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COLUNISTAS / Perai, vem cá

Leitura é como um jantar

19/03/2015

LIVROS NA MESA e alguns papéis jogados ao chão. Mero cenário de um leitor um pouco mais além da voracidade leitora. Em miúdos, o mais fascinado pela leitura em si. Em outros ambientes: alguns livros guardados e um ou outro jogado, mas não é o de cabeceira. Mero cenário de um leitor apreciado pela leitura, porém não fascinado. 
São realidades verdadeiras que me deparo devido às experiências juvenis e dos meus tempos de escola. Confronto-me com a frase “eu não gosto de ler”, a qual escuto quase que diariamente como uma Lana Del Rey que insisto em tocar no meu tablet. A esse tipo de frase profiro, em pensamentos, “você gosta de ler, apenas não faz disto um hábito”. Ler, todos aprendemos, assim como a prática do falar. Diria que para este tipo de afirmações que escuto proferida de uma fisionomia em que os olhos se contorcem e os lábios tentam “enojar” o tom da voz, é que, se o sujeito não gosta de ler, ele não gostaria nem de falar, tendo em vista de que aprendera ambas as atividades motoras em seu período de alfabetização. 
Mas não poderia me usufruir da hipocrisia e dizer que o hábito de leitura é uma realidade igual em nosso atual sistema social. Infelizmente, não é. Nem para mim que trabalho constantemente cercado de livros e autores célebres para as minhas defesas científico-literárias. Criar hábitos de leituras é o Machado de Assis que a maioria dos professores de Língua Portuguesa e Literatura concentram aulas para expor o “célebre” das letras aos seus alunos do ensino médio. O rebuscamento complexo de Machado é como um prato gourmet dado a um indivíduo que não está acostumado com uma culinária refinada e ao mesmo tempo é a surpresa de se saborear a nata – suprema – da literatura brasileira. Eis que prevejo conflitos. Para os praticantes do cenário de livros na mesa e papéis no chão, Machado será de extremo agrado, para os demais do segundo cenário que mencionei, será um desagrado; torcerão o nariz, lerão, invocarão as dificuldades e no final dirão que “aprender literatura é chato”. Tal qual como o cliente que nunca experimentara uma refeição mais rebuscada em algum restaurante frequentado pela alta sociedade paulistana na capital paulista. 
O amor machadiano se resume em suas fases romancista e realista que me caberiam um pouco mais de profundidade, haja vista que a minha pessoalidade com este tema está sendo rebuscada. Embebedo-me do ultrarromantismo de Álvares de Azevedo (segunda fase romântica da literatura brasileira), ao passo que tomo altas doses do modernismo brasileiro e estrangeiro. Bandeira e Bukowski circulam pela minha estante, assim como Rubem Braga e Drummond. Repare nas minhas escolhas múltiplas e diferentes, pelo simples motivo de a todo o tempo descobrir o novo e me aprofundar no surpreendente. Não leio por autores, leio por temas e concluo que cada autor traça sua linha tênue acerca dos temas. O amor de Bandeira me fascina pela racionalidade, um pouco mais árdua em Bukowiski, sentimentalizadaem versos de Drummond e simples em alguns contos de Rubem Braga e Fernando Sabino, a constar. E o que levo para “os que não gostam de ler” são eles e ademais pensantes de meados do século XX, mais próximos de mim e dos pensadores de plantão. Os temas são os mesmos, os autores, nem tanto. Alguns se parecem tanto que me perco na avaliação. 
Em termos culinários – a julgar pela minha humilde mãe (futura nutricionista) e auxiliar de chefe de cozinha – preparo o prato de entrada para os leitores recém-aguçados nos paladares. Os autores clássicos são o prato principal e de sobremesa, as músicas mesclam a intertextualidade. Eis a construção da leitura no indivíduo. Como quem irá jantar especialmente em um restaurante aconchegante. Realeza e luxo não são necessários para estes leitores. Aliás, creio que nem para toda a civilização. O belo está no simples e não nas tentativas de enriquecer o que deve ser simples.
E, em especial, aos leitores que “expõem” suas leituras complexas como uma lista para atrair os olhares de um público específico (amigos e colegas), mas que na neutra realidade da lista não se lera nem a metade: 
Leitura e Literatura não se expõem, se vive. 
E se saboreia como os jantares de todos os dias.  
Sobre o autor:
Danilo Passos é escritor, roteirista e graduando em Letras pela Fatea e pesquisador do PIBIC – CNPq com pesquisas nas áreas de Estudos Literários e Educação. Algumas de suas pesquisas foram premiadas em congressos, como na Fatea e na Universidade Federal de Itajubá – Unifei. Em 2014, ganhou o X Festival Gato Preto de Lorena com o curta-metragem “Álvares”, inspirado em fragmentos poéticos de Álvares de Azevedo. 
Em 2015, relançará o seu romance “O Magnata do Tempo (2012 / Perse)” e lançará o livro “Sussurros e outros contos”. Em maio, proferirá um curso de “contos e narrativa literária” na Biblioteca Municipal de Pindamonhangaba, cidade onde reside. É ocupante da cadeira de número 12, cujo patrono é o escritor Gabriel Prestes. Para contatos, deixa seu Facebook: facebook.com/odanilopassos.
Esse texto é de exclusiva responsabilidade do autor. A AJLL não se responsabiliza pelas possíveis opiniões aqui apresentadas. Respeitamos a criação literária de cada autor, difundindo linguagem literária de linguagem gramatical, em textos que julga ser necessário

COLUNISTAS / Academia Jovem de Letras

Espaço reservado às produções dos acadêmicos da Academia Jovem de Letras de Lorena.  Membros da AJLL: Beatriz Neves, Camila Loricchio, Danilo Passos, Gabriela Costa, Gustavo Alves, Gustavo Diaz, Heron Santiago, Isnaldi Souza, Jéssica Carvalho, João Palhuca, Julia Pinheiro, Lelienne Ferreira, Lucca Ferri, Samira Tito, Thiago Oliveira, Vânia Alves e Wagner Ribeiro.


samira_007_@hotmail.com

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