A professora Marília da Silva Ramos, residente numa casa térrea frente ao Hotel Brasil, na rua Dr. Rodrigues de Azevedo, bem perto da estação de ferro, dirigiu-se pé ante pé, silenciosamente, até a porta do banheiro da sua residência.
– Finalmente – ela disse de si para si – o Ênio Celso está tomando banho!
Da porta fechada, ouvia-se um som de chuveiro ligado que a deixou entusiasmada.
Justificava-se o seu contentamento: nos últimos tempos, o seu irmão Ênio Celso, o querido e popular Biruta, deu de não querer mais tomar banho e ela, desanimada, não sabia mais como convencê-lo a praticar esse saudável hábito de higiene pessoal… E eis que, naquele dia, o seu irmão resolveu tomar jeito e foi tomar uma ducha quente!
Ela já ia voltando toda feliz para a sala quando a porta do banheiro se abriu devagarinho. Dela saiu, todo pimpão, o Biruta, completamente vestido, usando até uma das suas conhecidas gravatas borboleta.
– Como é que ele se trocou com essa rapidez? – ela se perguntou.
Explicava-se o mal entendido – o Biruta andava enganando a irmã. Ele entrava no banheiro, sentava-se numa banqueta que havia lá e, vestido, ligava o chuveiro. Depois de alguns minutos, estava tudo feito: irmã enganada e ele, sem tomar banho, ia passear pela cidade.
A professora Marília, irmã zelosa, não demorou muito para descobrir o truque do Biruta. Isso a aborreceu tanto que ela se valeu de um recurso extremo, indo até o consultório do dr. Alceu Leite Conde, renomado médico da cidade e amigo da família. Como o Ênio Celso respeitava muito e ouvia como a um pai o médico, a sua irmã pediu-lhe para que este o aconselhasse a retomar a rotina dos banhos diários.
Num dia daqueles tempos, o dr. Alceu vinha descendo a rua principal em animada conversa com o seu colega, dr. Torres, e encontrou o Biruta. Ele chamou o inimigo do chuveiro do lado e foi logo chamando a sua atenção:
– Que história é essa de não querer mais tomar banho? Saiba que você pode pegar uma doença infecciosa!
Não é preciso nem falar do medo que tomou conta do Ênio Celso. Parece que, a partir desse dia, o Biruta voltou a tomar banho, para sossego da sua querida irmã Marília…
Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.
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