Imagine embarcar a bordo de um veleiro, partindo do litoral de SP rumo à Antártida. Quem está de malas prontas para iniciar essa aventura é o pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Giovanni Dolif.
Meteorologista do órgão desde 2014, agora ele tem um novo desafio em sua carreira e na vida pessoal. Ele é um dos oito tripulantes que no próximo sábado, 25 de novembro, iniciam uma jornada que deve durar pouco mais de dois meses rumo ao continente mais gelado do planeta Terra, a bordo do veleiro Polar Endurance 64.
Morador de Lorena, Dolif recebeu o convite para participar da expedição após um dos responsáveis pelo veleiro utilizar o trabalho do meteorologista em uma das viagens na embarcação. “Ele aproveitou e me chamou para dar o apoio meteorológico e fiz a previsão do tempo para ele. Ele gostou do meu trabalho e me convidou para ir nesse veleiro para a Antártica”, contou.
Segundo Dolif, até então, ele prestava apoio meteorológico à distância aos velejadores e o empresário que o convidou foi um desses parceiros, que conheceu o trabalho do meteorologista através das redes sociais. “Era um convite muito desejado para mim, mas eu não imaginava que aconteceria. Ele ficou sabendo da minha existência quando publiquei nas redes sociais uma foto de uma nuvem rolo que estava passando em Santos. Foi por lá que ele soube da minha existência e me chamou para dar o apoio”, explicou.
Segundo o pesquisador, essa viagem será a realização de um sonho, tanto pessoal quanto profissional. “É a realização de um sonho porque une a meteorologia, o mar e a neve. Pessoalmente vai ser uma grande realização e, profissionalmente, uma grande experiência, especialmente sobre a meteorologia em si”.
E esses fatores têm um peso ainda maior para a realização do pesquisador: foi o contato com o mar e com a neve que o fizeram optar por ingressar na pesquisa e meteorologia.
Formado pela Universidade de São Paulo e com passagem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) antes do Cemaden, em São José dos Campos, Dolif conta que sua trajetória no ramo começou bem antes.
“Eu cresci numa cidade de praia, mar. Cresci na Praia de Boa Viagem, em Recife. Gostava de visitar navios no porto. A primeira profissão que eu quis ter era ser oceanógrafo ou biólogo marinho, algo relacionado com o mar”, contou.
“Quando eu era adolescente, eu fui morar na Itália com meu pai, italiano. Lá eu descobri a neve e isso despertou o fascínio de entender o porquê nevava. Surgiu o interesse pela meteorologia”, continuou.
O contato com o calor e o frio despertaram o interesse de Dolif à pesquisa e o contato direto com o mar, ainda na infância, sempre esteve presente, mesmo durante a vida adulta.
Em 2016, a bordo de um veleiro em Paraty (RJ), ele começou a velejar. Foi aí que conheceu pessoas que utilizaram o seu trabalho de apoio para fazer previsões durante expedições.
“Já estava no mundo da meteorologia e, quando voltei para o mar, vi o quanto a meteorologia era fundamental para a atividade de navegar, velejar. Vi o tanto de pessoas que faziam isso, nesse meio. Conhecia como funcionava e eles não conheciam muito, então eu poderia ajuda-los. Vi o quanto eu podia contribuir com eles”.
“Comecei a falar sobre a meteorologia para eles e as pessoas começaram a me procurar para dar apoio, fazer previsões meteorológicas. O trabalho foi crescendo e eu comecei a dar palestras relacionadas a velas, embarcações”, disse.
Uma das pessoas que utilizou o serviço de apoio de Giovanni é José Spinelli, de Ubatuba (SP), que comanda um grupo de cinco velejadores que fazem uma expedição em um veleiro rumo à África do Sul. A viagem deles começou no último dia 15.
Após prestar vários serviços de apoio a velejadores à distância, chegou a vez do pesquisador embarcar ‘in loco’ em uma expedição. Ao g1, ele contou que o trabalho possui diferenças, mas que estão preparados com equipamentos, roupas e alimentos obtidos através de patrocinadores da viagem.
“É diferente porque, quando eu estou de longe, eu não sei exatamente o que está acontecendo no barco. Minha visão é limitada ali, naquele momento. Eu tenho um olhar, a partir das previsões meteorológicas, mas longe de quem está no barco”, disse.
“A visão micro, quem está no barco, enxerga melhor. Quem está de fora, enxerga melhor o ‘macro’. Estando no barco, eu consigo juntar os dois, sentindo o andamento da expedição, as informações que o comandante precisa para tomar decisões, entre outros”, continuou.
“Para quem está do lado de dentro, será uma experiência fantástica. Já para quem está do lado de fora, também pode ser uma grande experiência, pois isso pode impulsionar outras pessoas a fazerem o mesmo”.
Com a experiência e o contato com veleiros e velejadores, o meteorologista conta que se sente preparado para seguir o trajeto que parte de Santos até a cidade de Ushuaia, na Argentina, antes do encontro com o continente Antártico.
Pode ser que [eu fique com medo na hora], quando olhar lá. Fiz um treinamento há 20 anos para ir para a Antártica, junto com a Marinha. Foi um treinamento de meteorologia para a Antártica e me familiarizei com isso”, declarou.
Fonte: G1
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