Por quase um século, de 1884 a 1973 (portanto, durante 89 anos), Lorena foi orgulhosamente conhecida como “Terra das Palmeiras Imperiais”, ostentando centenas de belíssimas e inesquecíveis espécies que embelezavam, com ternura, vários pontos da paisagem urbana,ornamentando a Praça Principal, a até hoje chamada de “rua das Palmeiras”, o “Largo da Matriz”, a Praça Conde Moreira Lima, onde as palmeiras margeavam os trilhos dos trens e o Santuário de São Benedito.
Hoje, só lembranças, recordações…
Hoje, elas já não existem mais! Mas há centenas de novas palmeiras crescendo, nada comparáveis àquelas majestosas, imperiais, altaneiras, que ficaram só nas saudades e nas lembranças… São recordações, marcos de uma época, símbolos de uma Lorena de outrora, nostalgia…
Major Oliveira Borges e as primeiras palmeiras
O professor e historiador Diego Amaro de Almeida conta, na VII Coletânea da Academia de Letras de Lorena (2016), que “o Major Francisco de Assis Oliveira Borges… presidente da Câmara Municipal, no triênio de 1881 a 1883… fez plantar as palmeiras imperiaisda rua Viscondessa de Castro Lima (futura Rua das Palmeiras)”…
D.Pedro II usava as palmeiras como símbolos de poder e nobreza
Em outro livro, Roseli D´Elboux conta: “Lorena foi importante ponto de inflexão de rotas e caminhos entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro nos períodos colonial e imperial… Havia o hábito de D.Pedro II de usar as sementes da palmeira como símbolo de proximidade ao poder monárquico e lealdade à coroa… como idéia de nobreza, distinção e classe”.
E mais: “Supõe-se que o plantio foi intensificado a partir da década de 1840 ou 1850, o que coincide com a maioridade de D.Pedro II e necessidade do fortalecimento simbólico do II Império”.
“Era preciso estar mais próximo da Corte e dos hábitos cortesãos, intenção esta refletida em Lorena, pelo tratamento dispensado às praças da Imperatriz (atual Praça Arnolfo Azevedo), da Matriz (atual Praça Baronesa de Santa Eulália) e à rua Direita (depois rua Viscondessa de Castro Lima, que ligava-se à rua das Palmeiras, atualmente av.Conselheiro Rodrigues Alves), que passaram a abrigar renques de palmeiras imperiais, a exemplo dos existentes no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”.
Imponentes, aristocráticas, neoclássicas!
Em “Palmeiras no Brasil”, de Harri Lorenzi, e no “Tropica”, de Alfred Byrd Graf, em suas descrições das palmeiras imperiais, utilizam os termos “imponentes”, “símbolos aristocráticos” e “majestic”…”presentes na arquitetura neoclássica”.
Encantam e impressionam…
Charles Ribeyrolles, em “Brasil Pitoresco”, diz: “Lá estão elas de guarda, noite e dia, imóveis como mármores…e com os raios de luar, à vista…encantam e impressionam”…
Os barões do café e a paisagem urbana
Continua Roseli D´Elboux: “…Os barões do café agiram no sentido de melhorar e transformar a vida das cidades…e em Lorena, os Moreira Lima e os Vicente de Azevedo foram os promotores da transformação da paisagem urbana a partir de meados do século XIX”.
Palmeiras Imperiais: a partir de 1884
“…em Lorena,a presença da nova ponte metálica, importada da Bélgica, regulariza o eixo que liga o Largo do Matriz ao Cemitério, e ganhará destaque na paisagem urbana A PARTIR DO PLANTIO, EM 1884, DAS PALMEIRAS IMPERIAIS, resultando em impressionante composição paisagística”.
“No mesmo ano de 1884, foram plantadas as palmeiras do Largo da Matriz, núcleo inicial de Lorena. Já os exemplares do Largo Imperial (atual Praça Arnolfo Azevedo) foram plantados entre 1888 e 1890, trazidos de trem desde a Corte, o Rio de Janeiro”.
