Com mais de mil casos confirmados em menos de um mês e número recorde de atendimentos no hospital, Lorena enfrenta o maior pico da pandemia de Covid-19, desde março do ano passado. Como consequência, os lorenenses enfrentam as duras restrições da fase Vermelha do Plano SP, criado pelo Governo do Estado e seguido pela maioria dos prefeitos, sem oferecer uma única contrapartida aos milhares de trabalhadores proibidos de trabalhar. Os prefeitos que se dispõem a enfrentar o governador, por sua vez, ficam sob a ameaça de providências drásticas do Ministério Público. Em Lorena, não é diferente.
“Estamos de mãos atadas, porque não podemos trabalhar e as pessoas que têm poder de decisão, também têm estabilidade e um salário garantido na conta todo mês. Falam insistentemente em preservar vidas, mas não sabem o que é depender das vendas para sustentar a família, pagar os impostos, os boletos e os funcionários. E geralmente, quem defende o lockdown também conseguiu se estabelecer em home office ou tem algum contracheque garantido”, afirma um comerciante lorenense, que prefere não se identificar.
A preocupação é geral. “Temos que nos cuidar sim, mas se continuarmos impedidos de trabalhar, teremos outros grandes problemas, além do coronavírus. E nem precisa ser especialista pra saber disso. A situação já está complicada há meses, mas sem os benefícios que o Governo Federal ofereceu até o ano passado, teremos o caos instalado na cidade em pouco tempo, incluindo alto índice de desemprego e violência. Com a minha loja fechada, terei que demitir 7 funcionários em breve, porque não terei condições de pagar os seus salários e nem de cumprir os custos das demissões. Isso sem falar dos aumentos abusivos de impostos, que mal têm sido noticiados. Entre eles, o IPTU de Lorena, que chega a mais de 70% de reajuste; e diversos impostos estaduais, que subiram abusivamente”, complementa uma comerciante do ramo de vestuário.
Diante dos inúmeros questionamentos que têm sido feitos à equipe do O Lorenense e para tentar entender melhor a realidade dentro da Santa Casa de Misericórdia de Lorena, este Portal de Notícias solicitou duas entrevistas. A primeira com o novo secretário de Saúde da cidade, via Secretaria de Comunicação da Prefeitura. No entanto, na segunda-feira, dia 25 de janeiro, a resposta foi de que a agenda do secretário está lotada e que as demandas estão grandes neste começo de administração, mas que iam verificar a possibilidade. Desde então, não houve mais posicionamento em relação ao pedido.
A segunda entrevista solicitada foi com o diretor clínico da Santa Casa de Lorena e diretor médico da UTI, dr. Antônio Fernando Costa Filho (Médico Intensivista – CRM: 154991 / RQE: 68338). Inicialmente marcada para as 14h30 desta quinta-feira, 28 de janeiro, a conversa foi adiada para as 18h: “A UTI está movimentada e vamos precisar entubar dois pacientes”, explicou dr. Antônio Fernando. Ao iniciar a entrevista, visivelmente cansado, mas orgulhoso por poder desempenhar esse papel tão importante na linha de frente contra o vírus, dr. Antônio Fernando afirmou: “Realmente, o movimento está grande e as confirmações de novos casos também. Mas estamos conseguindo testar mais do que no início da pandemia e, apesar da alta rotatividade na UTI, o número de pacientes graves não é maior do que em agosto do ano passado. Nunca tivemos que escolher qual paciente seria entubado e hoje, posso afirmar que temos respiradores e leitos suficientes na Santa Casa”. É o bate-papo realizado no final da tarde desta quinta-feira que você confere a seguir.
PORTAL O LORENENSE – A Santa Casa de Lorena está lotada? Porque temos recebido muitas reclamações dos nossos seguidores, de que os boletins da Prefeitura estão confusos. Eles falam que só estão entrando na estatística os casos confirmados, mas a gente sabe que os exames demoram semanas pra chegar. E os casos suspeitos internados, não entram na estatística? Fica difícil pra gente entender. E se a gente for seguir essa lógica, então, o número de internações seria muito maior… Por exemplo: hoje, 28 de janeiro, a estatística diz que são 14 pacientes Covid na UTI. São 14 pacientes com diagnóstico confirmado ou aí também entram os casos aguardando resultado?
