Substância do momento, controvérsia há um bom tempo, a fosfoetanolamina pode ser entendida como um derivado orgânico e aminado do ácido fosfórico, cuja fórmula é (H2PO4)-(CH2)2NH2, e que colocou o professor Gilberto Chierice no centro das atenções.
Conheci-o quando fui a São Carlos junto com meu orientador de pós-graduação, que era convidado para participar de uma banca de defesa na USP. Outros colegas cientistas conviveram mais diretamente com o prof. Gilberto e ouvi um relato de quem usou as chamadas pílulas contra o câncer e também outras substâncias manuseadas e desenvolvidas no laboratório dele que possuíam propriedades medicamentosas, sendo a de anti-oxidante uma delas.
Em meus estudos científicos com colegas em Campinas, chegamos a isolar alguns compostos de origem vegetal que têm alguma atividade nesse sentido, mas essas propriedades foram medidas apenas em ensaios de laboratórios com outras substâncias e não com células ou qualquer outro organismo vivo. Esses estudos foram publicados com um grupo razoável de pesquisadores, em artigo de acesso a partir de qualquer computador dentro de universidades e centros de pesquisa.
Mas também, quando ainda na EEL-USP, iniciamos um estudo mais aprofundado que ainda está sendo concluído, um trabalho conjunto com pesquisadores europeus. Se chegarmos a alguma indicação de ação, ela resultará apenas em uma publicação científica, muito longe de testes clínicos ou mesmo que venha um dia a ser patenteada e transformada em medicamento. O caminho é árduo e é isso que tem sido a controvérsia no trabalho do professor.
Pode-se questionar se uma substância experimental poderia ter sido ofertada ao público, mas risco maior fazem os deputados, ao aprovarem um projeto de lei que passa por cima de tudo de mais razoável que existe em pesquisa científica. Esquecem que não é como aprovar a doação de um par de sapatos para membros descalços de seus currais eleitorais. Os órgãos de representação dos médicos condenaram tal medida.
A cura do câncer é uma panaceia que esconde a própria natureza da doença. São mais de uma centena de tipos de cânceres e cada qual possui sua fisiologia, difícil de ser coincidente. Um dia chegaremos a tratamentos mais adequados, menos invasivos, sem efeitos colaterais, mas será um tratamento para cada doença. Já é suficiente a quantidade de curas milagrosas que pululam a internet e que muita gente, mesmo após avisos e alertas, continua propagando.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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