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COLUNISTAS / O saber acontece

De humanidades a corrupções

26/03/2015

Gosto de ler a coluna de Helio Schwartsman na Folha de S. Paulo porque traz aspectos do comportamento humano à luz das ciências sociais e suas correlatas, psicologia aí incluída. Não é simples, claro ou conclusivo traçar hipóteses e correlações entre nosso comportamento social e a natureza material e fisiológica de nossas vidas. Muitas decisões são puramente ao acaso. Outras. porém, não, e seguem um padrão às vezes obscuro ou mesmo que não se quer aceitar.
É o caso da corrupção, que virou palavra da moda e, de um momento para outro, 200 milhões de brasileiros passaram a saber exatamente do que se trata e como combatê-la. Acontece que denunciamos a corrupção do outro e escondemos ao máximo nossa própria corrupção.
O articulista da Folha discute esse e outros temas com maestria, não sem causar polêmica. Longe de mim substituí-lo, mas vou usar um pouco de sua linha de argumentos, mostrando que a omissão tem sido fundamental para nossa sobrevivência como espécie social, por mais que queiramos que tudo seja “certo”.
Conseguimos nos desfazer de todas as formas de corrupção antes de denunciar a dos outros? Deixamos de pagar os médicos por fora para fazer uma cirurgia ou um parto, mesmo com SUS e/ou plano de saúde? Exigimos nota fiscal rigorosamente de tudo o que compramos, ou nos valemos do “desconto sem nota”? Registramos em carteira ou recolhemos impostos municipais sobre serviços de todos os que contratamos para realizar esses serviços, de faxineiras a jardineiros, de pedreiros a piscineiros? Respeitamos rigorosamente as regras de trânsito, sem trafegar na contramão em ruas de mão única, mesmo que por alguns metros; sem fazer conversões proibidas, mesmo que sem “risco aparente” para outros motoristas; sem diminuir a velocidade nas estradas somente quando passamos por radares; sem deixar de usar cinto e todos os demais itens de segurança?
Perguntas ingratas, eu sei, mas as respostas bem as sabemos. Uma lâmpada acesa entre dois espelhos paralelos fará com que a luz se reflita infinitamente, sem sabermos exatamente onde e quando foi a origem da fonte luminosa.

COLUNISTAS / Adilson Gonçalves

Pesquisador científico, formado em Química pela Unicamp. Foi professor na EEL-USP, em Lorena, por 20 anos, e atua na pesquisa de biocombustíveis e conversão de biomassa vegetal. Presidiu o Conselho Municipal de Meio Ambiente de Lorena por dois mandatos e é membro fundador da Academia de Letras de Lorena, tendo sido seu presidente por quatro anos.


priadi@uol.com.br

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