Falar dos próprios defeitos nunca é uma coisa fácil. A gente costuma diminuir, maquiar, ou até exagerar na medida. Mesmo assim, não é tão difícil admitir que somos ansiosos ou preguiçosos, que guardamos rancor ou contamos mentiras. Afinal, um defeitinho ou outro aí, todo mundo tem. Assumir que desejamos o que é dos outros é outra história. É quase como confessar que falamos mal de amigos pelas costas. O tipo de defeito que a gente pensa “meu Deus, que pessoa má”. E eu não me refiro à chamada “inveja branca” – na qual eu honestamente acredito, dependendo do caso. Não se trata de admirar o cabelo de uma amiga, ou desejar um relacionamento agradável como o casal de amigos que é quase um comercial de margarina.
Falo daquela inveja feiosa, que deixa a gente pesado. Aquele sentimento de que o outro também pode ser feliz, desde que um pouco menos que eu. Desde que não alcance o que eu quero, que não seja minha concorrência e, principalmente, que não saia exibindo. O nível hard extreme da inveja, a la Rainha Má da Branca de Neve, é a sabotagem. Mas, como quero crer que no meu Facebook só tem gente de alto nível que não se presta a esse papel de vilão de novela mexicana, falemos da inveja mesquinha, manhosa, que não faz barulho, mas vai espalhando suas raízes no coração e acaba por tomar o terreno todo.
Infelizmente, às vezes, sou uma pessoa invejosa. É triste admitir, mas é verdade. Há alguns dias, um conhecido contou que está participando de um processo seletivo para uma vaga de estágio em uma mega empresa de comunicação. Um não, um monte. Parece que na mesma semana todo mundo resolveu dar um salto na carreira e eu fiquei para trás. Fiquei com invejinha. O engraçado é que, há pouco tempo, neguei uma vaga parecida. E decidi que não quero trabalhar nessa área, que meus sonhos são outros e que, portanto, meu caminho deve ser diferente também. Só então percebi que estava invejando um sonho que sequer é meu.
Falar de intercâmbio costuma ser outra encrenca. Não escondo de ninguém que minha #eurotrip não foi tão bela quanto as fotos que ostentei no meu Instagram. Há outro textões a respeito na minha página, caso você queira conhecer melhor minha desventura portuguesa. Basta que o leitor saiba que me decepcionei bastante e, até hoje, não lido bem com pessoinhas que voltam saltitantes de suas viagens. Sinto como se cuspissem em todos os meus esforços antes e durante o intercâmbio, me dizendo “olha como nós estamos felizes, uma pena que você tenha se ferrado”. Feio né? Também acho. Inclusive, se você, leitor-amigo, vai ou foi viajar, e eu não fiz uma super festa “AI MEU DEUS QUE TUDO FOI A MELHOR COISA DA MINHA VIDA”, taí a explicação. E meu pedido de desculpas. Meu coração chegava a doer de inveja, provando mais uma vez que a coisa mais interessante (e unânime) sobre os sentimentos ruins é que eles só machucam o hospedeiro.
Depois de muita terapia, melhorei um bocadinho. Hoje vejo que, na verdade, aprendi MUITO. Modéstia à parte, a bendita independência que se espera de um intercâmbio já corria em minhas veias desde os 17 anos. Não fui a campeã dos “check-in” em países, mas aprendi a controlar minha ansiedade, minhas expectativas e, hoje, meu ego. Coisa que, segundo minha psicóloga, a maioria das pessoas leva a vida toda para aprender. Finalmente, entendi que se aventurar fora da própria zona de conforto – que não é sinônimo de viajar, mas aceitar e conviver com as intempéries da vida – é coisa para corajosos e, cá para nós, eu não sou pouco, não.
Já tive inveja de gente com mais dinheiro, gente mais inteligente e (pasmem) até com mais fé. Já invejei problemas de família que me pareceram menores que os meus. Certa vez, saí para trabalhar abatida, e ouvi de um sábio colega: “Toda vez que se sentir assim, olhe para um prédio desses (apontando para um edifício bem grande), e pense que em cada uma dessas janelinhas rola pelo menos um quebra-pau por mês”. Virou meu macete. Outra coisa bonita que ouvi de uma prima e, anos depois, li num livro sobre a história da Pixar, foi: “Contrate/encontre pessoas melhores que você”. A obra – “Criatividade S/A”, caso algúem se interesse – ainda prevê a invejinha, e explica que é normal nos sentirmos ameaçados. Por experiência própria, atesto o quão gratificante é conquistar aos pouquinhos a qualidade almejada, apenas por aceitar a “inferioridade” e substituir a inveja por carinho e admiração – o que evita também o espírito sanguessuga/interesseiro.
Não vou me alongar na discussão sobre os milhões de filtros que usamos nas redes sociais e a burrice de acreditar que toda felicidade é autêntica, que isso todo mundo sabe. Na verdade, também não acho que transformar o Facebook no Muro das Lamentações seja a solução. Adoro postar fotos bonitas de momentos felizes e declarações apaixonadas. Mas gastar um pouco menos de tempo bisbilhotando a vida alheia me parece uma proposta interessante. Ter em mente a proposta das “janelinhas” também. Vai de cada um. Este texto (quase uma confissão, rs) é resultado do meu desejo de ser um pouquinho mais “sem filtro”. Considero-o de utilidade pública porque outro fruto ruim dos sentimentos mesquinhos é a sensação de que estamos sós. Não é verdade. Eu, pelo menos, estou por aqui. Com minha inveja, minhas neuras, minhas encrencas e minha vontade de melhorar a cada dia – pelo menos nisso eu sou belezinha.
Nota: Vocês já devem ter percebido que sou cristã. Caso você, leitor, também tenha fé, deixo mais um “toque” para os dias de invejinha braba. Além de rezar Ave-Marias e Pai-Nossos à rodo para me distrair, gosto de ler o Salmo 36, que diz: “Não te irrites por causa dos que agem mal, nem invejes os que praticam a iniquidade. (…) Espera no Senhor e faze o bem, e habitarás a terra em plena segurança. Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração Ele atenderá (…) Em silêncio, abandona-te ao Senhor, põe tua esperança Nele. Não invejes o que prospera em suas empresas, e leva a bom termo seus maus desígnios”. Bonito, não? Me ajuda bastante. Espero que a você também.
Maria Clara Vieira
Quase jornalista, autora do blog Corre, Maria: https://www.facebook.com/corremaria2015/?pnref=story
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