• SANTA CASA SECUNDARIO

FOTOS
VÍDEOS
COLUNISTAS / O saber acontece

No princípio e no fim, a palavra

09/08/2016

As comemorações da Semana Guilherme de Almeida ocorreram com intensidade, mesmo em ano considerado crítico em termos conjunturais, sociais, políticos e econômicos no país. Na palestra proferida pelo secretário estadual de Educação Renato Nalini, na Academia Campinense de Letras (ACL), fomos recepcionados pela Banda da Política Militar e presenteados com a obra “Bicentenário de Campinas – A saga que a cidade amou”, do presidente de honra daquela entidade, Rubem Costa.

Foi ele, um dos fundadores da ACL, quem apresentou o palestrante. Com a serenidade que lhe é peculiar, não faltou com a profundidade das palavras para, ao mesmo tempo, tecer elogios ao palestrante e criticar a forma deletéria como a política educacional vem sendo conduzida no Estado.

Houve um tempo – e os mais moços precisariam saber – no qual a educação pública fundamental era a de qualidade e dos privilegiados. Havia exames para admissão que selecionavam desde cedo os mais aptos, reconhecendo naquela época a dificuldade em se conciliar quantidade com qualidade. A inclusão ocorreu, sim, não há criança fora da escola, mas não houve espaço para o esmero da educação. Massificamos ao invés de democratizarmos.

O secretário Nalini, por seu turno, reconheceu a profundidade das palavras da apresentação de Rubem Costa e não fugiu da responsabilidade, ao menos nas poucas frases iniciais que pronunciou, uma vez que ali estava para enaltecer Guilherme de Almeida. Foi uma palestra diferenciada, tecida sob medida para equilibrar o poeta e o soldado, mas com forte viés para o primeiro. Questiona o palestrante sobre levar o conhecimento dessa história à escola e ele, pela posição que no momento ocupa, tem os instrumentos para a promoção de uma efetividade de educação que ainda não foi vista em tempos correntes.

Levar a vida e a obra de Guilherme de Almeida para a sala de aula daria a dimensão de toda a desconstrução da primeira República, do surgimento do Estado Novo, beirando o pico democrático dos anos 50 e o novo colapso institucional dos anos 60 com o advento de mais uma ditadura. Passaria pela Semana de Arte Moderna e outras manifestações artísticas e culturais. A vida brasileira, enfim, ladeada pela atuação do Príncipe dos Poetas.

Porém, o secretário após a bem sucedida palestra, não nos brindou com seu precioso tempo para uma conversa ao pé das obras de arte apresentadas no saguão de entrada da Academia. Agenda tomada, imagino, retirou-se logo após a breve confraternização com os acadêmicos.

A rede federal de educação básica se voltou à qualificação de seus docentes e correspondente valorização salarial e de carreira, em direção oposta à política adotada no Estado de São Paulo. Porém, entendo que é uma posição estabelecida para se firmar como modelo, não avocando para si a responsabilidade de expandir para todos a proposta e, sim, fazê-la em parcerias. Também conversaria com o palestrante sobre esse intenso tema, mas sua curta permanência fez com que o tempo tenha sido bem usado para admirar as obras de arte, usufruir do coquetel, fotografar as artistas e acomodar as palavras apreendidas naquela agradável noite.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

MAIS LIDAS