50 palmeiras na Praça São Benedito (hoje Praça Conde)
Angela Barreto, em “Lorena – Aspectos Históricos da Câmara Municipal”, diz:”A arborização foi iniciada com o plantio das primeiras palmeiras” (ata da Câmara, de 1º de janeiro de 1884). E em ofício de 26 de dezembro de 1883, da mesma Câmara, fala do surgimento “da nova Praça de São Benedito (hoje Praça Conde de Moreira Lima), no seu embelezamento, quando foram plantadas cinquenta palmeiras e cem árvores”.
Dados conflitantes: anos de plantios diferentes
No antigo jornal “A Voz de Lorena”, de 14 de agosto de 1957, encontramos artigo de Luys de Castellar, sobre a “Praça Arnolfo Azevedo”, dizendo: “As palmeiras, segundo a Resenha Histórica de Faustino César, foram plantadas por ordem do comendador Arlindo Braga, quando presidente da Câmara… Supomos que o tenham sido, por volta de 1882, ano em que foram plantadas as palmeiras da rua Viscondessa de Castro Lima, pelo major Francisco de Oliveira Borges, então na presidência da Câmara Municipal”.
Em 1922, pediram a derrubada das palmeiras da Praça Arnolfo
Dado curioso, publicado em “Lorena – Aspectos Históricos da Câmara Municipal”, de Angela Barreto: “Em 1922, chega à Câmara um pedido de moradores, vizinhos à praça, para que fossem derrubadas todas as palmeiras do jardim, que causam prejuízos aos seus prédios em épocas de tempestades” – (ata de 18 de dezembro de 1922). Diz Angela Barreto: “Ainda bem que nossos vereadores foram sensatos e avaliaram a situação criteriosamente. Assim, evitaram, na época, o corte das palmeiras, e nós pudemos assistir a elas, ainda, em tempos remotos, imperiosas a enfeitar o centro de Lorena”.
Quase 100 anos depois, a morte das Palmeiras!
Quase 100 anos depois, vemos no jornal “O Loreninha”, de 24 de junho de 1967, crônica de L. de C., dizendo: “As velhas palmeiras da avenida Conselheiro Rodrigues Alves estão sendo abatidas pela Prefeitura Municipal… Não vamos, porém, enfocar o debate, se devem sacrificar apenas as condenadas ou eliminá-las totalmente…Que Deus proteja as palmeiras remanescentes, antes que a inclemência do tempo ou o machado dos homens as transformem em lenho seco, morrendo com ele o cognome histórico da cidade”.
“Lá se vão as 47 da rua das Palmeiras”…
E na edição seguinte, de “O Loreninha”, de 1º de julho de 1967, diz: “Das 47 da Rua das Palmeiras, 22 já foram eliminadas. Uma a uma, condenadas ou não, lá se vão as palmeiras imperiais”. E critica severamente o prefeito de então, Antonio Tisséo: “…o prefeito, contrariamente ao que estava previsto, determinou a derrubada de todas as tradicionais palmeiras… símbolos da terra lorenense…devoradas pela fúria de devastação do alcaide”.
Depois da rua das Palmeiras, a vez da Praça Principal
Seis anos depois de abatidas as 47 árvores da rua das Palmeiras, chegava a vez das 34 palmeiras imperiais da Praça Arnolfo Azevedo. O jornal “A Notícia”, de Lorena, em sua edição de 30 de junho de 1973, trazia como manchete principal: “Símbolo de uma era, morrem as palmeiras”. E dizia: “Lorena vê com pesar suas imponentes palmeiras morrerem. Símbolos de uma era de pompa viveram cem anos gloriosos. Marcaram o fastígio de condes e barões, contemplaram, verticais, o crescimento da cidade à sua volta. Um crescer se alongando, lento, mas constante…toda uma época está morrendo”.
“Encerraram seu ciclo vital”, mas “14 ainda estão sadias”
Na edição seguinte, nº 2, de 7 de julho de 1973, “A Notícia” publíca: “…a tendência agora, um pouco melancólica, é solicitar que visitem Lorena antes que as palmeiras se acabem. De acordo com o parecer do engenheiro agrônomo consultado, as palmeiras de Lorena — 34, na Praça Principal — encerraram o seu ciclo vital. Algumas estão sadias ainda, 14, para sermos exatos; no entanto, em poucos anos, a cidade estaria a braços com o mesmo problema”.