ANTÔNIO FERNANDO – Então, os pacientes que chegam com síndrome gripal pra gente e necessitam de internação, nem todos têm a confirmação laboratorial, mas com a tomografia, a gente já pode dizer que o paciente tem a doença. A gente não pode confirmar porque precisamos do resultado laboratorial. Então, oficialmente, esses pacientes são internados como suspeitos, mas fica tudo registrado na nossa estatística. Hoje, nós temos 14 pacientes Covid na UTI no total: com resultado laboratorial e os considerados suspeitos porque aguardam o exame. Em relação à estatística da Prefeitura, eu já não sei te dizer como eles estão fazendo, pois só temos acesso aos pacientes que realizam os testes no nosso hospital.
PORTAL O LORENENSE – Ano passado, o pico de confirmações de casos positivos foi em agosto, quando tivemos 447 confirmações, seguido por setembro, com 375 casos. Depois tivemos uma queda em outubro e novembro. Em dezembro, os números voltaram a subir: 357 casos. E agora em janeiro, já temos 1004 casos até hoje, de acordo com as estatísticas. Como isso está refletindo no atendimento no hospital? A equipe existente é suficiente? Porque a Prefeitura decretou fase Vermelha…
ANTÔNIO FERNANDO – Eu diria que a cidade de Lorena, assim como outras cidades do Brasil, está sofrendo com essa pandemia de Covid e a gente pode identificar também que outros países tiveram seus picos. A gente se preparou de algumas formas, mas é sempre complicado ter uma certeza… Mas posso afirmar que nossa equipe médica se antecipou em vários aspectos e hoje temos uma estrutura, como o P.A. (Pronto Atendimento) Covid, onde o médico atende só os pacientes com sintomas suspeitos, diferente dos demais médicos do P.S. (Pronto Socorro). Então, nós temos um médico exclusivo pro P.A. Covid durante 24 horas. E já conseguimos colocar um segundo médico pra ajudar nos atendimentos, das 13h às 19h, todos os dias. E estamos conseguindo dar conta, apesar dos problemas de demora… E a cada dia que passa, a gente vai tentando modificar os fluxos, tentando ajustar… mas esse é um processo contínuo.
Quanto aos casos, realmente, em 2020, nós tivemos um pico em agosto. Depois, tivemos uma melhora no decorrer do final do ano e os números voltaram a subir em dezembro. E realmente, agora em janeiro, nós temos registrados exatamente 2.656 atendimentos no P.A. Covid, do dia 1º até a data de hoje (28 de janeiro). Então, em relação ao ano passado, esse é o mês em que mais tivemos atendimentos.
Mas o fato de ter aumentado o número de casos não significa que os números de casos graves e moderados aumentaram. No começo da pandemia, a gente não tinha muitos testes. Hoje, a gente tem muito mais. É mais fácil, dá pra fazer na farmácia… Então, se você testa mais, você vai ter mais casos positivos. Isso não significa que temos mais doentes graves.
Em relação à fase Vermelha, isso não é nossa incumbência e não interferimos nisso. Em relação ao hospital, os casos leves aumentaram. Mas os moderados e os graves, não. Eu não ficaria preocupado, pensando: “Ah, meu pai ficou doente e não vai ter leito pra ele”. Nós temos sim! Na UTI, estamos tendo uma rotatividade muito grande. Todos os dias, conseguimos dar alta pra um paciente. E aí temos outro na enfermaria, com bastante oxigênio, mas sem indicação de UTI. Mas a gente opta por trazer esse paciente pra UTI, pra fazer exercício com máscara, porque aí a gente consegue fazer com que ele melhore mais rápido. Estamos conseguindo fazer um giro e um fluxo de leitos de UTI muito rápido.
A UTI está sim, cheia de pacientes com Covid, mas não com tantos graves quanto no ano passado, quando eu perdi muitas noites sem dormir. Como responsável pela UTI, posso te afirmar que estou muito tranquilo em relação a isso, porque já estivemos numa situação muito pior.
PORTAL O LORENENSE – Nós vimos muitas notícias circulando na internet, de médicos no Brasil e no mundo inteiro, que tiveram que escolher qual paciente iria entubar, por faltarem vagas de UTI. E geralmente, o paciente escolhido é o que tem mais chances de sobreviver. Já aconteceu isso aqui na Santa Casa de Lorena?
