Se você é uma dessas pessoas que se sentem incomodadas com o rumo que a vida tomou,saiba que não está sozinho.Estamos vivendo essa época em que a maioria das pessoas está totalmente imersa em um mundo irreal.E esse irreal está intimamente ligado ao virtual, ou seja, as pessoas estão metaforicamente falando, vivendo ligadas às máquinas, tal qual pacientes terminais e dependentes de alguns aparelhos artificiais.
Parece exagero? Não, não é.Ao menos, o mundo que ando presenciando está assim.
Praticamente mais ninguém consegue ser independente de máquinas, tais como celulares e computadores.E a maioria das pessoas não consegue passar um único dia sequer sem adentrar no mundo virtual das redes sociais e aplicativos de bate papo.
Existe a necessidade por conta de trabalho, mas mesmo após o uso necessário, vem o uso desnecessário e evitável. E sim, é claro que existem inúmeras vantagens e benesses.
Ocorre que não se está percebendo o quanto isso ficou excessivo, ao ponto de, em uma consulta médica, eu entrar na sala e o médico já estar falando no celular, desligar, conversar comigo e pouco depois, atender a uma outra ligação e, despreocupadamente, bater papo com seu ouvinte.
Eu pensei estar presenciando uma atitude de extrema falta de educação e profissionalismo, em um momento no qual o profissional tem a obrigação de ser profissional e zelar e atender com foco e disponibilidade, aquele paciente que está ali sentado à sua frente. É, já chegamos nesse ponto.
E por fim, me reportei a uma camiseta que meu filho tem e admira muito, que tem estampada a imagem de índios comendo fastfood e a frase de Luiz Fernando Veríssimo: “Somos a favor do contrário de tudo que está aí”.
E volto a me espantar com o excesso da tecnologia em nossas vidas, quando vejo, na rua, índios sem calçados em seus pés, porém com celulares em seus ouvidos e em suas mãos. É, nem eles escaparam… Poucos se salvaram e as pessoas estão perdendo mesmo o norte, o filtro, para ao menos enxergarem que está demais.
Eu também aderi a essa vida louca, mas confesso que acho a vida de antigamente bem menos estressante e exposta, bem mais privativa e menos poluída pelo excesso de exposição e informação, e posso estar ficando antiquada, mas tenho saudade da vida de antigamente, onde era bem mais fácil se aproximar da paz e da serenidade.
Quanto mais próximos dos excessos, sejam eles quais forem, mais distantes estamos da paz.E me pergunto se tem como piorar.
A privacidade, a autopreservação e a reserva estão mesmo entrando em extinção e isso, como tudo na vida, a longo prazo, pode nos trazer consequências. Aliás, já está trazendo, com certeza, mas a maioria ainda não está enxergando.
Então, só posso desejar que enquanto amigos, sejamos mais amigos; que enquanto profissionais, sejamos mais profissionais; e que enquanto amores, sejamos mais amores.
Aline de Castro Machado é advogada há 18 anos, mãe de Bruno Machado, jornalista, e além de profissional, uma mulher em busca constante de novos desafios. Sente necessidade de refletir para tentar se autoconhecer e ao menos tentar conhecer melhor esse ser tão complexo que é o ser humano.
Apaixonada por um texto de Aina Cruz, intitulado “Teoria das pessoas complexas”, cujos trechos preferidos são: “É um tipo de gente que não sabe comer a vida pelas bordas e já enfia a colher, com tudo, no meio da sopa. Arriscam queimar a língua, porque sabem que se queimar passa… Mas para uma pessoa complexa, é a morte levar a vida a acomodar-se. Fazer as coisas porque vai ser mais confortável ou socialmente aprovado. Não se trata de rebeldia, nem de originalidade. É apenas que um coração complexo pulsa em arritmia, tem um compasso diferente… Essa gente complexa detesta assuntos burocráticos, relações burocráticas, protocolos, regras sociais… Assim, vivem cada dia como se fosse o único, como se fosse o último… Gente complexa tem alma de poeta mesmo quando nunca escreveu sequer um verso”.
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