Ali estava dona Vera Molinari contando para o filho Ércio, que gostava de colecionar fotos da Lorena antiga, as histórias da sua meninice.
Ela já era bastante idosa, mas nunca se esquecia de um tempo em que era apenas uma menina de uns doze anos e morava numa daquelas casas velhas da rua onde se ergue a Escola do Patrocínio de São José.
Corria a década de 20. Ela e sua amiga “Maria Coruja” gostavam muito de brincar na Praça da Matriz, onde se erguia, imponente, o casarão onde morava o dr. Arnolfo Rodrigues de Azevedo.
– Parece que foi ontem! – ela estava dizendo ao Ércio. – Eu chegava bem de mansinho até a casa do doutor Arnolfo e o encontrava, nos fins de semana, infalivelmente sentado no alto da entrada lateral, logo acima dos três degraus de pedra. Ele gostava de ler jornais ali, displicentemente sentado na soleira da porta.
Dona Vera continuou contando:
– Eu chegava perto e logo ia pedindo para que ele me desse uma moeda para comprar um pirulito.
O dr. Arnolfo, distraindo a atenção do jornal, olhava para todos os lados e escorregava-lhe uma moeda entre os dedos. Toda essa cautela, dizia a dona Vera ao Ércio, devia-se ao fato de ser a mulher do político lorenense muito comedida nos gastos domésticos.
– Quando eu me tornei mais moça, o dr. Arnolfo e a sua mulher, dona Dulcita, levavam-me junto com a Maria “Coruja”, para o Rio de Janeiro, onde ele possuía um casarão antigo, daqueles de chão de tábuas rangendo – disse ela ao filho. E continuou: – Nós íamos para lá a fim de ajudá-la a cuidar dos afazeres da casa.
– Pois a dona Dulcita – dizia dona Vera Molinari – tinha um irmão meio ruim da cabeça que nos metia medo. De noite, o Arquibaldo (era esse o seu nome), que devia sofrer de insônia, ficava andando como uma alma penada naquele assoalho rangente, enchendo de pavor as duas moças. Num daqueles dias, ela e a Maria “Coruja” tomaram coragem e contaram à dona Dulcita que à noite, as duas dormiam abraçadas, transidas de medo do seu irmão amedrontador.
– O pobre rapaz, relembrava dona Vera, naquele dia levou uma grande bronca do seu ilustre cunhado:
– Ó Arquibaldo, pare de perambular de madrugada pela casa! Assim você assusta as moças!
Olavo Rubens Leonel Ferreira é formado em Direito, Ciências Sociais e Pegagogia. É mestre em Educação. Lecionou na Universidade de Taubaté, na Faculdade de Direito de Lorena, nas Faculdades Integradas de Cruzeiro, nas Faculdades Teresa D´Ávila de Lorena e no Anglo Vestibulares. Escreve muito; tem uma meia dúzia de livros publicados e a maior parte do que produziu ainda é inédita. Durante alguns anos publicou crônicas sobre Lorena no saudoso Guaypacaré, dos seus amigos João Bosco e Carolina. Mora em São Paulo.
Uma história pode ser contada de diversas maneiras e sob ângulos diferentes. Foi o que aconteceu com o relato do acidente que vitimou o Conde Moreira Lima e seu cocheiro, […]
Era um sobrado realmente original aquele de número 213 da rua Dr. Rodrigues de Azevedo, em Lorena. Nos meus tempos de moço, ele era pintado de azul forte, as janelas […]
Existe uma árvore copada no jardim da praça Dr. Arnolfo Azevedo que fica bem defronte ao Clube Comercial de Lorena. Ela produz frutos estranho e duros – umas bolas verdes […]
Estamos em pleno aniversário dos quinze anos do Wander Pinto de Oliveira, filho do seu Pintinho e da dona Lurdi, que faz bolos maravilhosos. Neste momento, pararam a música da […]
Colégio do Estado, na rua Viscondessa de Castro Lima, no antigo solar do Conde Moreira Lima. Neste ano eu estou cursando o primeiro científico, pois ainda não foi criado o […]
Esta é a Papelaria Zappa. O seu dono é aquele homem taciturno que vocês vêem sentado lá dentro, atrás de uma escrivaninha. O filho dele, o Marco, é meu amigão. […]
Ano de 1954. Aula de redação no terceiro ano no Grupo Escolar Gabriel Prestes. A professora é a dona Florentina, mulher do sr. Milton Areco, pessoa muito conhecida na cidade. […]