Segundas palavras, demais passos…
13/11/2014
Por Thiago José de Souza Oliveira
É interessante como na grande parcela do tempo, damos valor aos primeiros instantes, aos primeiros passos, às primeiras falas, mas nos esquecemos ou mesmo não damos a mínima atenção aos atos sequentes.
O que seria do “Oi” sem o sequente “tudo bem?”, do “como vai?” sem aquele momento característico em que pensamos sobre todo o enlace real em que estamos vivendo, mas sempre em resposta, logo damos: “Tudo bem, e você?”.
Estes segundos sequenciais são de fato algo que interligam a vida, nos permitem memórias, histórias, lembranças, até mesmo pode ser entendido como uma entrelinha que perfaz a junção das coisas que ficaram desconexas, perdidas pelos encantos esquecidos, pelos amores deixados de lado, pelas esquinas em que as lágrimas insistem em cair.
Assim como as premissas secundárias, também conotam as passagens temporais desses instantes. Um segundo passo nunca vem desacompanhado. Surge sempre de algo a complementar, algo que junta e aconchega, como aquele edredom já velhinho, todo retalhado pelos invernos aquecidos, ou então como aquele brinquedo guardado às escondidas, mesmo de nós, servindo de troféu à infância vivida intensamente.
É torturante, na maior parte do tempo, o transladar diante do espelho, pois ali está referente o distanciar dos atos sequentes, das segundas palavras, do percorrer dos caminhos. Estar diante dos reflexos do espelho é o mesmo que ter a oportunidade de retroceder ao passado, as infâncias já quase que deixadas de lado pelas novas escolhas. É retornar ao que antes nos soava como simples, mas que hoje, já depois de certos fatos, nos fazem total sentido.
Num destes vai e vens à frente do espelho, fora possível perceber as crianças gritarem frente à janela, a brincar de esconde-esconde; a perceber que entre um “te achei” e “você não me pega”, um mundo todo de engelharias estávamos possibilitando.
O que fica das secundas palavras? O que pode nos significar as sequências dos atos? Fica e significa que tudo nos valeu a pena. Que entre um “tudo bem, e você?” ou de um “volte sempre”, a vida se perfez presente por alguns instantes de forma tão intensa, que o tempo passou e ainda permitiu ficar em nossas lembranças, não porque fez algum sentido, mas justamente por não ter feito qualquer sentido. E é assim, nas segundas falas, nos segundos atos, nas segundas possibilidades, que vamos construindo mundos, conquistando memórias.
Sobre o autor
Um jovem historiador de 26 anos, bacharelando em Direito pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo,corintiano louco apaixonado, escritor e autor de extenso rol de artigos científicos. Um jovem acadêmico fissurado pela escrita e pelas aventuras literárias.
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário.