia, filha do seu Cornelinho – um café mineiro com direito a bolo, pão de queijo, folheados ao creme de palmito, empadinhas de frango e outras delícias do gênero.  A companhia estava ótima, todos contando histórias da vida lorenense.
Uma das convivas, minha amiga e ex-colega da Faculdade Salesiana, contou-me muitas coisas interessantes, entre elas um relato sobre o nosso mais querido barbeiro, o popular Tofinho.
Numa manhã qualquer daquela Lorena de outrora, o Tofinho recebeu um telefonema do seu Plácido Montenegro, marido da dona Zenaide e pai do Guilherme e do Gilberto.
Ele queria que o nosso amigo fosse cortar cabelo em sua casa, na rua dr. Rodrigues de Azevedo.  Na oportunidade, o seu Plácido teria dito ao Tofinho que almoçariam, em seguida, uma suculenta bacalhoada.
Convite feito, o Tofinho chegou em casa e foi logo avisando:
– Hoje almoço uma bacalhoada na casa do seu Plácido!
E nem ligou muito quando sua mulher lhe disse que naquele dia a sua sogra havia feito a sua especialidade, que era nhoque ao molho de tomate.
Minutos depois, lá estava o Tofinho na sala de estar dos Montenegro, cortando os cabelos brancos de um senhor claro e corpulento, de óculos com lentes esverdeadas, que andava se apoiando numas muletas de metal, o seu Plácido.
Pois bem, ele havia acabado o corte de cabelos e nada da esperada bacalhoada – a mesa de refeições permanecia teimosamente vazia, nela pontificando somente um vaso de flores amarelas.  Aí, nasceu no cérebro do Tofinho uma dúvida: não teria ele confundido o dia do convite para o tão esperado almoço? O seu freguês e amigo, uma pessoa gentil e educada, jamais o convidaria para uma refeição sem pensar em servi-la imediatamente.
Com o estômago vazio, o nosso fígaro voltou jururu para a sua barbearia. Lá pela uma hora da tarde, ele não aguentou mais e foi para o Hotel Guarany, onde decerto haveria alguma coisa para almoçar.  
Chegando ao hotel, problemas à vista: dois velhos amigos, o dr. Sebastião Lopes e o seu Ulisses da Casa Paulista estavam ali tomando um aperitivo. Se ele fosse almoçar no hotel, os dois não deixariam de brincar com ele, dizendo que brigou em casa e foi comer fora, ou alguma coisa desse tipo.
Desistiu do Guarany. Morto de fome, voltou para a barbearia. Eram três da tarde quando o Tofinho também desistiu de trabalhar, tal o seu jejum. Foi para casa e chegou perguntando, muito humilde, pelo desprezado nhoque da sogra.
Já comendo em grandes garfadas, muito sem graça, ele foi logo dizendo:
– Querem saber de uma coisa?  Na verdade eu nem ligo muito para bacalhoada…

COLUNISTAS / Olavo Rubens

Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.


olavo.rubens@hotmail.com

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