Prometi para mim mesmo não me manifestar sobre o caso Samuel Fradique de Oliveira. Até porque não gosto de julgar ninguém, cada um se responsabiliza por seus próprios erros. E que todos os paguem devidamente, aos olhos da lei dos homens e daquela acima do ser humano. Dizem que esta última nunca falha.
Libriano, gosto de verbalizar sobre sentimento. E sinto no ar uma sensação de desânimo por conta da dificuldade propiciada pela suposta ganância de alguém em cima de gente que nele confiou.
Triste ver a cidade que aprendi a amar ser pauta negativa do segundo programa de maior audiência da televisão brasileira nas noites de domingo.
Deprimente constatar que muitos estão tendo que se reinventar economicamente, não bastassem as condições impostas pelo vírus chinês. Porque investiram o capital – muitas vezes o único que possuíam – em um esquema que, segundo o Ministério Público, é fraudulento.
Boa parte da população lorenense chora desanimada pelos cantos, se perguntando por que foi tão ingênua. E bate no fundo uma vergonha.
A indignação toma o coração quando ouvimos sobre a senhora que confiou os R$ 3 milhões da herança no esquema Fradique. Acentua-se quando sabemos que esta senhora ainda aguarda por uma reunião com o sr. Samuel, que nem satisfação lhe deu, e cujo paradeiro é desconhecido.
E a moça que depositou toda a rescisão pouco antes do anúncio da moratória? Isso só para citar dois dos inúmeros casos que geraram as cerca de 700 ações na justiça. A que ponto chegamos?
Houve julgamento inapropriado. Teve quem achou impensável a pessoa oferecer recursos sem desconfiar de um “investimento” com lucros exorbitantes e acima dos oferecidos pelas instituições financeiras conhecidas. Nestes julgamentos, falou-se que o investidor se assemelhava em ganância a Fradique.
Ora, grande parte das vítimas é gente humilde e sem grandes instruções.
Sabemos da vulnerabilidade de quem é desprovido de bagagem educacional, não sabemos? Ou acreditamos realmente que estas pessoas são os algozes do país? Certamente, quem julga e não acredita em dinheiro fácil, nunca jogou na loteria.
Lembremos de que mesmo gente letrada caiu no “conto do vigário” do referido senhor, acreditando na convincente história de sucesso da SFO Holding e na suposta documentação apresentada. Até porque é ínfima a parcela da população que detém conhecimento básico de economia e finanças.
“E que cada um procure os direitos”, li outrora, em declaração de um dos membros da família Fradique. Como se fossem simples e rápidas as resoluções judiciais.
Todavia, não tardam as contas daqueles que, sem dinheiro, choram sem saber o que fazer da própria vida e gastam o tempo precioso conjecturando sobre onde se encontra o agente principal de toda essa barbaridade.
A Covid-19 tirou a liberdade e ameaçou a saúde pública. A falta de liberdade cerceou a perspectiva de mercado e passamos a focar em 2021 como um tempo de possível suspiro.
Mas somos brasileiros, reagimos positivamente a tudo. “Vamos que vamos, a gente se supera”, não é mesmo? Afinal, a resiliência é a nossa principal característica. Temos pouco dinheiro, mas temos esperança. Daí aparece alguém que tira a pouca condição financeira de que dispomos para benefício próprio, seguindo um esquema de legalidade questionável.
E o Brasil se pergunta se há no mundo criatura capaz disso. A Rede Record de televisão responde: “Há sim. Em Lorena. Lá, há gente capaz de se apropriar de tudo que temos. Até da esperança”.
É isso.
P.S.: Entende-se por parasita “o organismo que vive de outro organismo para obtenção de alimento, causando-lhe dano”; ou que “vive à custa alheia por pura exploração ou preguiça”, também trazendo prejuízo do outro.
José Aurélio Pereira é jornalista, professor universitário e mestre em Comunicação. Atua em Lorena como empresário, no setor da Educação.
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