Por Hugo Nogueira Luz – jornalista
“Conheci Fábio Marcondes em 2004, quando eu, estudante de Jornalismo, trabalhava na Câmara como assessor do vereador Coelho e ele era vereador. Combativo, fez, junto com Coelho, uma oposição contundente ao então prefeito Paulo Neme. Seu nome político ainda era Fabinho Marcondes, um empresário bem sucedido que, não fosse por vocação e desejo, não teria porque entrar para a política.
Uma das primeiras lembranças que tenho é a de que Fabinho, como patrão de si mesmo, não gostava de usar calça comprida. Por ser proibido entrar na Câmara de bermuda, quando ele tinha documentos para assinar, ia até a rua lateral, onde o Marçal ou a Rita, seus grandes companheiros, levavam os documentos para ele. Apesar das bermudas, era conhecido como um chefe exigente, que cobrava muito, mas também dava o exemplo. Chegava cedo e ia embora tarde.
Em 2008, decidiu candidatar-se a prefeito, concorrendo com Paulo Neme e Aloísio Vieira. Conhecendo Fabinho há quatro anos, e tendo grande admiração por ele, decidi entrar de cabeça em sua campanha. A partir de março, Marçal e ele me pegavam em casa, por volta das 18h30, e íamos a reuniões nas casas de apoiadores. Chegávamos, Fabinho se apresentava e começava a falar sobre seus projetos para Lorena. Eu ficava sentado, ouvindo e anotando o que achava que podia melhorar em sua fala. Depois, entre uma visita e outra, ia falando o que tinha anotado e fazendo sugestões.
Em 5 de outubro daquele ano, perdemos a eleição. Lembro-me como se fosse ontem, sentado em frente do número 320 da rua Barão da Bocaina, desolado com a derrota. Fabinho chegou, me viu e, antes de entrar no comitê, veio falar comigo. Eu olhei para ele e disse: “Nunca mais vou trabalhar com política”.
Acabei não cumprido a promessa totalmente, mas a tristeza que sentia me fez deixar Lorena pouco meses depois. Mudei para Limeira para cursar Gestão de Políticas Públicas e trilhei minha carreira como gestor público.
Em 2012, Fábio foi eleito prefeito. Agora não tinha escapatória, tinha que usar calça comprida todos os dias. Tirou um pouco o pé de seus negócios para se dedicar à Prefeitura, mas manteve a essência de chefe exigente. Um dia, de férias em Lorena, eu quis falar com ele, conversar. Mandei uma mensagem e recebi a resposta: “Amanhã, às 6h30, na Garagem Municipal”.
Quando eu cheguei, ele já tinha atendido algumas pessoas e saímos para visitar três obras. Uma na Cabelinha, uma na Vila Nunes e outra na Vila Rica. O prefeito ia ver se os bloquetes estavam assentados corretamente e se a massa asfáltica do tapa buracos não estava esfarelando. Esse era o jeito Fábio Marcondes de administrar.
E Lorena avançou muito. As dívidas foram pagas, as contas foram sanadas, a estrutura do município melhorou e, além de tudo, a cidade ficou mais bonita e mais bem cuidada. Por isso mesmo, no início de 2016, quando Fábio anunciou que não seria candidato à reeleição, eu comecei a receber telefonema e mensagens desoladas. Desde minha avó, dona Auxiliadora, até políticos de outros partidos, pedindo minha intervenção. Quem me dera, quem era eu?
Mas, mesmo assim, resolvi falar com ele. Liguei e disse: “Eu sei que você é contra a reeleição. Eu também sou. Mas você precisa ser candidato, pelo bem de Lorena!”. A resposta foi uma risadinha, seguida de uma bomba: “Guinho, vou me mudar pra Ubatuba e mudar de ramo. Mexer com areia. Quero descansar, de agora em diante vou sentar na praia e ficar mexendo o pé na areia”. Piadas à parte, era triste, mas não dava para dizer que era injusto.
Passados alguns meses, recebi a notícia de que ele voltara atrás e era candidato sim. Nunca perguntei o que aconteceu, mas segundo consta, até o então governador Geraldo Alckmin estaria entre as pessoas que se mobilizaram para essa mudança. Fabinho adiou seus planos por mais um tempo, mesmo não sendo o que ele desejava, mas em prol da cidade.
Recentemente, li em um artigo que Antônio Ermírio de Moraes disse, certa vez, que “há uma nítida diferença entre o estadista e o político oportunista. O primeiro é alguém que pertence à nação e o segundo, alguém que pensa que a nação lhe pertence”. Se Fabinho tivesse mantido sua posição, ninguém poderia lhe chamar de oportunista. Já tinha feito muito por sua cidade. Mas a decisão de concorrer colocou-o, definitivamente, no rol dos estadistas de nossa Terra das Palmeiras Imperiais.
Há poucos meses, me deu uma última lição de política. Sendo alvo de ataques e manobras políticas que podiam custar seu mandato, me disse: “Não faço acordo com adversários. Adversário é adversário”. Num país em que políticos fazem qualquer coisa para salvar seus interesses, são raras e valiosas as posturas como essa.
E agora, em dezembro de 2020, encerra-se seu derradeiro mandato. Como gestor público, costumo afirmar que não conheço cidade com situação financeira como a de Lorena. Uma gestão austera, eficiente, mas com visão social. Afinal, quantas são as cidades no Brasil que instituíram um auxílio emergencial municipal? É preciso ter visão social e dinheiro em caixa. Certamente, conta-se nos dedos de uma mão quem tem esse privilégio.
Nós, lorenenses, só podemos lhe agradecer por ter sacrificado oito preciosos anos de sua vida para se dedicar a nós e a nossa cidade. Seremos eternamente gratos. Particularmente, carrego uma profunda tristeza de, por opção de vida, não ter estado em Lorena para pleitear atuar em sua administração.
Finalizando, assisti uma fala sua durante a campanha em que, quando subiu ao palanque, a população gritou que ele era o melhor prefeito que Lorena já teve e ele corrigiu: “Posso ser o segundo melhor, porque o primeiro se chama Carlos Marcondes”. Fabinho, com todo o respeito ao seu Carlos, que infelizmente eu não conheci, você foi o maior gestor que minha geração conheceu em Lorena. E, certamente, o único líder que nossa cidade teve nos últimos 20 anos.
Então, muito obrigado por ter se privado de suas bermudas por tanto tempo e, se os planos se mantiveram, boa sorte no ramo da areia!
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