As Paralimpíadas Universitárias são realizadas desde 2017 e foram pensadas para inspirar jovens universitários com deficiências a despertarem para seus talentos esportivos. Em 2021, a competição ocorreu entre os dias 16 e 19 de setembro, em São Paulo, no Centro de Treinamento Paralímpico. Nesta edição, 180 Instituições de Ensino Superior tiveram representantes na competição. A Escola de Engenharia de Lorena (EEL), da USP, tinha uma representante: a aluna de Engenharia Química, Isabella Lissa Imamura.
Apesar de estarmos atravessando uma pandemia, Isa, como é conhecida, resolveu ir atrás de seu sonho e participar da competição, na modalidade Tênis de Mesa para cadeirante. Os jogos seguiram todas as normas de segurança sanitárias que o momento exige. Houve disputas em sete modalidades: Tênis de Mesa, Bocha, Basquete em cadeira de rodas, Judô, Para Badminton, Natação e Atletismo.
Isabella é tetraplégica devido a um acidente de mergulho em piscina, ocorrido em 2015, quando fraturou a 7ª vértebra da coluna cervical. Na época, em decorrência de complicações, Isa teve que trancar sua matrícula em Engenharia de Alimentos (FZEA- USP), para tratar de sua saúde, se reinventar e se adaptar à sua nova realidade. Foi nesse período que a medalhista paralímpica teve o seu primeiro contato com os esportes adaptados “Tranquei o curso por 3 anos porque não estava em condições de voltar. Nesse meio tempo, frequentei o Lucy Montoro (centro de reabilitação) e o hospital Sarah Kubitschek (…) Experimentei Canoagem, Bocha, Rugby, Natação e Tênis de Mesa”.
Em 2018, a estudante retornou para a faculdade, no Campus de Lorena, para dar continuidade aos seus estudos e para ficar perto da casa de seus pais, que moram em São José dos Campos. No entanto, por conta de novas cirurgias, precisou novamente trancar a matrícula. Em 2019, já no 1º semestre, começou a treinar no Clube Nikkey, em São José dos Campos, onde participou de sua 1ª competição de Tênis de Mesa. Em 2020, veio morar em Lorena, mas não conseguiu conciliar os estudos com os treinos.
Com a pandemia, voltou para a casa dos pais e passou a assistir as aulas remotas. E foi aí que Isabella acabou encontrando uma brecha na agenda para voltar a praticar esportes. Entre uma aula e outra, Isa treinava. “Fiz meus treinos em casa. Minha família me apoiou demais todo esse tempo e alguns dos profissionais da saúde também, como enfermeiros, fisioterapeutas, professores de educação física”, conta.
Em 2021, ao descobrir a competição das Paralimpíadas Universitárias, se inscreveu e, mesmo sem muito tempo de treinamento, acabou conquistando a medalha de Prata, deixando a família, amigos e todos da Universidade bastante orgulhosos com essa conquista. Mas Isa saiu ganhando muito mais do que uma medalha. Ela se reencontrou: “Gostei muito da experiência de conhecer outros atletas, assistir outros esportes adaptados e de sentir que pertenço a um lugar aonde ninguém vai me julgar pela minha deficiência” desabafou. “Ver outras pessoas, na mesma condição que eu, jogando nas Paralimpíadas, foi o que me inspirou! Pra mim, essa conquista me faz enxergar que tenho a capacidade de ir além do que eu imaginava pra mim”.
A Direção da EEL/USP parabeniza a estudante, que representou tão bem a Unidade na competição, e afirma que, sempre que possível, apoiará essas ações.
O gargalo da acessibilidade
De acordo com relatório da ONU publicado em 2018, mais de um bilhão de pessoas no mundo convivem com algum tipo de deficiência. A falta de acessibilidade e de inclusão ainda são um grande obstáculo para a independência dos deficientes. Isa vive essa realidade. “Preciso sempre planejar detalhadamente o que preciso levar ou fazer, caso eu não tenha ninguém por perto para ajudar. Muitas vezes, preciso cancelar planos, porque como necessito da ajuda dos meus pais ou de um cuidador, às vezes eles não têm disponibilidade; aí não tem como eu me virar”. Ela comenta que a cidade de Lorena possui muitas ruas com paralelepípedos e as calçadas possuem muitas irregularidades; e isso dificulta muito sua independência.
Isa conta que possui algumas dificuldades para se locomover no Campus, devido à distância entre os prédios, mas encontra nos colegas e funcionários o suporte que precisa. No trajeto de ida e volta ao Campus, que fica fora da cidade, a aluna conta, durante o dia, com um transporte de apoio a pessoas com mobilidade reduzida oferecido pela USP. No Campus, atualmente, obras estão sendo realizadas a fim de atender às necessidades de pessoas com deficiências. “Já houve algumas mudanças na infraestrutura do Campus que facilitaram bastante pra mim. Na grande maioria das vezes, as minhas solicitações são atendidas”, afirma.
A presidente da Comissão de Graduação da EEL/USP, professora Elisangela Moraes, destaca que a Unidade vem se readequando há algum tempo nas questões de acessibilidade. “Desde que a Isa está na EEL, o prof. Carlos Alberto, ex-prefeito do Campus, tem, na medida do possível, realizado ajustes na parte de infraestrutura, tendo em vista a acessibilidade”. O atual prefeito do Campus, prof. Amilton Martins, diz que a Prefeitura está trabalhando para melhorar ainda mais as condições de acessibilidade da Unidade.
Resiliente, a medalhista pretende vir morar em Lorena ainda no final deste ano.
Sobre continuar no esporte, Isa pondera “Em relação ao esporte, é muito difícil conciliar os treinos com os estudos. Preciso desembolsar bastante dinheiro para me locomover de um lugar pra outro, por conta da cidade de Lorena não ser nada acessível. Então, para ir treinar em clubes ou até mesmo ir para a faculdade treinar, acabo tendo muito gasto. Gostaria muito de conseguir seguir com o Tênis de Mesa, porque é algo que me motiva, que me faz sentir feliz e capaz de muito mais coisas”.
Texto: Simone Colombo – EEL-USP
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