Tive a honra de sair candidato a prefeito por Lorena este ano. Devo dizer que foi uma experiência muito importante, de grande aprendizado pessoal. Posso afirmar que hoje sou uma pessoa melhor por ter experimentado um modo novo de olhar para nossa cidade e enxergar seus problemas, suas demandas e sua gente.
Foi bom poder olhar a política a partir de dentro e ver que, sim, é possível mudar nossa realidade com projetos que cumpram a função social de oferecer bem-estar e felicidade a todas as pessoas. Neste sentido, fui um aprendiz e o resultado obtido mostrou-me que a esperança está presente nos olhos de nossa população.
Ficou bem claro para mim que uma campanha se faz com presença nas ruas, um bom projeto e recursos que nos permitam planejar ações e divulgar de forma mais massiva as propostas que se quer fazer chegar à população. A conclusão a que cheguei é que o recurso financeiro é essencial para que uma eleição aconteça de forma mais equitativa. Não basta ser honesto e ter boas propostas, é preciso fazer essas propostas serem compreendidas pelos eleitores. Daí a tarefa mais urgente é ter um planejamento a longo prazo, para que isso ocorra de verdade.
O povo não sabe votar. É o que normalmente se ouve após as eleições ocorrerem e ao percebermos que a pessoa eleita não cumpre o que prometera durante a campanha. Não me parece que seja uma verdade absoluta, nem uma coisa ou outra. A campanha é um embate de ideias. Nela descobrimos que nem tudo o que desejamos é possível realizar. De fato, a realidade é mais desafiadora que a ficção. Convencer o povo a votar em um projeto é uma arte que só pode ser realizada com muita criatividade e a muitas mãos. Ainda assim, o resultado obtido nem sempre reflete o que realmente a população precisa.
Disse muitas vezes, durante a campanha, que o que o povo quer nem sempre é o que realmente ele precisa. Quando ele diz que quer saúde, não significa que precisa de hospitais, mas de respeito, de cuidado, de um tratamento mais humano por parte dos profissionais da saúde. Não adianta ter muitos hospitais, postos de saúde, se não se respeita a pessoa doente. Saúde é diferente de excesso de prédios. Saúde é cuidado, bem-estar, bom atendimento, programas de prevenção. Hospitais e farmácias não significam saúde, mas podem significar doença. Numa cidade que tem dezenas de vezes mais farmácias que bibliotecas, há algo de muito errado ali acontecendo.
Estou muito feliz em poder voltar a escrever aqui no O Lorenense, fruto bendito do saudoso Guaypacaré, jornal onde trabalhei logo que cheguei à cidade. Vou procurar trazer reflexões tanto na área da política quanto da literatura e cultura. Estarei atento aos acontecimentos da cidade. Os votos que recebi me deram este papel de observador. Penso que, assim, os estarei honrando.
Daniel Munduruku é graduado em filosofia e doutor em Educação pela USP(Universidade de São Paulo).
Autor de premiados livros para crianças e jovens, reconhecido nacional e internacionalmente, comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República. Reside em Lorena desde 1987; é casado com a professora Tania Mara, com quem tem três filhos.
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