ANTÔNIO FERNANDO – Não! Posso afirmar tranquilamente que nós nunca tivemos essa situação, graças a Deus. Nós temos uma equipe de médicos emergencistas, que cuidam dos pacientes na emergência. E se uma pessoa precisar ser entubada na emergência, isso é feito lá mesmo e a gente vai ajustando os fluxos pra levar o paciente pra UTI.
PORTAL O LORENENSE – Você acredita que, diante desses números crescentes de casos que estamos vendo, esse tipo de situação pode acontecer? Corremos o risco de um colapso no hospital?
ANTÔNIO FERNANDO – Eu não sei se felizmente ou infelizmente, mas eu pude participar de toda a luta, desde o início da pandemia: desde o dia 18 de março de 2020, quando fechamos o ambulatório e começamos a remanejar os processos e os fluxos dentro do hospital. E realmente, os números aumentaram muito, mas a impressão que eu tenho é que aumentaram os casos leves a moderados. Os casos graves não aumentaram. Estou muito mais tranquilo em relação a isso, porque cheguei a passar situações de ter 20 pacientes entubados na UTI. E dos 20, 15 a 16 estavam com Covid. E nós conseguimos salvar muitas pessoas.
Então hoje, apesar de termos muitas internações e casos confirmados, a quantidade de casos graves não é maior do que o que tivemos em agosto.
PORTAL O LORENENSE – Quanto tempo está demorando pra chegar os resultados dos testes? Sabemos que, em dezembro, exames demoraram até mais de um mês pra chegar.
ANTÔNIO FERNANDO – Todos os exames de PCR (Swab) estão sendo encaminhados ao Instituto Adolf Lutz. Em média, atualmente, temos um prazo de 20 dias para serem disponibilizados os resultados.
PORTAL O LORENENSE – Hoje, existem 20 leitos de UTI e 15 reservados para Covid. Mas a Santa Casa recebeu uma quantidade maior de respiradores em 2020. Há estrutura para atender mais pacientes graves?
ANTÔNIO FERNANDO – Sim, é isso mesmo. Nós temos 20 leitos de UTI, sendo 15 reservados para pacientes de Covid, não só munícipes de Lorena, mas de outras cidades também. Porque eventualmente, tendo vaga, a gente acaba acolhendo… inclusive pacientes de São José. E isso, graças a Deus, estamos conseguindo absorver sem prejuízo para os munícipes de Lorena, de Piquete, enfim…
Em relação aos respiradores, no começo da pandemia, conseguimos comprar alguns e recebemos mais 30 ventiladores mecânicos do Estado. Por isso, essa questão não me preocupa. Nós temos respiradores distribuídos pelo hospital inteiro! Na UTI, temos respiradores suficientes. Também temos respiradores nos andares, na Enfermaria, na Clínica Médica, na Clínica Emília, no Pronto Socorro, no P.A. Covid… Então, esse não é um problema para nós.
PORTAL O LORENENSE – A Clínica de Isolamento começou com 16 vagas e foi ampliando, de acordo com a demanda. Hoje, são 38 leitos, mas o ex-prefeito Fábio Marcondes havia dito, no ano passado, que haveria possibilidade de estender até 50 leitos. Essa possibilidade está sendo avaliada? Existe essa necessidade?
ANTÔNIO FERNANDO – Nesse momento, a taxa média de ocupação de leitos de Enfermaria é de 60, 70% no máximo, o que nos faz entender que o número de leitos existentes é suficiente para suprir essa demanda. Na Santa Casa de Lorena, temos condições imediatas de aumentar mais cinco leitos, se for necessário, pactuados com o gestor municipal.
PORTAL O LORENENSE – Então, a Clínica de Isolamento não está lotada?
ANTÔNIO FERNANDO – Não, não está. Temos estrutura e vagas suficientes.
PORTAL O LORENENSE – Qual a porcentagem de pacientes de fora da cidade internados na Santa Casa de Lorena – UTI e Clínica de Isolamento?
ANTÔNIO FERNANDO – Não é um número muito grande, mas temos uma porcentagem de pacientes de fora sim, embora não saiba te afirmar com precisão agora. Tanto de UTI quanto de Enfermaria. Mas posso te afirmar que isso não está prejudicando a assistência aos pacientes de Lorena.
