O primeiro Trem
Em “Gens Lorenensis”, Antonio da Gama Rodrigues registra, às páginas 79 e 80: “A 7 de julho de 1877, chega a Lorena o primeiro trem-de-ferro, da Companhia Estrada de Ferro S. Paulo e Rio de Janeiro, ligando a capital da Província à ponta dos trilhos da Estrada de Ferro Pedro II, que haviam alcançado o Porto de Cachoeira, e para o qual os capitais lorenenses largamente concorreram”. Nossa Câmara Municipal, na época, esbravejou muito pelos trilhos terem chegado primeiro a Cachoeira e não a Lorena! O “Jornal Hepacaré”, de 12 de julho de 1877, assim anuncia o auspicioso fato da festa pelo primeiro trem: “… Tocaram constantemente duas bandas de música e na passagem do trem, duas meninas lançaram flores desfolhadas sobre ele, sendo dados diversos Vivas pelo presidente da Câmara e freneticamente correspondidos pelo povo… Foi esse um grande passo no progresso da cidade, e decisivo no seu desenvolvimento”.
Imperador inaugura a Estação
No “Anuário de Lorena 1986”, do “Jornal Guaypacaré”, Luys de Castellar conta, na “História de Lorena”, à página 9: “Em 29 de julho de 1877, com a presença do Imperador, do Conde D´Eu e do Visconde do Rio Branco, inaugurava-se a Estação Ferroviária da Cia. São Paulo e Rio de Janeiro, que ligava seus trilhos aos terminais, em Cachoeira, da Estrada de Ferro Dom Pedro II”. Ainda no “Anuário de Lorena 1986”, em “Alguns dados histórico-cronológicos de Lorena”, à página 62: “Na inauguração da Estação Ferroviária, é seu 1º Agente, Gualter de Oliveira Pinto, e 1º Telegrafista, Francisco de Paula”.
SP-Rio em 15 horas – Presidentes
“A primeira viagem de trem entre Rio de Janeiro e São Paulo, em 1877, levou 15 horas”, afirmou José Luiz Pasin, na Câmara de Lorena, comemorando o centenário da inauguração da Estação Ferroviária da cidade. O registro foi publicado no “Jornal Guaypacaré” de 10 de julho de 1977, à página 3. E continuou: “Hoje, cem anos depois, em 1977, leva 10 horas, geralmente com duas horas de atraso; portanto, 12 horas… e melancolicamente, estradas de ferro paralisadas, trens trafegando ociosos… é um desafio o problema dos transportes ferroviários”. Pasin relembrou ainda “o valor social da ferrovia no passado… basta cotejar os jornais para ver o papel da estrada de ferro na campanha civilista de Rui Barbosa, as passagens de inúmeros presidentes da República, tais como Campos Sales, Prudente de Moraes, Rodrigues Alves e tantos outros…”
O Ramal Férreo Lorena a Piquete
Aroldo Azevedo, em “Arnolfo Azevedo – Parlamentar da Primeira República”, conta, às páginas 186 e 187: “Desde que, em 1904, ficara resolvido instalar em Piquete a Fábrica de Pólvora sem Fumaça, Arnolfo Azevedo começou a sonhar com a ligação ferroviária entre Lorena e o sul de Minas Gerais. À sua iniciativa deve-se a construção de uma via férrea entre Lorena e Piquete… alcançando grande vitória… A 15 de setembro de 1906, por entre grandes festas, o Marechal Francisco de Paula Argolo, Ministro da Guerra, teve a oportunidade de inaugurar”. Registrada com pormenores pelos jornais da época, particularmente o “Jornal do Comércio”, o “Jornal do Brasil”, o “Correio da Manhã”, “O País” e “O Estado de São Paulo”, em suas edições de 16 e 17 de setembro de 1906.
Estratégico para a Segurança Nacional
Faustino Cesar, em “Resenha Histórica de Lorena”, 1928, diz: “O ramal férreo Lorena a Piquete só não desapareceu porque é considerado estratégico, de interesse para a segurança nacional, vinculando a Estrada de Ferro Central do Brasil à maior indústria de pólvora e explosivos do então Ministério da Guerra, estabelecimento que abastece as Forças Armadas do Brasil “.
Aclamavam os trens
Pasin, no Jornal Guaypacaré de 10 de julho de 1977, disse ainda: “Todos aclamavam a passagem dos trens, comunicavam através da imprensa, com antecedência, uma viagem a ser feita para o Rio ou São Paulo… e os amigos iam todos à estação acompanhando o passageiro”… Havia os “footings” com as moças e rapazes, famílias passeando, indo e vindo, em frente à Estação… hotéis, pensões e pousadas, bares e restaurantes, pontos de charretes e de “automóveis de aluguel”… Movimento constante, “points” que eram as badaladas adjacências da Estação de trens.
