O que é um metal? Quando era criança e procurava materiais recicláveis em terrenos baldios para vender e ganhar alguns trocados para comprar gibis, havia uma distinção entre ferro (ou lata) e metal. Naquele universo de minha infância, metal era sinônimo principalmente de latão ou cobre. Aprendendo na escola a classificação química, não adiantava convencer os “pares” de que ferro também é metal. As definições de grupos se sobrepujam às oficiais ou científicas.
Olhando a tabela periódica dos elementos, vemos que a esmagadora maioria é de metais. Dos 90 elementos químicos não radioativos, que termina no urânio, 68 são metais, com certa controvérsia na classificação de alguns elementos chamados semi-metais. Já a constituição de nossa crosta terrestre pende para o domínio de um desses semi-metais, o silício, e um não-metal, o oxigênio. O planeta como um todo, pensando em seu núcleo, é feito de ferro e níquel, que fundidos gera um magnífico campo magnético.
Há divergências entre os especialistas sobre a denominação “metal pesado”, que fica bonito em inglês heavy metal, mas muito mais sonoro no roquenrol (aportuguesamento que aprendi por esses dias). O peso aqui deve ser traduzido ou como densidade ou como número de massa. De qualquer forma, há uma distinção entre metais presentes em ciclos bioquímicos, como o sódio, o potássio, magnésio, cálcio, ferro e cobalto, e os outros que também podem estar presentes, mas de forma deletéria. Tirante os processos nucleares, nenhum elemento pode ser eliminado. Substâncias podem ser transformadas em outras, mas um metal será sempre um metal. Alguns, como os citados antes, integram ciclos bioquímicos e não se acumulam, diferentemente dos perniciosos metais pesados.
Agora sai uma regulação do Inmetro sobre a porcentagem máxima de cádmio e chumbo permitida em jóias e bijuterias. São dois desses “metais pesados” danosos. Ao menos traduzem a porcentagem como “peso”, que na verdade deveria ser massa, mas não dizem se a referência para se calcular a porcentagem é uma parte do objeto ou o todo. Por exemplo, um pingente pode conter chumbo em demasia, mas se for pendurado em uma corrente que não contém o metal, no total estará dentro da norma. Acompanhemos a aplicação de mais essa regulação para ver até que ponto conseguirá mitigar os efeitos nocivos de mais uma atividade humana.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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