Ano novo, tabela quase completa. Nesta semana foi anunciado que os elementos químicos superpesados foram confirmados, completando-se o sétimo período da famosa tabela que contém todos os elementos químicos. Chegou-se ao elemento de número atômico 118, ou seja, que contém 118 prótons em seu núcleo.
É um fato importante porque mostra ser possível, ainda que por tempos infinitamente pequenos, manter alguns átomos estáveis para medir suas propriedades. Muitos se perguntarão sobre a utilidade disso, ou tratarão o fato com desdém, como os comentários que apareceram nos sites de notícias ao longo desses dias.
Mas para que serve? A mesma pergunta poderia ser feita em relação a torcidas de futebol, fãs de grupos musicais, seguidores de religião ou para os que trocam o estresse do trabalho pelo mesmo estresse dos congestionamentos para se chegar à praia: para que fazer isso? Cada um terá uma explicação plausível, pelo menos para si, mas em nada engrandecerá a Humanidade, como foi a tônica de algumas críticas ao fato da semana. Assim, o custo para se estabelecer os novos elementos químicos pode não ser totalmente justificado no momento, mas estão mais perto de uma função para a Humanidade do que os demais exemplos citados.
Se soubéssemos tudo o que pode ser feito com uma descoberta ou conhecimento adquirido ou já teria sido feito ou nos limitaríamos apenas a investigar para saciar nossa curiosidade. Ter havido a exploração espacial nos propiciou a ressonância magnética nuclear e fornos de micro-ondas. Investigar a estabilidade desses núcleos atômicos pesados pode ser um caminho para o controle da energia nuclear, base de quase toda a energia que usamos. Sim, nossa fonte primária de energia é o Sol, uma estrela que funde núcleos de átomos de hidrogênio em átomos de hélio, liberando energia de várias formas, dentre elas o calor e a luz. A fusão nuclear está longe de ser controlada, apesar de já ter sido realizada por cientistas em condições apenas de estudo. Seria uma fonte ampla, praticamente inesgotável, de calor e eletricidade. Mas para se chegar lá, é necessário estudo, investigação e empenho. O caminho não é sabido e a ciência é o próprio caminho, ousando arranhar conceitos filosóficos. Assim, sempre que há esses pequenos avanços ou marcos científicos, é para se comemorar, para mostrar que podemos crescer no conhecimento. Os que preferem o lado sombrio da ignorância, que lá permaneçam.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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