Vagão especial, no Rápido da Central
Aroldo Azevedo, em “Arnolfo Azevedo – Parlamentar da Primeira República”, registra, à página 257: “Do Brasil inteiro, recebia Arnolfo Azevedo homenagens e aplausos por sua investidura na presidência da Câmara Federal. Uma consagração”. E descreve “Viagem Triunfal – … no dia 12 de junho de 1921, partiu da cidade do Rio de Janeiro, em carro especial engatado à composição do Rápido da Central do Brasil, com destino ao seu Vale e à sua terra natal”.
Trem ansiosamente esperado
O jornal “O Norte Paulista”, de Lorena, de 19 de junho de 1921, publicou: “… Às 13 horas, já era impossível o trânsito nas plataformas da estação de Lorena, tamanha a massa popular que ali se aglomerara. Precisamente 20 minutos depois, chegava o trem tão ansiosamente esperado: foi um momento de indescritível satisfação, entusiasmo e júbilo do povo que ali se achava…
Desligou-se do Rápido paulista o vagão especial… No dia 14, Arnolfo Azevedo e sua família regressaram ao Rio de Janeiro, utilizando-se do vagão reservado, que foi ligado ao Rápido da Central do Brasil”.
Presidente inaugura a nova Estação
Ainda Aroldo Azevedo, em “Arnolfo Azevedo – Parlamentar da Primeira Repúlica”, à página 261: “No dia 18 de agosto de 1921, Arnolfo Azevedo, como presidente da Câmara dos Deputados, acompanha o dr. Epitácio Pessoa, presidente da República, que de trem se dirigia para São Paulo… chegando o comboio presidencial à cidade de Lorena, por volta das 18 horas. Banda de música e populares homenagearam o Chefe da Nação que, em cerimônia rápida, declarou inaugurada a nova estação ferroviária da cidade e foi obsequiado com flores”.
O “Piqueteiro” – Maria Fumaça
Luys de Castellar publicou no Jornal “Atualidades”, de 2 de abril de 1977, à página 3, artigo intitulado “Maria Fumaça”, registrando fatos dos idos de 1920 a 1930, do trem que era popularmente chamado de “Piqueteiro”, porque fazia a linha Lorena-Piquete, transportando principalmente os funcionários da Fábrica Presidente Vargas.
Era a Estrada de Ferro Central do Brasil e o trem saía de Lorena às 5 e meia da manhã. “Bufava soltando baforadas de fumaça do seu pulmão de aço, enquanto o foguista… escancarava a boca da fornalha para abastecê-la com lenha ou carvão”…
1a e 2a classes – Picotavam os bilhetes
… “Os carros de passageiros eram de primeira classe, com poltronas de assentos de palhinha, confortáveis, e de segunda classe, com bancos de madeira, duríssimos e desconfortáveis”.
O trem fazia o barulho “tuc-tuc-tuc-tuc” e um funcionário “picotava os bilhetes”…
As paradas e estações
…”Havia as paradas da Ponte Nova, Estação de Angelina, passando pela Fazenda Amarela… e na Estação de Coronel Barreiros, ao pé da serra, a máquina se abastecia de água. Mais duas paradas: Francisco Ramos, próximo à Cachoeirinha, e em Bela Vista. Depois a Estação de Piquete, até a Estação da Estrela do Norte. Finalmente a Estação de Limeira, nos portões da Fábrica”.
Uniformes azuis, “café-com-pão… café-com-pão…”
Os operários da Fábrica Presidente Vargas usavam uniformes azuis; o trem – Maria Fumaça – passava pela Figueira da Cabelinha (ainda hoje existente), pelo aterro até a Ponte Nova, sobre o Rio Paraíba. Esta ponte foi obra de Euclydes da Cunha, e ainda existe até hoje. Os poetas consagraram o movimento da Maria Fumaça com o “café com pão, café com pão”… o ranger das rodas sobre os trilhos, o apito, a fumaça negra pela chaminé, espirrando água quente, fervendo, por ser movida a vapor, com fornalha a carvão… Eram longas e muito apreciadas as demoradas manobras do “Piqueteiro” no centro de Lorena, próximo à Estação.
Ponte de Euclydes da Cunha
Francisco Sodero Toledo conta, à página 55 de seu livro “Doutor Euclydes – A transformação de um obscuro engenheiro no consagrado escritor Euclydes da Cunha”, de 2017, sobre “A construção de pontes”. Falando dos anos em que Euclydes residiu em Lorena, registrou: “… procurou resolver o problema das pontes. Trabalhou sobre a construção de 11 delas sobre o Rio Paraíba, entre elas, em Lorena… Foi dele também o estudo e projeto do novo aterro para a cabeceira da ponte de estrada de rodagem que ligava Lorena a Piquete, sobre o Rio Paraíba do Sul. A ponte que existia anteriormente fora aproveitada, sendo reforçada por vigas de ferro em duplo T, que lhe deram a necessária solidez e resistência para sua utilização como via férrea. Ela foi inaugurada em 14 de novembro de 1902, quando por ela atravessou a primeira composição, perfazendo o trecho inicial, até a Estação de Angelina”…
Cortada ao meio e dinamitada
Continua Francisco Sodero Toledo: “Essa ponte serviu tanto para a passagem de veículos e pedestres que trafegavam pela estrada de rodagem, como para a via férrea. Como aconteceu na ponte de Cachoeira Paulista, em setembro de 1932, em função de estratégia militar durante o movimento armado, ela foi cortada ao meio e dinamitada nas duas cabeceiras, sob o pretexto de necessidade militar. Posteriormente, teve sua bitola alargada para 1,20 metro, permanecendo no mesmo lugar e exercendo suas funções”.
