Um dos profissionais mais renomados do País, o prof. dr. Paulo Gentil esteve em Lorena no dia 1º de setembro – Dia do Profissional de Educação Física. Prof. Paulo veio para ministrar o curso “Bases científicas do treinamento para hipertrofia”, organizado pela empresa Elfoco, do professor Michel Francis. Renovando o conhecimento, estiveram presentes cerca de 150 profissionais, no Teatro Teresa D’Ávila, no UniFatea.
O curso foi realizado durante todo o dia. No intervalo para o almoço, prof. Paulo Gentil concedeu entrevista exclusiva para o Portal O Lorenense, falando sobre assuntos interessantes relacionados à prática de atividade física, baseado em evidências científicas, e que são alvos de diversas dúvidas da população brasileira. Confira:
Prof. dr. Paulo Gentil ao centro, ao lado do organizador do curso, prof. Michel Francis, e sua esposa Fabiana Lima (à esquerda); e da professora Lisa Antero (Secretaria de Esportes de Lorena) e do prof. Fábio Matos (sua organização esportiva, a MATOSTT, patrocinou 40% do curso para 10 profissionais de Educação Física)
PORTAL O LORENENSE – Segundo pesquisa recente divulgada pelo Ministério da Saúde, mais da metade da população brasileira está acima do peso. Gostaríamos que você relacionasse esse número com a prática de atividades físicas.
PROF. DR. PAULO GENTIL – Hoje, mais da metade da população brasileira ainda é sedentária e temos mais de 60% dos brasileiros com sobrepeso. Durante muito tempo, foi discutido se esses dados eram relacionados à alimentação, aos maus hábitos de vida… E atualmente, já temos estudos mostrando que o padrão de atividade física influencia muito na questão do excesso de peso.
Tem um estudo clássico, publicado por pensadores ingleses, que acompanharam a evolução da obesidade ao longo dos anos e verificaram que a ingestão calórica não aumentou e nem a ingestão de gordura, mas a obesidade continuou subindo.
Quando colocaram no gráfico, além da curva da obesidade, incluíram também a quantidade de televisões que as pessoas têm em casa, a quantidade de horas que as pessoas passam em frente à TV, o número de carros que as pessoas têm em casa… E foi possível verificar um aumento bem paralelo ao aumento da obesidade.
E hoje, a gente sabe que as pessoas têm que modificar essa situação por meio do exercício. Nesse sentido, o profissional de Educação Física é essencial, porque é ele quem tem o estudo, a formação para intervir diretamente em atividade física. E quando eu falo em intervenção, não falo apenas de maneira individualizada, como personal trainer ou exclusivamente do trabalho em academias. Falo também desse profissional dentro de políticas públicas de saúde, orientação, em postos de saúde… As pessoas precisam entender que exercícios não são feitos somente em ambientes especializados. Com orientação adequada, elas podem fazer em suas casas, no seu bairro, onde elas quiserem e for possível.
PORTAL O LORENENSE – E para quem nunca praticou atividade física ou está inativo há muito tempo, qual o conselho que você dá pra quem quer começar?
PROF. DR. PAULO GENTIL – Primeiro de tudo: comece! Mas é importante que você procure atividades que, em princípio, sejam adequadas ao seu estilo de vida e às suas possibilidades. Não adianta nada você ficar empolgado com atividades que sejam difíceis de serem incluídas na sua rotina. Por exemplo, se você escolhe fazer algo que tenha que dirigir uma hora pra ir, outra pra voltar, fica difícil, porque em pouco tempo, isso vai se tornando um peso na sua vida e as possibilidades de você desistir são grandes.
O ideal é você começar a encaixar a atividade física na rotina e, aos poucos, entendê-la como parte real de sua rotina. Porque depois de um tempo que a atividade física se incorpora no seu dia a dia, ela deixa de ser sacrificante e se torna parte da sua vida, do seu ritual. Ela se torna como o ato de acordar, escovar os dentes…
Importante dizer também que não adianta a pessoa procurar a atividade ‘da moda’ ou porque houve pressão externa, se aquilo não fizer sentido pra ela. Se não for adequado biologicamente e nem psicologicamente pra uma pessoa, não vai funcionar.
PORTAL O LORENENSE – Temos dois cursos de Educação Física em nível superior na região: um em Cruzeiro e outro em Lorena. Mas cursos de aprimoramento profissional, como este que está sendo ministrado hoje, não acontecem com frequência por aqui. Qual a importância da participação dos profissionais de Educação Física em cursos como os promovidos pela Elfoco?
PROF. DR. PAULO GENTIL – Hoje, estamos comemorando 20 anos de profissão. Mas isso não é nada! Essa nossa profissão é muito nova e a quantidade de conhecimento que vem sendo produzido na área de Educação Física vem aumentando de maneira exponencial.
Hoje, neste curso em Lorena, estou falando especificamente de Musculação. Mais de 90% de toda a literatura científica de Musculação tem menos de 10 anos. Mais de 60% dessa literatura tem menos de 4 anos. Então, a cada ano, surge muita informação nova. E isso não está sendo acompanhado pelos profissionais.
A gente tem hoje um mercado em que 90% das pessoas entendem a importância da atividade física, mas menos de 5% vão exercer essa atividade de maneira orientada. É uma distância muito grande… Como é que todo mundo sabe que a atividade física é importante, mas a maioria não procura um profissional pra executar essa atividade de maneira correta? É porque o profissional não se estabelece como referência. Como é que acreditam na blogueira, no artista, e não acreditam no professor? É porque ele não demonstra conhecimento. Se ele não acompanha, não se atualiza, não ganha representatividade.
