O aumento do nível de açúcar no sangue, no início da gravidez, aumenta o risco de o bebê nascer com um defeito cardíaco congênito, mesmo entre as mães que não têm diabetes, aponta um estudo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, publicado on-line no Journal of Pediatrics.
Os profissionais de saúde já sabem que as mulheres com diabetes enfrentam um risco maior de dar à luz a bebês com defeitos cardíacos. Alguns estudos também sugerem um vínculo entre os níveis de açúcar no sangue das mães não diabéticas e o risco de defeito cardíaco dos bebês. No entanto, o novo estudo é o primeiro a examinar esta questão no primeiro trimestre da gravidez, quando o coração do feto está se formando.
“A maioria das mulheres que dá à luz a uma criança com doença cardíaca congênita não é diabética. Os autores descobriram que as mulheres que ainda não têm diabetes ou que desenvolvem diabetes, durante a gravidez, podem medir o risco de ter uma criança com doença cardíaca congênita, medindo os valores da glicose durante o primeiro trimestre de gravidez”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Uma pesquisa desafiadora
Um desafio associado à realização da pesquisa foi o fato de que a glicemia no sangue não é rotineiramente medida em mulheres grávidas não diabéticas. Em vez disso, as mulheres normalmente fazem um teste de tolerância oral à glicose, na metade da gravidez, para determinar se elas têm diabetes gestacional, mas este teste é realizado muito depois que o coração do feto se formou.
A equipe de pesquisa analisou registros médicos de 19.107 pares de mães e seus bebês nascidos entre 2009 e 2015. Os registros incluíram detalhes do atendimento pré-natal, incluindo os resultados do exame de sangue e quaisquer diagnósticos cardíacos feitos para os bebês, durante a gravidez ou após o nascimento. Os bebês com doenças genéticas, aqueles que nasceram de gravidezes múltiplas e aqueles cujas mães apresentaram medidas extremamente baixas ou altas do índice de massa corporal não foram incluídos no estudo. Dos bebês do estudo, 811 foram diagnosticados com doença cardíaca congênita.
Os pesquisadores analisaram os níveis de glicose no sangue de qualquer amostra coletada das mães entre quatro semanas antes da data estimada da concepção e no final da 14ª semana gestacional, logo após a conclusão do primeiro trimestre da gravidez. Esses dados sobre a aferição precoce da glicose no sangue estavam disponíveis em relação a 2.292 mulheres no estudo, ou seja, 13%. Os pesquisadores também analisaram os resultados dos testes de tolerância oral à glicose, realizados em torno de 20 semanas de gestação, que estavam disponíveis em relação a 9.511 mulheres no estudo, ou, pouco menos da metade das participantes do estudo.
Quando o risco é elevado
“Depois de excluir as mulheres que tiveram diabetes, antes da gravidez, ou que a desenvolveram durante a gravidez, os resultados mostraram que o risco de dar à luz a uma criança com defeito cardíaco congênito foi elevado em 8%, a cada aumento de 10 miligramas nos níveis de glicose no sangue nos estágios iniciais da gravidez”, diz o pediatra Moises Chencinski.
O próximo passo na pesquisa é realizar um estudo prospectivo que acompanhará um grande grupo de mulheres, durante a gravidez, para ver se os resultados serão confirmados. Se os pesquisadores encontrarem a mesma relação, poderá ser útil medir a glicemia no início da gravidez, em todas as mulheres grávidas, para ajudar a determinar quais indivíduos correm maior risco de ter um bebê com defeito cardíaco.
“Poderíamos usar as informações sobre glicemia para selecionar mulheres para um rastreio do coração fetal. Os exames de imagem pré-natais permitem diagnósticos detalhados de muitos defeitos cardíacos congênitos antes do nascimento. Conhecer os defeitos previamente melhora o pré-natal em si, porque as mães podem receber cuidados especializados que aumentam as chances de os bebês serem mais saudáveis após o nascimento”, observa o pediatra.
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