Fim do trem “Piqueteiro”
O Jornal “A Cidade”, de 19 de janeiro de 1978, publicou, em primeira página: “Fim do Trem Piqueteiro – O ramal férreo que há mais de 70 anos funcionou para atendimento principalmente dos funcionários da Fábrica Presidente Vargas, finalmente está inativo. Superado pela via de acesso rodoviário, desde a retificação e asfaltamento da ligação entre as duas cidades, o Trem Piqueteiro passou a ser deficitário e a RFFSA acabou por suspender suas atividades”…
AGUARDE A CONTINUAÇÃO DE “OS TRENS EM LORENA”
Foto de 1950: a “Maria Fumaça” passando ao lado do chaminé do Engenho Central, no ramal ferroviário Lorena à Piquete.
A Estação dos trens, na década de 1940, com a “Maria Fumaça” na plataforma à direita.
A ponte metálica sobre o rio Paraíba, inaugurada há 15 de setembro de 1906, no ramal férreo Lorena – Benfica (Piquete).
A Estação Ferroviária no início do século XX
O trem passando pela Praça Conde Moreira Lima, na década de 1920. Reparem nas 7 palmeiras imperiais e, ao fundo, na Santa Casa de Lorena.
Depois de dinamitada na Revolução de 1932, a ponte metálica sobre o rio Paraíba, sendo restaurada.
Na década de 1920, no ramal férreo Lorena-Piquete, a “Maria Fumaça” parava também na pequena estação Cel. Barreiro.
Década de 1920, Estação de parada Angelina, no ramal férreo Lorena-Piquete, onde a “Maria Fumaça” também parava. Localizada nos fundos da Fazenda Amarela.
Os trilhos, a chaminé, vagão e o antigo Engenho Central.
Em 1910, o Engenho Central, inaugurado dia 4 de outubro de 1884, na mesma área onde hoje é o Clube Comercial.
Na década de 1910, ao fundo a Estação dos trens. O ramal à direita pertencia ao antigo Engenho Central e passava ao meio da atual Praça Conde Moreira Lima, em direção à Avenida Capitão Messias Ribeiro, até a zona rural: Santa Lucrécia, para transportar cana de açúcar. Notem a caixa d´água que servia às “Maria Fumaça”.
Em 1948, na Estação Ferroviária, a “Maria Fumaça” puxando inúmeros vagões.
A locomotiva do Engenho Central de Lorena que puxava cana de açúcar no ramal próprio do Engenho.
O distintivo da locomotiva do Engenho Central de Lorena. Vê-se que foi fabricada em 1883, nos Estados Unidos.
As fotos que ilustram esta matéria são extraídas dos livros “Memórias de Lorena em Fotos e Palavras, da Sociedade dos Amigos da Cultura de Lorena e Secretaria de Cultura de Lorena.
João Bosco Pereira de Oliveira, também conhecido como “Paçoca”, é jornalista e manteve por 40 anos o Jornal Guaypacaré, um grande marco e recorde na história da Imprensa de Lorena! 40 anos de trabalho patrocinado por anunciantes e assinantes, sem nunca ter sido mantido politicamente!
Em 1976, foi o vereador mais jovem e mais votado de Lorena, o único a recusar, por vontade própria, a “aposentadoria parlamentar”, por considerá-la imoral e injusta. Com 18 anos, foi recebido pelo presidente da República, pedindo “democracia” em pleno tempo em que não havia abertura política. Naquela época, também foi o mais jovem candidato a deputado estadual do Brasil.
Comendador 3 vezes, desde menino, trabalhou em outros jornais, antes de fundar o seu Guaypacaré. Foi jornalista responsável por inúmeros jornais de cidades vizinhas. Fundador e Presidente de Honra do Grupo Escoteiro Guaypacaré, que está prestes a comemorar 50 anos.
Teve programas nas rádios Cultura AM e Colúmbia FM. São 50 anos de jornalismo, boa imprensa, sem nenhum processo por calúnia, injúria ou difamação.
Também é membro fundador da Academia de Letras de Lorena e agora, passa a registrar a história da sua cidade de nascimento e de coração de acordo com suas detalhadas pesquisas.
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