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COLUNISTAS / O saber acontece

Feras e férias

26/01/2018

Descer a serra para se banhar no mar ajuda a aplacar o furacão cerebral. Ainda que três dias sejam insuficientes para fazer descansar, foram fundamentais. Alguma leitura deve acontecer, pois ficar apenas de molho na água ou deitado na areia não parecem ações úteis.

Biografia de Lima Barreto e o “Sapiens” do Harari foram meus acompanhantes. Os cuidados para se proteger do sol, do sal e até do sul são constantes. O pouco conhecimento sobre energias radiantes, oleosidade e hidratação da pele deve ser aplicado para evitar dissabores. Mas, quanto aos discursos de ódio ouvidos em mar e em terra, apenas o silêncio interior é a melhor resposta.

O corpo fica vermelho, quase não dá para evitar, mas ao menos os ouvidos podem ficar isentos de tanta bobagem escutada. Sim, nós ao sul do país somos recordistas em notícias falsas, tanto em sua divulgação, como em crer nelas. Até a revista semanal, que ainda é campeã de leitura, com explícita convivência com esse tipo de divulgação, fez uma edição sobre o assunto, deixando seus leitores sem entender se se tratava de um mea culpa ou de ironia.

As principais feras deste verão, antes daquelas que adentrarão estádios no meio do ano e palanques logo a seguir passam a ser os insetos, notadamente os mosquitos. Mesmo sem a notícia de que o Aedes aegypti esteja transmitindo a febre amarela urbana, atentos fiquemos, apesar de férias significar certa letargia. Assim, ler “expressão proteica” como “expressão poética” é reflexo da vontade de escrever o subconsciente, não a lógica da ciência.

Presenteei os donos da pousada em que fiquei com meu “Transformações na Terra das Goiabeiras”, que eles iniciaram a ler e foram me fazendo comentários ao longo da estadia. Surpreendeu-me à minha saída ao declararem que iriam apresentar o livro aos hóspedes e amigos de Lorena, que não devem conhecer a obra. A observação fez-me pensar no quanto não consegui divulgar o livro entre os conterrâneos de minhas filhas, cidade em que morei por 20 anos. O livro foi colocado à venda por R$20, mas parece um valor alto frente a gastos natalinos, festivos e de outros entretenimentos. De qualquer forma, o e-mail arjornal2@gmail.com continua como canal de encomenda.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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