O homem de hoje tem participação mais ativa na sociedade. As redes sociais banalizaram o conteúdo e pessoas sem formação transformaram-se em jornalistas. Estes, por sua vez, acuados, tiveram que se reinventar.
No começo, propagaram o termo “fake news” para designar conteúdo falso. Passaram a ideia de que apenas notícias publicadas por veículos de histórico ilibado eram factíveis.
Recentemente, nas celebrações de aniversário do Jornal Nacional, lançou-se o slogan: “se saiu no JN é verdade”.
Mesmo com tanta campanha contrária, a produção de conteúdo por populares não se intimidou. E elegeu o presidente da República.
O rebuliço na mídia era gigante. A figura do jornalista dotado de superpoderes para falar o que quisesse da vida alheia ruiu.
Nesta semana vimos dois exemplos de que os valores jornalísticos andam frágeis. Profissionais da revista Época foram demitidos após publicarem matéria baseada em gravação não consentida de sessão de terapia. A terapeuta era a esposa de Eduardo Bolsonaro, filho de Jair Bolsonaro.
Constatou-se que faltaram com a ética. E o grupo Globo pediu desculpas, inclusive em seu veículo de televisão, a TV Globo, por meio do Jornal Nacional. Ou seja, o que sai no JN não é tão verdade assim.
Afinal, “jornalistas cometem equívocos”, dizia a nota lida pela âncora. E se cometem erros, não são dotados de superpoderes.
O Grupo Globo sempre se pautou por valores profissionais. Tanto que, em nome do jornalismo de raiz, transmitia o conteúdo com certa frieza. Não era possível chorar no ar, por exemplo. E quem o fizesse, como Ivan Moré, era demitido. Não era possível dar palestras. Quem desse, como Dony De Nuccio, era cortado.
Nesta semana, aqui vai o meu segundo exemplo, a experiente Ana Luíza Guimarães chorou no ar após falar da morte de pai e filho no bairro de Higienópolis, no Rio de Janeiro. Outra demissão? Não.
Agora a Globo erre seus profissionais podem chorar. Revisão de valores? Sim. No jornalismo, na vida, no poder.
Esta revisão é benéfica. É preciso sempre se questionar sobre a conduta e melhorá-la.
Jornalistas e cidadãos devem se pautar pela ética. Ninguém pode falar do outro inconsequentemente. Inventar história a respeito das pessoas fere o princípio dos bons costumes em qualquer segmento.
O jornalista jurou contar a verdade, acima de tudo, orientado pelo interesse público. Falar da intimidade do cidadão comum, como da terapeuta esposa de um deputado, não é de interesse público.
Não há lugar para o sensacionalismo. Não há lugar para a mentira. Não há lugar para esta confusão entre vida privada e pública.
Escrevam todos, desde que for conteúdo para acrescentar, educar. Não dá para aturar revistas popularescas que ensinam a transar com camisinha furada (publicação da década de 90) ou novelas que fazem apologia às crenças pessoais dos autores- como se fossem um padrão social.
Pessoas são menos robotizadas, o senso crítico está em moda. Controles remotos são instrumentos de protesto; o voto também é.
Quem noticia deve se lembrar de que a mesma facilidade para surgir existe para desaparecer. Quem for descoberto transgredindo as leis da ética será punido pelo descrédito. Como o cidadão que romper o limite dos bons costumes perderá a credibilidade.
O jornalismo mudou. O mundo tem mudado. Valores como o respeito pelo próximo continuam intactos. Tanto nas redações como na sociedade. É isso.
José Aurélio Pereira é jornalista, professor universitário e mestre em Comunicação. Atua em Lorena como empresário, no setor da Educação.
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