“Passei duas noites sem dormir…eu não podia hesitar”
E publica o prefeito, falando: “Eu não podia hesitar. As palmeiras estão morrendo. Estão em pé, mas já estão praticamente mortas, porque o seu tempo de vida, o ciclo de duração vegetal, está vencido. Passei duas noites sem dormir, de pensar. Realmente iria enfear a minha cidade”…
“Já plantei outras…Daqui a 90 anos, o prefeito que se arrume”
Continua o prefeito: “Já plantei outras, – confidencia.-Ficarão tão lindas quanto estas de hoje. Quanto a derrubá-las e constituírem perigo, isso é problema para daqui a noventa anos. O prefeito que Lorena tiver nessa ocasião, que se arrume”, conclui Carlos Marcondes.
Ainda no “A Notícia”: “Assistimos o desaparecimento decretado por imperativo biológico: as belas árvores também estiolan, fenecem… e passam”.
Hoje, são cerca de 300 palmeiras crescendo
Hoje, contamos cerca de 300 palmeiras ao todo, crescendo, espalhadas pela cidade. Algumas já se destacam:
– 33 circundando a Praça Arnolfo Azevedo (das quais 15 já com praticamente metade do tamanho das saudosas imperiais, com copas que já se erguem, soberbas, balançando ao vento, e troncos já avolumados…);
– 31 na rua das Palmeiras;
– 12 na Praça da Catedral;
Não majestosas como as antigas palmeiras imperiais – embora algumas já bem crescidas. Misturam-se altas e baixas, palmeiras imperiais e reais. As reais – com barriga no bojo, embaixo – crescem menos. As imperiais – com tronco reto – crescem mais.
Tanta palmeira por aí…
E elas continuam a existir por aí tudo: ao redor do antigo CTT (Centro de Tradições Tropeiras), por exemplo, há cerca de 50 palmeiras, algumas já bem crescidinhas.
No canteiro central da av.Peixoto de Castro,há cerca de 80 palmeiras, a maioria ainda pequenas.
Há cerca de 20 no Instituto São José (antiga Escola Agrícola).
No retorno da estrada do Shopping, há 10 palmeiras.
Nas adjacências da rotatória da Dutra-Peixoto de Castro, há cerca de 21.
Próximas à ponte da avenida São José,na nova via, há 7 palmeiras.
E mais: 3 ao lado dos Correios, 2 na figueira da Cabelinha; 2 no Ibama; 4 no Santuário de São Benedito: 3 no Palacete Veneziano (Unisal); algumas naPraça Conde; 4 na av.Oswaldo Aranha; 2 em frente à sede do Corpo de Bombeiros; 3 na Escola Paulo Reis. Elas estão espalhadas pela cidade toda, nada majestosas ainda, mas muitas imperiais, crescendo!
Prefeito Fábio Marcondes, assessoria e ruralista Paulo Cesar
É justo e importante ressaltar o trabalho de um quarteto notável neste“reflorestamento” de palmeiras imperiais em Lorena: o prefeito Fábio Marcondes, que está empenhado em resgatar o cognome de “Terra das Palmeiras Imperiais”, inclusive com grandes projetos neste particular; o secretário de Serviços Municipais, Nelson Monte Claro Bittencourt; o secretário de Meio Ambiente, Willinilton Tavares Portugal;e o ruralista Paulo Cesar Nunes de Andrade que, em parceria com a Prefeitura, é quem fornece as mudas das palmeiras imperiais para o plantio.
