Por José Aurélio Pereira*
O garoto negro de 17 anos mostrado em vídeo sendo chicoteado nu é um retrato da falta de bom senso. Quatro barras de chocolate foram suficientes para a soltura dos bichos enjaulados nas carcaças aparentemente inofensivas daquelas criaturas remuneradas para, ironicamente, dar segurança.
O fato que aconteceu em unidade do supermercado Ricoy, anteontem, na Vila Joaniza, zona sul da capital paulista, fala por si. Vigilantes intolerantes e despreparados agiram covardemente exalando insegurança e frustração. Vitimaram o rapaz humilde que queria comer. Comer um doce. E resolveram tirar o doce da boca da criança. Le da pior maneira possível.
O boletim de ocorrência registrou que os algozes do garoto, juntos, o levaram “até um quarto nos fundos da loja” e o despiram, amordaçaram-no e o amarraram. Torturaram-no com “um chicote de fios elétricos trançados” durante 40 minutos. O caso, uma narração brutal, será investigado pelo delegado Pedro Luis de Sousa, do 80º distrito policial.
Não se deve justificar o furto de um bem, qualquer que seja- isso inclui uma ou mais barras de chocolate.
Entretanto, é inexplicável a proporção dada ao desvio por gente desqualificada para julgar. Tortura nunca foi nem nunca será solução.
O nosso povo já sofre demasiadamente pelos descalabros recorrentes da corrupção e do desrespeito aos cofres públicos. A injustiça social é recorrente, faz parte do cotidiano. Já somos naturalmente açoitados pela desconfiança nas instituições, teoricamente, pagas para defender os nossos interesses.
Saibamos olhar o outro com um pouco de empatia. Porque já é tempo de conhecer e entender as causas. Só assim resolveremos inteligentemente os efeitos. E seremos um povo melhor e mais evoluído. É isso.
* José Aurélio Pereira é jornalista e empresário