PORTAL O LORENENSE – Em relação ao P.A., como está funcionando? O que muda com a reimplantação do Hospital de Campanha?
ANTÔNIO FERNANDO – Desde que começou a pandemia, conseguimos um empréstimo do Exército, que estendeu as tendas no estacionamento, de forma que conseguíssemos separar os atendimentos do Pronto Socorro dos doentes com síndrome gripal. Depois que os atendimentos diminuíram, conseguimos ter uma “folga” e desmontamos as tendas. Pensávamos nós que só ia melhorar. Hoje, vemos que o pensamento estava errado, porque veio um novo pico. As tendas foram reestruturadas e o atendimento continua totalmente separado: no Pronto Socorro e no P.A. Covid. Essa é a estrutura física que nós temos. Em relação aos recursos humanos, as equipes também são separadas: médicos, enfermeiros e técnicos de Enfermagem específicos para o atendimento Covid. Essa é a estrutura que nós temos hoje.
PORTAL O LORENENSE – A maior reclamação em relação aos atendimentos é o tempo que os pacientes estão esperando. Há relatos de pacientes que ficam ao menos 3 horas esperando pra passar na triagem. Até completar o atendimento, alguns permanecem 12 horas ou mais. Existe alguma movimentação no sentido de melhorar esse atendimento?
ANTÔNIO FERNANDO – Sim! Eu sempre digo que o caminho só se faz caminhando. Então, todos os dias nós nos reunimos: Diretoria, coordenação do P.A. e a gerência de Enfermagem. O objetivo é nos ajustarmos para melhorar o atendimento. Mas temos situações novas todos os dias. Entendemos que está demorado pra atender, mas o número de pacientes quase triplicou de um mês para o outro. E é muito difícil a gente se reestruturar assim, tão rápido. Só quem está aqui dentro consegue ver o quanto a equipe sofre.
Às vezes, queremos colocar um novo profissional para trabalhar, mas temos vários problemas: alguns afastados, outros com Covid, outros perderam familiares, muitos têm medo de pegar a doença… Então, é muito complicado.
Mas todo doente que chega com síndrome gripal é classificado. O doente que chega mal, com insuficiência respiratória, já é atendido na hora. O doente que está “melhor” consegue esperar. A gente consegue identificar isso. E aí a gente esbarra em várias questões: se a gente colhe exames laboratoriais no P.A., o resultado demora um pouco. Às vezes, temos 5, 6 pacientes seguidos pra fazer tomografia, num aparelho que é específico pra Covid. Aí a gente precisa limpar e higienizar tudo entre um paciente e outro. E esse processo todo demora. Não é simplesmente: o doente chega, faz a triagem, o médico atende, pede os exames… Aí o paciente faz os exames, a tomografia e os resultados já saem na hora. Não é assim! O processo é lento. E aí, muitas vezes, o paciente precisa esperar.
A gente procura conversar, acalmar o paciente, porque infelizmente, o número de atendimentos está sendo muito alto. Graças a Deus, os pacientes graves, nós estamos conseguindo identificar e internar logo. E a gente tem que dar prioridade aos mais graves. Já os pacientes mais leves precisam aguardar um pouco mais.
Estamos repensando todos os dias o que podemos fazer para melhorar, mas a curto prazo, é muito complicado resolver. Pode ser que amanhã, um dos nossos médicos fique doente e tenha que ser afastado. Aí a gente tem que remanejar um profissional de um lugar pro outro… Mas posso afirmar que estamos tentando melhorar diariamente.
PORTAL O LORENENSE – Pra gente enxergar melhor esses números: você disse que o número de atendimentos aumentou muito. Foram 2.656 somente nesse mês de janeiro. Qual foi o número de atendimentos em dezembro?
ANTÔNIO FERNANDO – Em dezembro, foram 1.414.
PORTAL O LORENENSE – E em agosto, que foi o pico da pandemia em 2020?
ANTÔNIO FERNANDO – Em agosto, foram 1.724.