Eu sou pesquisador, estou produzindo conhecimento o tempo todo, rodando o mundo. Isso não me torna melhor que ninguém, mas me dá acesso a muita coisa. E esse momento de curso é o momento que eu tenho de compartilhar o que está na ponta, o que estão descobrindo. Porque quem está trabalhando 10, 15 horas por dia, não vai ter tempo pra parar e fazer pesquisa. Por isso os cursos são importantes: para que os professores tenham acesso à informação de qualidade.
PORTAL O LORENENSE – Não é incomum que se ouça a informação de que 70% a 90% da perda e manutenção do peso está relacionada exclusivamente à alimentação. E que somente a porcentagem restante estaria relacionada à prática de atividade física. Não seria um desestímulo a quem é sedentário?
PROF. DR. PAULO GENTIL – Essa informação está absurdamente errada. Eu desafio quem fala isso a mostrar qualquer evidência científica mostrando essa proporção.
Vou usar como exemplo dois estudos importantes feitos nos Estados Unidos: 67% das mulheres americanas e mais de 40% dos homens estão fazendo dieta neste momento para perder peso, num país que tem mais de 1/3 da população obesa. E a proporção de pessoas fazendo dieta nos Estados Unidos vem aumentando há 50 anos. A cada dia, mais pessoas fazem dieta. E a cada dia estão mais obesas.
Num sistema público de saúde que segue essas teorias convencionais de emagrecimento, a possibilidade de uma pessoa com IMC acima de 40 recobrar o peso normal em 9 anos é de 1 em 1270. É um absurdo a taxa de possiblidade de sucesso com os modelos comuns. Então, eu acho que as pessoas têm que parar de querer puxar a sardinha pra um lado ou pro outro e entender que temos um problema muito grande.
Agora mesmo, acabamos de coletar dados de um aluno meu de mestrado que demonstram que conseguimos fazer mulheres perderem 30% da gordura corporal, aumentando a quantidade de comida em 100%. Então, um não é mais importante que o outro. Você vai encontrar casos de pessoas que emagrecem com exercícios, casos de pessoas que emagrecem com dieta… e eu não posso valorar. Mas tenho certeza de uma coisa: os dois juntos é o melhor que a pessoa pode fazer por si mesma.
Costumo dizer que um processo de saúde ou de emagrecimento sustentável é igual à construção de uma laje. Ele é sustentado por dois pilares: um é o exercício e o outro é a alimentação. Isso só vai se sustentar enquanto os dois estiverem erguidos. Se você tira um, não interessa qual dos dois você tira, a estrutura desmorona.
Então, eu desafio novamente qualquer pessoa que fala sobre essa porcentagem de qual é mais importante, a mostrar um dado científico. Isso não existe.
PORTAL O LORENENSE – Você falou de políticas públicas envolvendo o profissional de Educação Física. Que tipo de ações o município pode adotar para melhorar a qualidade de vida de sua população e incentivar a prática de atividades físicas?
PROF. DR. PAULO GENTIL – Como eu já disse, fazer atividade física não é só ir pra academia. Os municípios podem investir em políticas públicas que vão melhorar a qualidade de vida e incentivar a prática de exercícios em vários níveis.
Nós temos as iniciativas pontuais. Por exemplo, os Programas de Saúde da Família, os programas de assistência nos bairros…. A pessoa chega com diabetes, hipertensão, e recebe remédio e orientação em relação à alimentação. Mas nesse atendimento, ela também pode ter contato com um profissional de Educação Física para ter orientações sobre como mudar seu estilo de vida. E isso é muito importante.
Hoje, nós temos um movimento muito forte para diminuir a presença da Educação Física na formação básica. As pessoas estão querendo tornar isso opcional ou até mesmo remover da grade curricular… Mas aí a gente entra num problema grave, de formação de hábitos numa criança.
E depois a gente passa pra um outro nível, que é o problema da assistência às pessoas que já estão adoecidas, que é a inserção de profissionais de Educação Física nos hospitais. Isso é uma coisa que eu faço hoje. Então, um paciente oncológico recebe quimioterapia, mas também recebe orientação sobre o tipo de exercício ele deve fazer. Dentro do hospital, inserimos um espaço de exercícios. E o que a gente descobre? Que quem faz exercício fica menos tempo internado, volta menos e recebe menos remédio. Essa pessoa custa muito menos para o sistema público de saúde. Diminui sofrimento humano e também os encargos financeiros.
É preciso incluir Educação Física na formação básica, para formar hábitos. Na prevenção, inserir políticas em espaços públicos, com professores em quadras, bairros, orientando atividades, aulas coletivas, caminhadas com idosos, conduzindo práticas esportivas com crianças…
Inserir o profissional de Educação Física nos programas de assistência de saúde já existentes. E também nos centros grandes, que são os hospitais. Custa absurdamente pouco e o retorno é muito alto, em termos de prevenção e em questão humana.
Prof. dr. Paulo Gentil e o prof. Guinho Velloso
Sobre o prof. dr. Paulo Gentil
Paulo Gentil é graduado em Educação Física; pós-graduado em Musculação, em Treinamento de Força e em Fisiologia do Exercício; mestre em Educação Física; doutor em Ciências da Saúde. Professor da Universidade Federal de Goiás. Treinador de Força de atletas de alto nível. Presidente do GEASE (Grupo de Estudos Avançados em Saúde e Exercício). Membro da National Strength and Conditioning Association (NSCA) e do European College of Sport Science (ECSS). Autor dos livros “Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia” e “Emagrecimento: Quebrando Mitos e Mudando Paradigmas”.
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