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Saúde em foco – Parte 4

12/12/2014

Ordem e Progresso botando tudo abaixo com muito café com leite – A favela e a revolta da vacina (que sina)!

Bota abaixo em 1904 do prefeito Pereira Passos, no Rio de Janeiro. Sem plano de habitação, os negros vindos das senzalas foram expulsos dos cortiços e subiram os morros, iniciando o processo de favelização carioca, sem infraestrutura até hoje

Enfim a República, sem escravidão e com ‘O amor por princípio e a ordem por base, o progresso por fim’… Será mesmo?
No Brasil do final do século XIX e início do século XX, os latifundiários paulistas e mineiros dominavam a política nacional, a famosa República do Café com Leite, alternando no poder, mantendo um país dominado pelo coronelismo, patriarcal e com o domínio da monocultura cafeeira paulista e da produção leiteira mineira (podia quem tinha mais e qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência). Um povo ignorante e analfabeto, trabalhando exaustivamente por um salário vergonhoso e predominantemente rural, doente e com baixa expectativa de vida, sem direitos, completava o cenário de semiescravidão, pois os fazendeiros estavam acostumados com mão de obra submissa.
A Capital da República ainda era podre de doenças e conhecida como Cidade da Morte (túmulo dos estrangeiros) e era urgente a implantação de medidas sanitárias para conter a peste bubônica (transmitida pela pulga do rato), cólera, varíola, febre amarela, tuberculose, entre outras endemias, pois a mídia não perdoava e o comércio internacional cobrava medidas mais eficazes, que o capitalismo exigia. Assim, foi criada em 1897 a Diretoria Geral de Saúde Pública.
Em 1902, o presidente valeparaibano de Guaratinguetá, Rodrigues Alves, nomeou o engenheiro Pereira Passos para a Prefeitura da Capital do Brasil – Rio de Janeiro, cuja missão era a transformação urbana e viária da cidade; e nomeou o também valeparaibano de São Luíz do Paraitinga, o sanitarista Oswaldo Cruz, para colocar a mortalidade assustadora da população. E quem era essa população?
Recém libertados da escravidão, os negros e seus descendentes saíram das senzalas e foram para as cidades. Rapidamente aumentou a população urbana e, no Rio de Janeiro, nesta época, a explosão demográfica contabilizava quase um milhão de pessoas. Analfabetos e sem profissão, eram contratados para carga e descarga dos portos, abrir valas para drenar pântanos, e todo o trabalho braçal que aparecesse. Ocuparam rapidamente os cortiços, vivendo em um cubículo diversas famílias sem água tratada, sem esgoto, sem ventilação, sem higiene, ou seja, ambiente propício para o avanço das epidemias e da tuberculose e as mortes eram constantes e rotineiras.
Pereira Passos começou a reforma urbana destruindo os casarões antigos, que se transformaram em cortiços e abrigavam essa gente toda na região central do Rio de Janeiro. Viúvas com seus filhos, idosos, doentes, do dia para noite se viram também desabrigados. Não existia um plano de novas habitações para essa gente, que foi deixada ao léu e à própria sorte. Assim como Providência Divina, foram subindo o Morro da Providência, construindo seus barracos de madeira. Assim como os soldados do governo que moraram entre as árvores favela, durante a Guerra dos Canudos, na Bahia (1895-1896), e foram construindo seus barracos, reclamando o pagamento do governo, que nunca aconteceu, ficando esse morro conhecido como o “morro da favela”, que foi virando sinônimo de toda habitação simples de uma população marginalizada.
Desta forma, os negros saíram das senzalas para os cortiços e, expulsos de lá, foram se aglomerando nas favelas, nos morros perto do centro, para facilitar o acesso ao trabalho, pois formavam a mão de obra barata, necessária para a reconstrução da Nova Cidade. E o problema sanitário saiu da visão dos ricos e estrangeiros, que frequentavam agora os teatros, cafés e as belas avenidas, para o submundo invisível, pobre e sem infraestrutura.
Em 1903, nomeado diretor geral de Saúde Pública, Oswaldo Cruz deflagrou grandes campanhas, como a Guerra aos Ratos, que rapidamente erradicou a peste bubônica; as medidas sanitárias com o Bota Abaixo de Pereira Passos, para erradicar o Mosquito Aedes aegypti, responsável pelas epidemias de febre amarela, numa campanha de casa em casa para eliminar criadouros, de forma compulsória e brusca, desagradando grandemente a população. 
Porém, em 1904, na operação aos moldes militar da vacinação compulsória contra a varíola, os jornais lançaram uma campanha contra a medida, o Congresso protestou e foi organizada a Liga contra a vacinação obrigatória. No dia 13 de novembro, estourou a “Revolta da Vacina” e, no dia 14, a Escola Militar da Praia Vermelha se levantou. O Governo derrotou a rebelião, mas suspendeu a obrigatoriedade da vacina.
Revolta da Vacina no Rio de Janeiro, em novembro de 1904

Oswaldo Cruz venceu e provou estar certo, tanto que, em 1907, a febre amarela foi erradicada da cidade e, num surto de varíola em 1908, a população procurou os postos de vacinação voluntariamente.
Apesar de ter sido necessária uma revolução, finalmente os brasileiros começaram a entender a importância e a necessidade das medidas sanitárias, entrando numa fase de menos superstições e ignorância. A ciência desponta em detrimento do misticismo. 

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