PORTAL O LORENENSE – Também tem sido comum a reclamação de pacientes com vários sintomas, que são atendidos no P.A. e enviados para casa sem nenhuma receita de medicação, orientados a voltar ao hospital em caso de piora. Isso não vai contra as orientações do Ministério da Saúde, de iniciar o tratamento já nos primeiros sintomas? Não quero nem entrar na questão de nomes de medicamentos, porque infelizmente, politizaram uma questão que deveria ser exclusiva da Medicina. Qual o posicionamento da Santa Casa em relação ao tratamento precoce? Porque na nossa primeira entrevista, lá em maio de 2020, você havia nos informado que o tratamento precoce era um procedimento adotado na Santa Casa.
ANTÔNIO FERNANDO – Sim, nós temos um protocolo interno de tratamento precoce do paciente com suspeita ou confirmação da Covid. O que acontece é que temos resoluções e portarias… inclusive, o CFM (Conselho Federal de Medicina) dá autonomia para o médico. Então, nós não podemos obrigar o médico a prescrever o medicamento.
Quando o doente está internado na instituição, nós temos um protocolo que tem que ser obedecido. Porém, quando o doente é atendido no P.A. e liberado para ir para casa, eu não posso obrigar o médico a prescrever uma medicação com a qual ele não concorda. Claro que tem algumas medicações que sempre são prescritas. Porém, há outras que não, porque o CFM autoriza a autonomia do médico e a gente não pode interferir nisso. É até antiético interferir. Por isso, temos que respeitar a autonomia médica.
Os casos mais complexos sempre são discutidos com a coordenação do Pronto Atendimento. Então, eu acredito que esse tipo de paciente não está sendo “não medicado”. Acredito que sejam os casos bem leves mesmo e aí a orientação acaba sendo essa: se tiver piora, voltar pro hospital. Não sei se você entendeu…
PORTAL O LORENENSE – Entendi sim, mas é que temos recebido diversos relatos de pacientes liberados por médicos, sem nenhuma medicação. Inclusive, pacientes com variações de saturação. E não me refiro exclusivamente a atendimentos na Santa Casa e sim em diversos hospitais na região…
ANTÔNIO FERNANDO – Aí a gente tem que verificar caso a caso, o que realmente aconteceu. Porque aqui na Santa Casa, por exemplo, quando o paciente que está dessaturando, a gente não libera pra casa. Principalmente porque nós temos um protocolo com critérios de internação, não só por alterações tomográficas, mas pelos sintomas e também pelas comorbidades. Então, muitas vezes, o doente satura até bem, mas é hipertenso, diabético, foi operado do coração, tem insuficiência renal, ou passou por um transplante… Então, esse já é um doente grave por base e esse é um paciente que a gente tem que ficar atento.
E aí a gente tem um protocolo aqui que esse tipo de doente, tem que internar mesmo, para não dessaturar. Então, acho difícil isso acontecer, porque geralmente, esses casos mais complexos, a gente sempre deixa em observação por 24 horas. Às vezes, o doente chega no final da noite ou pela madrugada… e a gente sempre orienta os médicos, nessa situação: na dúvida, é melhor deixar o doente em observação, porque no período da manhã, o coordenador vê… ou um médico mais experiente dá uma olhada, uma refinada. Discute tomografia, analisa os resultados dos exames, pra gente ter uma noção melhor se esse doente tem uma chance menor ou maior de complicar se a gente liberar. E na maior parte das vezes, a gente acaba internando esse paciente. Então, respondendo à sua pergunta, nós temos um protocolo pra isso.
PORTAL O LORENENSE – E em relação à vacinação, todos os profissionais da linha de frente foram vacinados ou todos os profissionais que trabalham na Santa Casa, independente do setor? Há previsão para a aplicação da segunda dose?
ANTÔNIO FERNANDO – Se não me engano, chegaram 200 vacinas pra gente e nós priorizamos os funcionários da linha de frente. Todos os profissionais da UTI, incluindo pessoal da limpeza, recepcionistas, todo mundo… e os do Pronto Atendimento Covid e os da Clínica de Isolamento. Não sei te dizer quando vão chegar outras doses e também não sei se profissionais de outras áreas foram vacinados, como por exemplo, o cirurgião que vai com certa frequência visitar seu paciente na UTI e fica exposto à Covid. Porque acontece o seguinte: muitos desses profissionais trabalham em outros hospitais e podem ter sido vacinados nesses outros locais. Então, essa dinâmica, não consigo te dizer agora.