Bela foto, atualíssima, do fotógrafo “artista” Cláudio Ribeiro, da Comunicação da Prefeitura de Lorena, vendo-se as atuais palmeiras da av.Conselheiro Rodrigues Alves, a tradicional “Rua das Palmeiras”, com o viaduto ao fundo
Belíssima foto da majestosa “rua das Palmeiras”
Foto de 1915, da Praça Arnolfo Azevedo ainda com grades, mas já com as palmeiras
Maravilhosa foto da Praça Arnolfo Azevedo, antigamente, sempre ornamentada com as majestosas palmeiras imperiais
As imponentes palmeiras ornamentando a Praça da Catedral
Não parece, mas é a Praça Conde Moreira Lima, na década de 1930. Hoje, lá está a Biblioteca e já foi Estação Rodoviária
Entre a Praça Conde Moreira Lima e o Santuário de São Benedito, margeando a linha do trem, majestosas palmeiras imperiais
Outra vista panorâmica da saudosa “rua das Palmeiras”
Uma visão panorâmica e saudosa de como era a nossa Praça Principal no tempo das palmeiras imperiais
No Ginásio São Joaquim, havia palmeiras na portaria, além das existentes em frente ao Santuário de São Benedito
No começo do século passado, vista da Praça Arnolfo Azevedo, ainda com grades e já com as palmeiras imperiais. Vista do hoje calçadão
Praça Arnolfo Azevedo, nos tempos das grades, entre 1910 e 1931, com as palmeiras imperiais circundando-a
Ao fundo, as palmeiras. Em destaque, a antiga fonte luminosa, na Praça Arnolfo Azevedo
Como era a área da Praça Conde Moreira Lima, na década de 1930, com as palmeiras imperiais ao lado da linha do trem
Vistas do campo do Hepacaré, as majestosas espécies da “rua das Palmeiras”
A Praça Arnolfo Azevedo, na década de 1920, com portões e grades, coretos, e palmeiras
Praça Conde Moreira Lima, na década de 1930, vendo-se à esquerda o Hotel Rocha
Fotos históricas, inéditas, do corte das palmeiras, na Praça Arnolfo Azevedo, em 1973. Do Arquivo da Biblioteca Municipal “Sérvulo Gonçalves”
Juanita, Pesciotta, Ércio & plêiade
Faço questão de registrar o valor incomensurável do magnífico trabalho da professora Juanita Leite Marcondes, à frente da Sociedade dos Amigos da Cultura de Lorena, editando vários livros sobre a história de Lorena, dos quais destaco, com entusiasmo invulgar, os quatro álbuns “Memórias de Lorena em Fotos & Palavras”, de onde extraí a maioria das inefáveis fotos do professor Ércio Molinari, que ilustram meus “Flashes Históricos de Lorena”.
Juanita faz questão de ressaltar sempre o trabalho e a liderança do professor Nelson Pesciotta, nesta empreitada que é incomparável para a cultura de Lorena! E, principalmente, do professor Ércio Molinari, colecionador apaixonado, por décadas, das centenas de maravilhosas fotografias e documentos da história de nossa cidade, que compõem os 4 álbuns dos quais, como já disse, são originárias as ilustrações dos meus “Flashes Históricos de Lorena”. Por justiça e merecimento deles – Juanita, Pesciotta e Ércio –, liderando uma plêiade fantástica, faço questão de registrar sempre estes reconhecimento e agradecimento.
João Bosco Pereira de Oliveira, também conhecido como “Paçoca”, é jornalista e manteve por 40 anos o Jornal Guaypacaré, um grande marco e recorde na história da Imprensa de Lorena! 40 anos de trabalho patrocinado por anunciantes e assinantes, sem nunca ter sido mantido politicamente!
Em 1976, foi o vereador mais jovem e mais votado de Lorena, o único a recusar, por vontade própria, a “aposentadoria parlamentar”, por considerá-la imoral e injusta. Com 18 anos, foi recebido pelo presidente da República, pedindo “democracia” em pleno tempo em que não havia abertura política. Naquela época, também foi o mais jovem candidato a deputado estadual do Brasil.
Comendador 3 vezes, desde menino, trabalhou em outros jornais, antes de fundar o seu Guaypacaré. Foi jornalista responsável por inúmeros jornais de cidades vizinhas. Fundador e Presidente de Honra do Grupo Escoteiro Guaypacaré, que está prestes a comemorar 50 anos.
Teve programas nas rádios Cultura AM e Colúmbia FM. São 50 anos de jornalismo, boa imprensa, sem nenhum processo por calúnia, injúria ou difamação.
Também é membro fundador da Academia de Letras de Lorena e agora, passa a registrar a história da sua cidade de nascimento e de coração de acordo com suas detalhadas pesquisas.
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