O acesso aos acervos de jornais por meio eletrônico trouxe a possibilidade de se fazer descobertas antes inimagináveis na busca individual de cada periódico do passado. Deleito-me quando pesquisadores anunciam uns versos perdidos de um poeta ou um texto desconhecido, escrito sob pseudônimo, de um autor já bastante estudado. Assim aconteceu com Euclydes da Cunha e, recentemente, com Lima Barreto.
O pesquisador Felipe Rissato descobriu três crônicas de Lima Barreto em um periódico que tratava inusitadamente de teatro e esportes, sendo que o autor de “Triste fim de Policarpo Quaresma” era explicitamente contrário ao futebol. Em troca de mensagens com o pesquisador, ressaltei que a revista anunciava o cronista como muito mais frequente em suas páginas, o que não justificava apenas as três encontradas. Felipe me respondeu que era prática naquele tempo o veículo fazer essa propaganda enganosa, pois o renome do escritor, ainda que com contribuições esporádicas, trazia mais interesse para a revista. Ou mesmo quando o escritor nunca ali escrevera, o que pode ter acontecido com Machado de Assis, anunciado como colaborador sem nunca ter fornecido material para publicação em certos impressos. Um dado importante, para não se ficar escarafunchando nas entrelinhas de documentos com baixa resolução de impressão à busca de textos citados, porém não publicados.
Eu mesmo pude contribuir com a revista Fapesp que fizera reportagens sobre os primórdios da divulgação em jornais paulistas, no Estadão e Folha de S. Paulo, e localizei um artigo anterior ao mencionado, uma vez que busquei por pedaços da expressão que continha “scientifica”, conforme grafia da época.
Essas ferramentas de busca online são um elemento a mais para reconstruir o caminho trilhado pelo escritor para conceber sua obra. E também para a ciência recontar sua história.
Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.
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