PORTAL O LORENENSE – Qual a orientação da equipe médica da Santa Casa para os munícipes lorenenses em relação à prevenção? Porque hoje saiu um novo decreto da Prefeitura, proibindo o funcionamento de praticamente todas as atividades comerciais. Então, sem entrar no mérito das questões políticas, queria saber qual é a sua orientação para a população no enfrentamento da doença.
ANTÔNIO FERNANDO – Essa doença é muito nova. A cada dia, a gente conhece um pouco mais sobre ela e acredito que críticas sempre vão aparecer. Já estamos há praticamente um ano nesse enfrentamento e aí a gente começa a criticar coisas que a gente fazia. Isso é normal. Mas a orientação é sempre usar máscara, álcool em gel e evitar aglomerações. Basicamente, é isso.
Também é muito importante que, se a pessoa tiver sintomas de síndrome gripal, deve procurar a gente. A orientação é evitar ficar em casa, esperando ficar muito mal pra vir. Porque quando o doente já chega aqui muito mal, muitas vezes, a gente já não tem mais muito o que fazer por ele, porque a doença já evoluiu muito. Então, é bom vir antes.
PORTAL O LORENENSE – Sem querer te interromper, mas já te interrompendo… Nós tivemos um número alto de mortes em janeiro. Enquanto no ano passado inteiro, tivemos 43 óbitos, somente nesse primeiro mês de 2021, foram 14 mortes. Pelas informações extraoficiais que a gente tem, alguns desses pacientes que vieram a óbito já chegaram em estado muito grave ao hospital. Isso procede?
ANTÔNIO FERNANDO – É… tem sido muito falado de mutação do vírus, mas nesse momento, eu não tenho condições de falar sobre isso. Pode ser que, daqui a alguns meses, a gente possa confirmar se realmente existe essa mutação. Mas a impressão que eu tenho é que muitas pessoas banalizaram a doença. Perderam o medo dela e deixaram de vir ao hospital, não valorizaram a queixa… e quando chegam aqui, já chegam muito mal. Então, você acha que a doença está mais grave, mas a verdade é que não teve assistência na hora certa. A pessoa não vem pro hospital. Porque desde quando iniciamos o protocolo de tratamento precoce na Santa Casa, quando o doente chega no estágio inicial – e quando eu falo isso, não estou falando dos casos leves e sim dos pacientes com alteração pulmonar… Posso estar falando besteira ou equivocado, mas a grande totalidade se saiu bem. Quando o doente chega com alteração tomográfica pequena e a gente já entra com o tratamento precoce, que eu me lembre, não tivemos um doente que foi pra UTI e faleceu. Tivemos sim, alguns pacientes que complicaram, mesmo com o tratamento precoce, e precisaram de UTI. Mas que tenham evoluído a óbito, não.
Então, o paciente sintomático fica em casa um, dois, três dias se sentindo mal… Aí, quando chega aqui, alguns já estão com 90% do pulmão comprometido. Graças a Deus, ainda conseguimos salvar vários, mas a chance é menor. Então, a minha orientação é essa.
PORTAL O LORENENSE – Então, se eu estou em casa, o que eu não devo ignorar, em caso de sentir alguma coisa?
ANTÔNIO FERNANDO – Febre alta constante, calafrios, cansaço progressivo, diarreia constante, perda de apetite progressiva, tosse persistente, sensação de desmaio. Muitas vezes, o doente piora a funcionalidade dele, no quadro de Covid. Por exemplo: um doente com insuficiência cardíaca, que só sente falta de ar quando corre ou anda rápido. Mas agora ele está tossindo um pouquinho, não fez febre, teve um calafrio à noite, mas tá bem, tá comendo… Mas quando ele levanta do sofá, já sente falta de ar. Então, ele piorou a funcionalidade dele. Aí ele pensa: “Ah, mas eu to bem… Se eu ficar em casa sentado, assistindo televisão, eu fico bem”. Esses sintomas não podem ser ignorados! Esse doente tem que vir pro hospital! Porque senão, ele piora o quadro basal que já existe e a nova doença vai evoluindo. E aí, quando ele chega aqui, já está muito grave. Isso não pode acontecer.
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