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COLUNISTAS / O saber acontece

Eletroeletrônicos e a tragédia de Mariana

04/11/2016

Fui convidado para dar uma palestra na Universidade Federal de Lavras (UFLA) sobre atividades que iniciei recentemente com a reciclagem de resíduos eletroeletrônicos. O Fórum de Química Ambiental estava inserido na semana nacional de ciência e tecnologia que promoveu eventos em todo o país. O convite veio por meio dos contatos com amigos do tempo de faculdade e sempre buscamos nos conhecidos o suporte para fazer essas apresentações. É, porém, inusitado que aqueles que já não mais trabalham em uma instituição sejam preteridos para eventos dessa natureza, mas fico sabendo que até as próprias autoridades da casa deixam de ser convidados.

O trabalho com os resíduos da informação – placas de circuitos integrados em especial – ainda está na fase de levantamento das quantidades e definição das estratégias de trabalho e foi iniciado no Instituto Federal de São Paulo, câmpus de Hortolândia. É um tipo de resíduo especial, perigoso e de difícil reciclagem devido a sua heterogeneidade, quantidade grande de componentes e vida útil curta. Boa parte do material mais poluente é formada por metais, os mesmos que são explorados por grandes mineradoras.

A tragédia de Mariana foi o assunto da mesa redonda a que assisti, com a tônica sobre o desastre ambiental, o descaso de autoridades, o peso do poder econômico. O pior da situação não tem sido divulgado que é a quantidade de sedimentos sólidos depositados nas calhas do Rio Doce, o que impedirá a regeneração da biota aquática. Isso é mais crítico que a contaminação química, pois o material mineral que pode ser solubilizado na água é relativamente pequeno.

Na discussão havida, concluímos que nos falta, como pesquisadores e cientistas, a divulgação mais explícita dos fatos, assunto que é difícil para um profissional cobrado pela produção científica em revistas especializadas, não em quanto ele consegue levar à sociedade o seu conhecimento de maneira a ser compreendido.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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